Funk mandelão das favelas de SP anima Recife no 1º dia do festival Rec-Beat
A noite do sábado (10) de Carnaval marcou a abertura da 28ª edição do festival Rec-Beat, ponto famoso pela diversidade musical e pelo viés alternativo no meio da folia do Recife.
O que aconteceu?
O festival Rec-Beat reuniu shows de funk, rap, MPB e música latina. O festival é gratuito e segue até a terça-feira no Cais da Alfândega, no Recife.
À 0h40, subiu ao palco o DJ K o Bruxo, uma das atrações mais esperadas da noite. O artista é um dos principais nomes do mandelão, vertente mais eletrônica do funk que domina as favelas de São Paulo. Músicas como "Isso Não é um Teste" fizeram o público vibrar, levando ao Recife o clima do baile do Heliópolis, onde o DJ construiu sua carreira.
No ano passado, o DJ lançou o álbum "Pânico no Submundo". O disco recebeu elogios da crítica musical internacional e o levou a uma turnê pela Europa.
"Eu nunca tinha vindo para o Nordeste. Para mim, isso é furar uma bolha. O funk mandelão, bruxaria é um movimento muito de São Paulo e agora estamos indo para novos lugares do Brasil e do mundo"
DJ K o Bruxo
O DJ aproveitou para mostrar músicas que estarão em seu futuro álbum, com lançamento previsto para o fim do mês. "Fiz esse álbum em parceria com a [produtora] Love Funk e vai chamar 'O Fim'. É inspirado nos conflitos do mundo atual, guerras, teorias da conspiração, guerras. Tem um som muito caótico, como a nossa realidade de hoje", contou ele.
Da Itália para o Brasil
O cantor e compositor pernambucano Walter de Afogados foi outro destaque do festival. Sua música é embalada pela cúmbia, merengue e outros ritmos latinos, sendo um precursor do movimento brega. Ele é autor de um grande hit da música brasileira: "Morango do Nordeste", lançada pelo artista em 1986 e regravada pelo grupo de pagode Karametade em 2000.
Os primeiros álbuns de Walter são raridades disputadas pelos colecionadores. Com esta apresentação, o cantor se mostra para uma nova geração, que ainda não o conhece. Durante o show, um fã segurava um cartaz dizendo que saiu da Itália para Walter no palco.
Quando cheguei, vi a cara do pessoal e é muito diferente do que estou acostumando. Uns italianos vieram falar comigo, vieram diretamente daquele país. Eu me sinto uma estrela do brega pernambucano.
Walter de Afogados
Rodas punk
O rapper baiano Vandal apresentou-se ao lado da banda Bagum. Combinando influências do pagode baiano e hip hop, ele homenageou Chico Science tocando "Monólogo ao Pé do Ouvido" (de Chico Science & Nação Zumbi) e fez o público formar rodas punk ao som de "Balah Ih Fogoh", que foi incluída na trilha sonora da série "Cangaço Novo".
A responsável por abrir a programação foi a DJ colombiana Loa Malbec. Ela iniciou o show às 19h30 e animou o público com uma seleção de salsa, cúmbia e latinidades.
Nome emergente da nova MPB, o pernambucano Ivyson reuniu um pequeno mas engajado grupo de fãs. Eles cantaram todas as suas letras, em especial "Girassol", carro-chefe do repertório do cantor, que encerrou a apresentação.
Ao fim do show, Ivyson dedicou uma mensagem de superação ao público. "Estou tocando em um palco que eu queria assistir. Se eu consegui sair da favela, da comunidade, da periferia e estar aqui, vocês também conseguem."
"O Rec-Beat é um pluriculturalismo do caralho. Traz artistas do underground, que não são ouvidos por tanta gente, e joga holofotes para eles também", celebra o assistente administrativo Lucas Demétrio, que foi ao festival assistir a Walter de Afogados e Ivyson. "No Recife tem o Rec-Beat aqui e do outro lado tem o palco do Marco Zero com Matuê, Luiza Sonza. É o lugar pra todos os tipos de música e público".
Este ano, o Rec-Beat foi reconhecido pela Assembleia Legislativa de Recife como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. O curador Antonio Gutierrez comemora a marca.
O Rec-Beat sempre teve um olhar periférico. Começamos com o movimento manguebeat, depois passamos a olhar para o Pará, Bahia, países latinos e africanos. Por ser um festival gratuito, é mais trabalhoso conseguir patrocínios, mas temos uma liberdade maior na programação. No Carnaval, as pessoas estão buscando experiências, e o Rec-Beat entrega.
Antonio Gutierrez
Veja mais fotos dos show do 1º dia de Rec-Beat
Confira a programação do Rec-Beat, que termina na terça, dia 13
11 de fevereiro - hoje
19h00 - KAI (PE)
19h30 - NAILSON VIEIRA (PE)
20h40 - MATEUS FAZENO ROCK (CE)
21h50 - EBONY (RJ)
23h10 - ASNA (Costa do Marfim)
00h30 - RICO DALASAM (SP)
12 de fevereiro - amanhã
19h00 - DANDARONA (PE)
19h30 - YANNARA (PE)
20h40 - NIÑO DE ELCHE (Espanha)
21h50 - PÖ (Gana)
23h10 - ANA FRANGO ELÉTRICO (RJ)
00h30 - LETRUX (RJ)
13 de fevereiro - terça
19h00 - GENI (PE)
19h30 - AFOXÉ FILHOS DE DANDALUNA (PE)
20h40 - ECHOES OF ZOO (Bélgica)
21h50 - SARAH FARINA (Alemanha)
23h10 - ÁCIDO PANTERA (Colômbia)
00h30 - URIAS (MG)
Festival Rec-Beat 2024
Quando: até 13 de fevereiro a partir das 19h
Onde: Cais da Alfândega, Bairro do Recife
Quanto: Grátis
Instagram @recbeatfestival
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