'Perdi um filho, mas a informação salvou minha segunda gestação'
"Tive um parto prematuro em 2019 devido a uma IIC (insuficiência istmocervical) não diagnosticada. Falando grosseiramente, o colo do meu útero não aguenta o peso de um bebê, mas, quando engravidei do Miguel, não sabia disso. Achava que bastava confiar no médico e só pensava em comprar roupinha. Vivi outras questões, como ser demitida do lugar em que eu trabalhava durante a gestação — não sabia que era contra a lei e não fui atrás de meus direitos.
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Com 23 semanas de gestação, o colo se abriu completamente e eu dei entrada no hospital com 10 cm de dilatação, bebê encaixado. Tive parto natural e Miguel pesava apenas 600g. Ficou dois dias vivo na UTI.
Depois de ter perdido um filho, usei meu luto para estudar sobre a minha condição. Eu pesquisava muito sobre a IIC, lia tudo e via vídeos de blogueiras que haviam passado pela mesma situação. Eu sentia um vazio, a falta do maternar, mas passei essa fase toda consumindo informação.
A situação era diferente quando engravidei do Cristian, em 2021. Estava em outro emprego e a equipe recebeu muito bem a notícia de minha gravidez. Já sabia que era preciso fazer uma cerclagem, uma sutura no colo do útero na porção vaginal — o procedimento foi realizado com 11 semanas.
Nas três semanas seguintes, fiquei em repouso absoluto, com as pernas para cima. Não podia levantar para nada e contei com a ajuda da minha família. Mas a vida foi tranquila nessa fase: todo mundo sabia que minha gestação era de alto risco e tentava ajudar e eu, enquanto isso, fugia de conteúdo sobre gestações que não deram certo ou qualquer tristeza.
Por algum tempo, achei que se tivesse evitado subir escadas ou fazer esforços, não teria perdido meu primeiro filho. Depois entendi que eu não era a culpada, a culpa era do sistema que não estava preparado para atender gestações de alto risco. Mesmo quando cheguei ao hospital, tive que brigar para convencer a equipe médica de que estava em trabalho de parto prematuro. Por isso, defendo que as gestantes precisam se informar. Se soubesse na primeira gravidez tudo o que sabia na segunda, talvez a história tivesse sido outra.
Dos seis meses de gestação até a 35ª semana, fiquei muito apreensiva, porque era mais ou menos a mesma época em que tive o parto prematuro do Miguel. Deixei de visitar pessoas, ir às festas e praticamente não saía de casa. Quando a barriga começou a pesar mais, fui ficando ainda mais tensa. Mas depois da 35ª, quando sabia que o bebê estava formado, fiquei mais calma.
No trabalho, tudo ocorreu da melhor forma possível. Fiz home office em grande parte do tempo e sempre compreendiam quando tinha que fazer exames.
Gestantes escutam muitas coisas — pitacos conscientes ou falas preconceituosas. Eu não sou muito aberta a isso e, como pesquiso muito esse assunto, já retruco. Sempre tem alguém que dizia: 'Por que não marca logo a cesárea?' E eu respondia que não queria, que queria ter parto normal. Informação é a melhor coisa para a gestante: fale com médico, leia relatos, confie na ciência.
Claro que passava pela minha cabeça se ia acontecer a mesma coisa outra vez. 'Será que dessa vez terei meu filho?' Mas procurei ocupar a cabeça com as leituras, com a arrumação do quarto e a organização do chá de bebê.
Quanto mais cedo se descobre a IIC, maior a chance de parto saudável. Eu me segurava nisso e seguia com o médico particular especializado nisso e o acompanhamento do SUS, que foi fantástico. Tive covid no fim da gestação e toda a equipe médica da rede pública foi muito atenciosa — muito diferente da primeira gestação, quando sinto que fui negligenciada e sofri violência obstétrica.
No fim da gravidez do Cristian, eu estava muito preparada para um parto normal. Com 39 semanas e 5 dias, o médico achou melhor induzir: tive as dores do parto, feliz da vida, empenhada em que ele nascesse. Passei oito horas assim, mas depois de algum tempo o coração do bebê oscilou e os médicos acharam melhor eu ir para a cesárea. Eu estava com 8 cm de dilatação, mas o bebê ainda não havia descido nada. Fiquei muito frustrada, mas em 20 minutos meu filho já havia nascido. Não gosto muito de falar disso porque nas duas semanas seguintes eu fiquei deprimida — queria muito ter conseguido o parto natural.
Se futuramente eu engravidar de novo, vou tentar de todo jeito não induzir e esperar o tempo do bebê. Teria mudado algumas coisas no parto. Todo o resto foi muito tranquilo, desde a amamentação até agora.
Ler livros, ver relatos e procurar informações até encontrar o médico que corresponda a seus anseios é primordial. Qualquer pessoa pode passar por dificuldades, mas é possível se livrar disso se souber o que está acontecendo."
Katlyn Gonçalves dos Santos, 23 anos, assessora de imprensa, é mãe de Cristian, de 1 ano