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"O fim do regime no Irã parece próximo", acredita Nobel da Paz iraniana em entrevista à RFI

24/06/2025 12h38

A advogada iraniana, militante dos direitos humanos e Prêmio Nobel da Paz em 2003, Shirin Ebadi, concedeu uma entrevista exclusiva à RFI nesta segunda-feira (23). Ela pede negociações de paz efetivas para alcançar o fim do conflito entre Irã e Israel, com a participação dos Estados Unidos, e prevê que apenas uma insurreição do povo iraniano levaria à queda do regime de Teerã, que acredita próxima. 

Shirin Ebadi, falou ao jornalista Arnaud Pontus da RFI antes do acordo de trégua entre Irã e Israel, anunciado pelo presidente Donald Trump na última noite e já desrespeitado pelos dois países. Ela esperava que após os ataques americanos contra instalações nucleares iranianas, Teerã não cedesse "à vingança" para evitar uma escalada ainda maior do conflito, que não "seria de interesse do próprio país". 

"O Irã deveria saber que não tem outra escolha a não ser fazer a paz", enfatizou, lembrando que todas as forças nucleares do país foram praticamente aniquiladas". A Nobel da Paz, exilada em Londres desde 2009, ressaltou ainda que "as forças que apoiam grupos terroristas não têm mais razão de ser". 

Shirin Ebadi pede uma mudança efetiva de atitude do regime que desde a sua fundação, há 46 anos, orientou sua política externa visando a destruição de Israel. "O pior é que em 46 anos não previram" e nem se prepararam para essa guerra. Ela faz referência à falta de abrigos para o povo iraniano que não tem onde se proteger durante os ataques. 

Levante popular 

Na opinião da militante iraniana, o fim do "regime está próximo", mas essa mudança não virá pela força das armas ou por uma intervenção externa.

"O fim do regime dos aiatolás só ocorrerá através de protestos populares, como o movimento "Mulheres, Vida, Liberdade".

Em 2022, essa onda de manifestações levou milhares de pessoas às ruas do Irã após a morte da jovem Mahsa Amini, que estava sob custódia policial. Os protestos foram violentamente reprimidos. 

Ao discutir a possibilidade de um novo levante popular agora, Ebadi avalia que a sociedade civil iraniana está "profundamente insatisfeita", está preparada e "espera apenas o bom momento" para se mobilizar novamente. No entanto, ela reconhece que, em meio aos bombardeios, "quem se atreveria a sair às ruas?". 

Enquanto isso, ela espera que o regime aceite "as negociações que são, sem dúvida, sempre melhores do que a guerra, a destruição das infraestruturas do país" e a morte de civis. 

Por fim, ela expressou a esperança de que "a democracia" volte ao país, pois se 'o regime permanecer no poder, ele continuará com a mesma política e repressão". 

Imprensa francesa aposta em queda do regime iraniano 

O jornal Le Figaro chama de "perigosa escalada" a retaliação do Irã na noite de segunda-feira aos bombardeios americanos contra três bases militares da república islâmica no domingo (22). O diário está preocupado com a intenção do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de destituir o atual regime iraniano, que considera incapaz de gerenciar o país. 

Le Figaro lembra que outros membros da administração republicana, como o vice-presidente JD Vance, afirmaram que os Estados Unidos não têm como objetivo a queda dos aiatolás, mas "o fim do programa nuclear iraniano". No entanto, Trump já chegou até mesmo a evocar em sua rede social Truth Social a morte de Ali Khamenei, afirmando que sabe onde ele se esconde e que é um alvo "fácil", destaca Le Figaro.  

"O regime iraniano contra o muro" é a manchete do jornal le Parisien. O diário lembra que Khamenei não fez nenhuma aparição pública há mais de dez dias, tendo interrompido a comunicação até mesmo com a hierarquia militar. Segundo as mídias americanas, o aitolá de 86 anos está planejando sua sucessão, diz Le Parisien. 

Guia supremo "fantasma" 

"O guia fantasma" é a manchete do jornal Libération, que destaca que "a destituição do líder supremo iraniano é a hipótese mais evocada hoje". Libé aborda os possíveis cenários pós-Khamenei e afirma que um nome já desponta para substituir o guia supremo: Ali Larijani, ex-presidente do Parlamento iraniano e veterano da diplomacia nuclear.  

Este peso-pesado de Teerã "se posiciona como o salvador do Irã pós-Khamenei, diante de sua experiência, sua vontade de colocar um fim às hostilidades com os países ocidentais (...) e sua ambição de conservar uma legitimidade mínima para preservar a estabilidade do país", diz o jornal Libération.