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OPINIÃO

Josias: EUA, Irã e Israel constroem coreografia da enganação

do UOL

Colaboração para o UOL

24/06/2025 11h46

Os discursos de Irã, Israel e Donald Trump sobre o conflito no Oriente Médio revelam como todas as partes envolvidas privilegiam a enganação, avaliou o colunista Josias de Souza no UOL News hoje.

Após o cessar-fogo anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, os três lados se disseram vitoriosos, o que deixa dúvidas sobre a duração da trégua na região.

Estamos em um ponto no qual os atores principais executam a coreografia da empulhação e da enganação. Cada um constrói sua versão para o público interno. Se analisarmos com frieza o que está se passando, o cessar-fogo interessa a todo mundo nesse momento, mas todos simulam uma disposição para a guerra que não orna com os fatos.

Interessa aos EUA porque Trump teria a oportunidade de fazer a pose que deseja: um homem vitorioso, pacifista e que obteve a interrupção de uma guerra que dura doze dias. Ele viu no êxito de Israel uma possibilidade de tomar uma carona. Bombardeou as instalações nucleares do Irã e força um cessar-fogo porque aí ele apresentaria sua intervenção belicosa como algo útil para a obtenção de uma trégua.

Isso precisa ocorrer o mais rápido possível. As pesquisas mostram que a maioria dos americanos olha para esse conflito com o desejo que ele não se prolongue, porque os EUA têm um histórico que não é agradável em guerras compradas longe do seu território. Josias de Souza, colunista do UOL

Para Josias, a trégua no conflito pode ser o impulso necessário para o Irã desenvolver seu projeto nuclear, mesmo que suas instalações tenham sido seriamente comprometidas.

A Israel, interessa interromper o conflito porque Netanyahu está muito perto ou já até obteve os objetivos que desejava, sem impor prejuízo muito grande ao seu território e população. Ele precisa interromper porque está custando caro. A estimativa do governo é de que já gastou US$ 1,3 bilhão nesses últimos dias para bombardear o Irã.

O cessar-fogo interessa ao Irã porque o país está de joelhos. Revelou-se um tigre de papel, um leão desdentado. Aquilo que se imaginava sobre a capacidade de se defender e contra-atacar à altura as investidas de Israel se revelou uma fantasia. Para complicar sua situação, Trump decidiu entrar na guerra.

Ao Irã, interessa uma trégua que lhe permita respirar e se reposicionar em cena, sem deixar de insinuar que continua dispondo da ameaça nuclear e de material suficiente para fazer a bomba [atômica]. Com essa investida, EUA, Netanyahu e Israel praticamente transformaram o que era um sonho do Irã em fazer a bomba uma obsessão. Josias de Souza, colunista do UOL

Sanches: Trump adota estilo geopolítico ao qual não estamos acostumados

Donald Trump lida com o conflito entre Irã e Israel de forma peculiar e se comporta como quisesse separar a briga de duas crianças, analisou a colunista Mariana Sanches.

Estamos em uma sequência bastante vertiginosa de eventos. Tão estranho quanto possa parecer, o Irã havia topado o cessar-fogo com Israel, um país que nem sequer reconhece, mediado pelo Qatar, nação que havia acabado de bombardear, e pelos EUA, que o havia bombardeado. É um roteiro para ninguém botar defeito.

Tudo isso era feito via redes sociais. Enquanto as bombas caíam, Trump dizia em tempo real o que ele estava fazendo e o que pretendia com cada ação. Ele chegou a falar em mudança de regime no Irã, com a derrubada do governo dos aiatolás. É um estilo Trump de geopolítica que não estamos acostumados a ver.

Agora, Trump vai às redes sociais dizer que não estava muito feliz com os dois, como se fosse uma mediação com duas crianças de dez anos. Na verdade, estamos falando de um histórico de décadas de conflagração no Oriente Médio e de algo extremamente complexo. Mariana Sanches, colunista do UOL

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