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CORREÇÃO-Líderes do Brics defendem o multilateralismo em cúpula no Rio

06/07/2025 09h17

(Corrige 6º parágrafo para esclarecer que Arábia Saudita não se juntou formalmente ao Brics. Este erro também ocorreu em versões anteriores. Corrige 9º parágrafo para trocar primeiro-ministro para premiê)

Por Lisandra Paraguassu e Manuela Andreoni

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os líderes do grupo Brics de nações em desenvolvimento condenaram os ataques a Gaza, Irã e Caxemira durante reunião de cúpula neste domingo no Rio de Janeiro, apresentando o bloco como um defensor da diplomacia multilateral e criticando indiretamente os Estados Unidos por sua política tarifária e atuação militar.

Com fóruns como o G7 e o G20 -- os grupos das principais economias do mundo -- prejudicados por divisões e pela abordagem "America First" do presidente dos EUA, Donald Trump, a expansão do Brics abriu um novo espaço para a coordenação diplomática.

Em seu discurso de abertura da cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um paralelo com o Movimento dos Países Não-Alinhados da Guerra Fria, um grupo de nações em desenvolvimento que resistiam a se unir formalmente a qualquer um dos lados de uma ordem global polarizada.

"O Brics é herdeiro do Movimento Não-Alinhado. Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque", afirmou.

As nações do Brics agora representam mais da metade da população mundial e 40% de sua produção econômica, observou Lula.

O Brics original reuniu os líderes do Brasil, Rússia, Índia e China em sua primeira cúpula em 2009. Posteriormente, o bloco acrescentou a África do Sul e, no ano passado, incluiu Egito, Etiópia, Indonésia, Irã e Emirados Árabes Unidos como membros plenos. A Arábia Saudita adiou a adesão formal, segundo fontes. Esta é a primeira cúpula de líderes a incluir a Indonésia.

"O vácuo deixado pelos outros acaba sendo preenchido quase que instantaneamente pelos Brics", disse um diplomata brasileiro que pediu para não ser identificado. Embora o G7 ainda concentre grande poder, acrescentou a fonte, "ele não tem a predominância de outrora".

No entanto, há dúvidas sobre as metas compartilhadas por um grupo cada vez mais heterogêneo, que cresceu e passou a incluir rivais regionais, além das principais economias emergentes.

Tirando um pouco do sucesso da cúpula deste ano, o presidente chinês, Xi Jinping, optou por enviar seu premiê em seu lugar. O presidente russo, Vladimir Putin, participará remotamente devido a um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI).

Ainda assim, muitos chefes de Estado se reunirão para discussões no Museu de Arte Moderna do Rio no domingo e na segunda-feira, incluindo o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.

Mais de 30 nações manifestaram interesse em participar do Brics, seja como membros plenos ou parceiros.

INFLUÊNCIA CRESCENTE

A expansão do Brics adicionou peso diplomático grupo, que aspira a falar pelas nações em desenvolvimento em todo o Sul Global, fortalecendo os pedidos de reforma de instituições globais, como o Conselho de Segurança da ONU e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século 21, cabe ao Brics contribuir para sua atualização", disse Lula em seu discurso, que destacou o fracasso das guerras lideradas pelos Estados Unidos no Oriente Médio.

Em uma declaração conjunta divulgada na tarde deste domingo, os líderes condenaram ataques militares contra o Irã, Gaza e a Caxemira administrada pela Índia.

Sobre o comércio, a declaração conjunta alertou que o "aumento indiscriminado de tarifas" ameaça o comércio global, mantendo a crítica velada do grupo às políticas tarifárias dos EUA sob Trump.

O grupo manifestou seu apoio para que Etiópia e Irã ingressem na Organização Mundial do Comércio (OMC), ao mesmo tempo em que pediu a restauração urgente da capacidade da organização de resolver disputas comerciais.

A declaração conjunta dos líderes apoiou planos para testar uma iniciativa de Garantias Multilaterais dos Brics no âmbito do banco de fomento do grupo, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a fim de reduzir os custos de financiamento e impulsionar investimentos nos Estados-membros, conforme antecipado pela Reuters na semana passada.

O Brasil, que também sediará a cúpula climática da ONU COP em novembro, aproveitou os dois encontros para destacar a seriedade com que as nações em desenvolvimento estão lidando com as mudanças climáticas, enquanto Trump freou as iniciativas climáticas dos EUA.

Tanto a China quanto os Emirados Árabes Unidos sinalizaram, em reuniões com o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, no Rio de Janeiro, que planejam investir no Fundo Florestas Tropicais para Sempre, de acordo com duas fontes com conhecimento das discussões sobre o financiamento da conservação de florestas ameaçadas de extinção em todo o mundo.