Com hits, Marisa Monte seduz público e faz show espetacular no Primavera
Desde o final dos anos 1980, quando apareceu como uma bomba na MPB, Marisa Monte mantém um controle total sobre sua carreira. Faz o que quer, como quer. Para sua performance no Primavera Sound, ela mexeu um pouco no show que tem rodado o Brasil e outros países nos últimos dois anos. O resultado foi espetacular.
Em termos de repertório, isso implicou uma inclusão menor de faixas do álbum mais recente, "Portas". Embora seja mais um trabalho perto do impecável na trajetória de Marisa, é um disco que chegou numa época em que ela não ocupa mais tanto espaço na mídia. E pouco quer fazer para satisfazer a urgência informativa das redes sociais.
Assim, nem todo mundo já conhece essas músicas da última safra, e isso fica evidente num show para um público tão amplo e diverso como o que estava em Interlagos no primeiro dia do Primavera. Mesmo que "Portas", a canção, tenha sido recebida com carinho na abertura da apresentação, foi possível sentir mais curiosidade e louvação na plateia do que empolgação.
Com isso, a conexão mais poderosa com o público veio com os hits que já são clássicos da MPB. Aos primeiros acordes, músicas como "Ainda Lembro", "Beija Eu" e até canções mais contidas como "Vilarejo" e "Infinito Particular" disparam gritos histéricos dos fãs.
O sol foi embora no começo da apresentação, valorizando as luzes no palco. Criou-se uma moldura tênue e bonita para um show com nenhum recurso visual mais ousado do que as projeções no telão. O foco é a figura altiva da cantora, sua voz irretocável e o gestual amplo dos braços.
A sexta música do setlist, "Ainda bem", ganhou a primeira ovação mais demorada da plateia, logo em seguida brindada com "Beija Eu". Aliás, foram os aplausos insistentes do público que determinaram intervalos maiores entre algumas músicas. Marisa apresentou versões mais curtas do que as gravações originais de estúdio e muitas vezes emendou as canções com rapidez. Provavelmente um recurso para incluir tanta coisa boa no tempo reduzido dentro da programação do festival.
Mas Marisa teve tempo para introduzir sua banda all-star: Dadi no baixo, Pupilo na bateria, Davi Moraes na guitarra, Pretinho da Serrinha no cavaco e percussão, e Chico Brown atuando em vários instrumentos, além de uma poderosa seção de metais. Marisa e Pretinho ofereceram ao público o provável único momento de samba no Primavera, com dez minutos fantásticos emendando "Elegante Amanhecer" e "Lenda das Sereias, Rainha do Mar".
Para encerrar, uma sequência arrebatadora: "Amor, I Love You", uma de suas canções mais celebradas pelos fãs, seguida da presença de Roberto de Carvalho na guitarra para os covers de "Doce Vampiro" e "Mania de Você" para homenagear Rita Lee, e o final com "Já Sei Namorar", a mais emblemática canção tribalista. Depois dessas, a diva deixou o palco com mais uma plateia totalmente seduzida.