Contrariando estatísticas: universitária se torna a 1ª transexual aprovada na OAB em PE
Fernanda Fadel, <br>Do BOL
07/03/2016 22h48
Em fevereiro deste ano, Robeyoncé Lima despontou na mídia ao ser anunciada como a primeira universitária transexual a ser aprovada na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Estado de Pernambuco.
A universitária de 27 anos está no último ano do curso de Direito na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a 2ª faculdade que mais formou ministros em nosso país, segundo o STF (Supremo Tribunal Federal). Ingressa pelo sistema de 10% de bonificação no vestibular para alunos de escolas públicas, Robeyoncé está ajudando a mudar o cenário da instituição.
"Sinto que a minha universidade está mais aberta ao debate da diversidade e acho que tudo isso se deve ao processo da inclusão de cotas, que fez a faculdade ter mais a cara do povo, ficar mais colorida e, principalmente, mais democrática. Hoje, ando e vejo gente de todo o tipo, de todas as classes sociais, muito diferente do que eu via antes, quando entrei na UFPE", analisa Robeyoncé.
A interação com o universo acadêmico foi essencial para o processo de identificação de gênero da pernambucana. "Antes, eu me autorreprimia, então, a participação em debates dentro da universidade me deu empoderamento e foi libertador. O movimento estudantil foi crucial, pois, como diz Paulo Freire: 'Ninguém se liberta só'. O processo é coletivo", avalia.
Robeyoncé lembra ainda de momentos difíceis no início de sua vida universitária: "Eu percebia olhares que me condenavam, cochichadas, era algo velado. Pelos olhares, você acaba percebendo que não é bem-vindo no local, discriminação mesmo. Isso me incomodava um pouco, cheguei a pensar até em desistir da faculdade, mas eu segui minha vida e não desanimei."
Além da rotina acadêmica, Rob - como é chamada pelos amigos - também se libertou para a vaidade: "O melhor momento do dia para mim é quanto eu me pinto, quando eu boto meu salto alto, meu batom nos lábios. É algo que me deixa mais satisfeita. Não importa o que as pessoas vão falar quando eu estiver andando na rua".
Em tempo, a pernambucana conta que seu nome social foi obtido em 2015 e é uma união de seu nome de batismo, José Robemar, com o da artista Beyoncé, que ela tanto admira. "O nome social é um avanço importante porque está colocando em questão a visibilidade da pessoa humana. Mas ainda há muito a se fazer. Falta, por exemplo, colocar o nome social nos documentos civis. Eu sou Robeyoncé Lima apenas na universidade, mas para a sociedade eu ainda tenho meu nome de batismo. Então, fico com vergonha de mostrar meu documento", desabafa.
A vivência da ultimanista de direito a incentivou com uma causa importante pela qual irá lutar quando for advogada: "Pretendo ajudar as meninas e meninos nessa retificação do nome. Digamos que essa pauta seja a minha prioridade".
Dona do título de primeira transexual aprovada na OAB de seu Estado, Robeyoncé lamenta a falta de compreensão com a diversidade de identificação de gêneros na sociedade e encoraja os transexuais: "Nesse mundo em que a gente vive, a transexualidade de uma maneira geral é hostil. Muitas vezes existem pessoas transexuais homens e mulheres que têm currículo perfeito, mas não são aceitos no mercado de trabalho justamente pela condição de transexualidade. E eu espero que a minha conquista estimule outros transexuais para que eles sigam com foco seus objetivos. Se eu puder dar um conselho em uma palavra é: insista!".
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