CORREÇÃO-Líderes do Brics defendem o multilateralismo em cúpula no Rio
(Corrige 6º parágrafo para esclarecer que Arábia Saudita não se juntou formalmente ao Brics. Este erro também ocorreu em versões anteriores. Corrige 9º parágrafo para trocar primeiro-ministro para premiê)
Por Lisandra Paraguassu e Manuela Andreoni
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os líderes do grupo Brics de nações em desenvolvimento condenaram os ataques a Gaza, Irã e Caxemira durante reunião de cúpula neste domingo no Rio de Janeiro, apresentando o bloco como um defensor da diplomacia multilateral e criticando indiretamente os Estados Unidos por sua política tarifária e atuação militar.
Com fóruns como o G7 e o G20 -- os grupos das principais economias do mundo -- prejudicados por divisões e pela abordagem "America First" do presidente dos EUA, Donald Trump, a expansão do Brics abriu um novo espaço para a coordenação diplomática.
Em seu discurso de abertura da cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um paralelo com o Movimento dos Países Não-Alinhados da Guerra Fria, um grupo de nações em desenvolvimento que resistiam a se unir formalmente a qualquer um dos lados de uma ordem global polarizada.
"O Brics é herdeiro do Movimento Não-Alinhado. Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque", afirmou.
As nações do Brics agora representam mais da metade da população mundial e 40% de sua produção econômica, observou Lula.
O Brics original reuniu os líderes do Brasil, Rússia, Índia e China em sua primeira cúpula em 2009. Posteriormente, o bloco acrescentou a África do Sul e, no ano passado, incluiu Egito, Etiópia, Indonésia, Irã e Emirados Árabes Unidos como membros plenos. A Arábia Saudita adiou a adesão formal, segundo fontes. Esta é a primeira cúpula de líderes a incluir a Indonésia.
"O vácuo deixado pelos outros acaba sendo preenchido quase que instantaneamente pelos Brics", disse um diplomata brasileiro que pediu para não ser identificado. Embora o G7 ainda concentre grande poder, acrescentou a fonte, "ele não tem a predominância de outrora".
No entanto, há dúvidas sobre as metas compartilhadas por um grupo cada vez mais heterogêneo, que cresceu e passou a incluir rivais regionais, além das principais economias emergentes.
Tirando um pouco do sucesso da cúpula deste ano, o presidente chinês, Xi Jinping, optou por enviar seu premiê em seu lugar. O presidente russo, Vladimir Putin, participará remotamente devido a um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Ainda assim, muitos chefes de Estado se reunirão para discussões no Museu de Arte Moderna do Rio no domingo e na segunda-feira, incluindo o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.
Mais de 30 nações manifestaram interesse em participar do Brics, seja como membros plenos ou parceiros.
INFLUÊNCIA CRESCENTE
A expansão do Brics adicionou peso diplomático grupo, que aspira a falar pelas nações em desenvolvimento em todo o Sul Global, fortalecendo os pedidos de reforma de instituições globais, como o Conselho de Segurança da ONU e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século 21, cabe ao Brics contribuir para sua atualização", disse Lula em seu discurso, que destacou o fracasso das guerras lideradas pelos Estados Unidos no Oriente Médio.
Em uma declaração conjunta divulgada na tarde deste domingo, os líderes condenaram ataques militares contra o Irã, Gaza e a Caxemira administrada pela Índia.
Sobre o comércio, a declaração conjunta alertou que o "aumento indiscriminado de tarifas" ameaça o comércio global, mantendo a crítica velada do grupo às políticas tarifárias dos EUA sob Trump.
O grupo manifestou seu apoio para que Etiópia e Irã ingressem na Organização Mundial do Comércio (OMC), ao mesmo tempo em que pediu a restauração urgente da capacidade da organização de resolver disputas comerciais.
A declaração conjunta dos líderes apoiou planos para testar uma iniciativa de Garantias Multilaterais dos Brics no âmbito do banco de fomento do grupo, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a fim de reduzir os custos de financiamento e impulsionar investimentos nos Estados-membros, conforme antecipado pela Reuters na semana passada.
O Brasil, que também sediará a cúpula climática da ONU COP em novembro, aproveitou os dois encontros para destacar a seriedade com que as nações em desenvolvimento estão lidando com as mudanças climáticas, enquanto Trump freou as iniciativas climáticas dos EUA.
Tanto a China quanto os Emirados Árabes Unidos sinalizaram, em reuniões com o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, no Rio de Janeiro, que planejam investir no Fundo Florestas Tropicais para Sempre, de acordo com duas fontes com conhecimento das discussões sobre o financiamento da conservação de florestas ameaçadas de extinção em todo o mundo.