Cúpula do Brics começa hoje com multilateralismo e IA em evidência

A Cúpula do Brics, que começa hoje no Rio de Janeiro, terá multilateralismo e inteligência artificial no centro das discussões —temas já destacados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em eventos que antecederam o encontro anual, realizados na sexta-feira e ontem.
Líderes do bloco que hoje reúne 11 países e dez membros parceiros participam do encontro para debater assuntos econômicos, tecnológicos e políticos de interesse comum.
O que aconteceu
Lula defendeu uma "governança multilateral" para IA. Ontem, enquanto discursava no Fórum Empresarial do Brics, o presidente afirmou que, se não houver regras claras e definidas em conjunto, os modelos de negócio das grandes empresas de tecnologia dominarão a forma como as ferramentas de inteligência artificial são usadas.
Presidente falou em "riscos" e "efeitos colaterais" da tecnologia. O Brasil, que preside a Cúpula do Brics deste ano, tem defendido que os países do bloco adotem regras em comum para garantir transparência e segurança no uso das IAs.
Petista também sugeriu um "novo modelo de desenvolvimento". Ele afirmou que os países do Brics podem liderar uma estratégia de avanço econômico focada em agricultura sustentável, indústria verde e biocombustíveis.
Críticas à lógica da austeridade adotada por instituições internacionais. Na sexta-feira, no Encontro Anual do Conselho de Governadores do Novo Banco de Desenvolvimento, o chamado Banco dos Brics, o presidente brasileiro afirmou ser possível criar "um novo modelo de financiamento, sem condicionalidade", diferente daquele baseado em exigências que, afirmou, "levaram os países a ficar mais pobres". Ele ainda citou a criação de uma nova moeda de comércio.
A discussão sobre a necessidade de uma nova moeda de comércio é extremamente importante. É complicado, eu sei. Tem problemas políticos, eu sei. Mas se a gente não encontrar uma nova fórmula, a gente vai terminar o século XXI igual a gente começou o século XXI. E isso não será benéfico para a humanidade.
Lula
Fernando Haddad defendeu a aposta em uma "reglobalização sustentável". Para o ministro da Fazenda, que discursou na reunião de ministro das Finanças e governadores de Bancos Centrais do Brics, ontem, "não há solução individual para os desafios do mundo contemporâneo". Por isso, defendeu o multilateralismo.
Esse novo multilateralismo nada mais é do que uma 'reglobalização sustentável', uma nova aposta na globalização, dessa vez baseada no desenvolvimento sustentável, econômico e ambiental da humanidade como um todo.
Fernando Haddad
O ministro também defendeu avanços na cooperação tributária internacional. Segundo ele, o compromisso do Brics de apoiar a criação de uma convenção da ONU é um passo decisivo para a construção de um sistema fiscal global "mais inclusivo, justo, eficaz e representativo - uma condição para que os super-ricos do mundo todo finalmente paguem sua justa contribuição em impostos".
Brics fez declaração conjunta em apoio à convenção da ONU. A fala de Haddad se refere ao texto, divulgado ontem, no qual o bloco defende uma nova arquitetura tributária global baseada em equidade, soberania e justiça fiscal. O Brics destaca a importância de tributar "pessoas físicas de alto patrimônio líquido".
A Cúpula do Brics começa às 9h30. A primeira atividade é uma cerimônia oficial de chegada dos chefes de Estado. Durante o dia, haverá ainda uma plenária sobre paz e segurança, debate sobre multilateralismo, economia e inteligência artificial.
Presidentes da China e da Rússia estarão ausentes. Dos líderes que compõem o bloco, apenas Xi Jinping e Vladimir Putin não compareceram. O presidente chinês será representado pelo primeiro-ministro Li Qiang, e o líder russo participará por videoconferência — Moscou enviou o chanceler Sergey Lavrov. As ausências foram interpretadas pelo jornal The Guardian como um sinal de possível enfraquecimento do grupo.
O Brics é um bloco que reúne representantes de 11 países membros permanentes. São eles Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Os 11 países representam 39% da economia mundial, 48,5% da população do planeta e 23% do comércio global. Em 2024, países do Brics receberam 36% de tudo que foi exportado pelo Brasil, enquanto nós compramos desses países 34% do total do que importamos.