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Exército de Israel diz que 'foco retorna a Gaza' após cessar-fogo com Irã

Soldados israelenses durante operação militar na Faixa de Gaza - Photo by Israeli Army/18.jul.2024-AFP
Soldados israelenses durante operação militar na Faixa de Gaza Imagem: Photo by Israeli Army/18.jul.2024-AFP
Luana Takahashi e Tiago Minervino
do UOL

Do UOL, em São Paulo

24/06/2025 14h16

O Exército israelense afirmou hoje que, apesar da campanha contra o programa nuclear iraniano não ter acabado, o foco militar retorna para a operação na Faixa de Gaza após o cessar-fogo na guerra entre Israel e Irã, anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

O que aconteceu

Esforços voltarão para Gaza, segundo a corporação. O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, disse que a ação no local continuará ''para trazer os reféns para casa e derrubar o governo do Hamas''.

Apesar disso, líder do Exército diz que a campanha contra o Irã ainda não terminou. Para ele, o programa nuclear do país foi adiado, e não destruído. Por isso, a guerra contra o regime iraniano não acaba com o acordo de Trump que entrou em vigor hoje, de acordo com o militar.

Concluímos um capítulo significativo, mas a campanha contra o Irã ainda não terminou. Estamos entrando em uma nova fase, que se baseia nas conquistas da operação atual. Retardamos o projeto nuclear do Irã em anos, e o mesmo vale para seu programa de mísseis. Eyal Zamir

Governos iraniano e israelense disseram que manutenção do cessar-fogo depende um do outro. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou que respeitará o acordo se Israel cumprir com os termos. Posteriormente, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, também falou que exigência era a mesma.

Irã já anunciou que está preparado para restaurar a indústria nuclear atingida. O governo falou estar avaliando os danos às instalações nucleares atingidas por Israel e Estados Unidos para restabelecê-las. ''Os planos para reiniciar [as usinas] foram preparados com antecedência e nossa estratégia é garantir que a produção e os serviços não sejam interrompidos'', afirmou Mohammad Eslami, chefe da agência de Energia Atômica do regime, à televisão estatal.

Palestina pediu para ser incluída no cessar-fogo

Mais cedo, a Palestina também pediu cessar-fogo em Gaza como parte da trégua entre Israel e Irã. O gabinete do presidente palestino Mahmoud Abbas exigiu que o acordo fosse ampliado para incluir o conflito em andamento na Faixa de Gaza, defendendo que isso garantiria ''segurança e estabilidade abrangentes na região''.

Trégua entre Israel e Irã alimentou esperança entre palestinos. "Chega! O universo inteiro nos decepcionou. O Hezbollah chegou a um acordo sem Gaza, e agora o Irã fez o mesmo", disse Adel Farouk, 62 anos, à Reuters. "Esperamos que Gaza seja a próxima", afirmou.

Ao menos 40 palestinos foram mortos depois que Israel e Irã cessaram as ofensivas. Desses, 19 morreram enquanto tentavam chegar a um centro de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza. Separadamente, dez outras pessoas foram mortas por um ataque aéreo israelense em uma casa no bairro de Sabra, na Cidade de Gaza, enquanto 11 morreram baleadas por israelenses na cidade de Khan Younis.

No fim de maio, o Hamas afirmou que aceitaria a paralisação do conflito em troca de um ''cessar-fogo permanente''. Os EUA, que fazem parte do grupo de negociação, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamaram a resposta de "totalmente inaceitável".

Durante 12 dias, Israel manteve duas frentes de guerra

Durante o conflito com o Irã, Israel permaneceu com suas operações no enclave, mas com menor intensidade. Segundo Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ, as Forças de Defesa de Israel realizaram uma reconfiguração de tropas, com uma redução do efetivo terrestre na Palestina.

Israel apostou em uso de inteligente artificial, tecnologia de ponta e ataques aéreos para se manter. Brancoli diz que sistemas de IA automatizam a seleção de até 100 alvos por dia, assegurando campanhas intensas mesmo com menos militares trabalhando. Além disso, o governo israelense conta com apoio logístico externo para continuar, principalmente dos EUA.

Hamas está enfraquecido e quase inoperante, avaliam especialistas. ''Em termos militares, Israel pode agir de uma forma muito tranquila por não ter um adversário muito poderoso neste momento; não existe uma defesa antiaérea na Faixa de Gaza'', afirma Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP.

Gaza foi esquecida durante guerra entre Israel e Irã

''Não se fala mais sobre Gaza'', pontuou Brancoli na semana passada. Conferências da ONU sobre o reconhecimento da Palestina foram adiadas porque algumas delegações do Oriente Médio não poderiam comparecer devido aos últimos acontecimentos. Protestos que pressionam por acordos humanitários também foram suspensos.

Para Lehmann, deslocamento de foco contribui para o ''objetivo de destruição em Gaza''. ''Enquanto isso, Israel pode continuar as suas ações, causar mais destruição por lá. Alguns partidos que fazem parte do governo têm esse objetivo, para basicamente deixar a Faixa de Gaza inabitável, o que obrigaria os palestinos a buscar abrigo em outras áreas, em outros países.''

Brancoli diz ainda que Israel realinhou o discurso ocidental frente a ''ameaça iraniana''. Segundo o especialista, os ataques recentes fizeram com que países líderes do G7 e da União Europeia defendessem a ''autodefesa preventiva'' e recalibrassem suas críticas em relação ao conflito em Gaza.