Desfiles de moda masculina começam em Paris com estreias nas passarelas e incertezas no mercado de luxo
A temporada de desfiles de moda masculina primavera-verão 2026 começou em Paris nesta terça-feira (24) com uma série de estreias nas passarelas. Após mudanças importantes na direção criativa de várias marcas de peso, alguns dos estilistas contratados apresentam suas primeiras coleções esta semana. Em um contexto de incertezas para o mercado do luxo, o resultado dessa dança das cadeiras fashion é esperado com bastante expectativa.
Silvano Mendes, da RFI em Paris, com agências
Após uma fashion week de Milão bastante reduzida e uma temporada de Londres inexistente, até 29 de junho, 70 marcas de moda mostrarão suas coleções em 40 desfiles e 30 apresentações durante uma maratona parisiense mais do que aguardada. O evento acontece após uma reviravolta na direção criativa de várias marcas, com a chegada de novos nomes, mas também com alguns já conhecidos, que se apresentam a frente de maisons diferentes.
Um dos desfiles mais esperados é o de Jonathan Anderson na Dior, no dia 27. O estilista norte-irlandês, que fez sucesso com sua própria marca, mas também pilotando a espanhola Loewe, foi nomeado em abril para dirigir a moda masculina da Dior e, logo depois, teve seu nome confirmado para pilotar também as coleções femininas de prêt-à-porter e a alta-costura, no lugar da italiana Maria Grazia Chiuri.
Essa será a primeira vez, desde a morte de Christian Dior em 1957, que um mesmo estilista dirige todas as coleções da maison. Os executivos do grupo LVMH, dono das duas marcas, esperam que Anderson repita o sucesso que teve na Loewe, marca que se tornou a queridinha dos mais antenados, com uma pegada ousada e cheia de referências artísticas.
Também é bastante esperada a primeira coleção masculina de Julian Klausner para a Dries Van Noten. Nomeado em dezembro para suceder o fundador da marca, que se aposentou no ano passado, o belga já apresentou sua linha feminina em março, sendo bastante elogiado.
Vuitton e Saint Laurent em destaque
Outro destaque desta fashion week é o retorno da Saint Laurent já neste primeiro dia. Fora do calendário oficial desde janeiro de 2023, a maison pilotada por Anthony Vaccarello desfilou na Bourse de Commerce, sede da coleção de arte de François Pinault, CEO do grupo Kering, ao qual pertence a maison criada por Yves Saint Laurent e Pierre Bergé em 1961.
Inspirada na década de 1970, a coleção veio com cinturas ajustadas e ombros largos, e uma paleta de cores elegante, misturando marrom com laranja, ameixa com rosa, verde musgo com ocre pálido, azul piscina com azul escuro, e imponentes óculos escuros completando os looks.
Também nesta terça-feira, Pharrell Williams apresenta sua coleção para a Louis Vuitton. A marca, locomotiva do grupo LVMH, montou seu desfile diante do Centro Georges Pompidou, parcialmente fechado para reforma.
Vuitton sempre teve um cuidado especial com a escolha das locações para seus desfiles, principalmente para sua coleção de moda feminina, sob a batuta de Nicolas Ghesquière desde 2012. Acostumada a se apresentar no Museu do Louvre, a Maison, que já reproduziu em 2019 a fachada do Beaubourg em um de seus desfiles, rodou pelo mundo organizando performances em outros museus, como o Miho de Kyoto, em 2017, ou ainda o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Brasil, em 2016, onde as curvas do prédio de Oscar Niemeyer dialogaram com o estilo futurista da marca. Desde a chegada de Pharrell Williams em 2023, a dimensão monumental também está mais presentes nas coleções masculinas na maison.
A temporada de desfiles de moda masculina conta ainda com o retorno dos britânicos Wales Bonner e Craig Green, além da esperada estreia parisiense da marca indiana Kartik Research, que vem ganhando adeptos pelo mundo com o seu "Indian Future Vintage".
Cenário geopolítico instável
A fashion week parisiense acontece uma semana após um estudo do escritório de consultoria Bain & Company chamar a atenção para uma certa instabilidade no mercado do luxo - setor que raramente enfrenta crise. Segundo o relatório, o cenário geopolítico incerto pode afetar essa indústria nos próximos meses, principalmente na China e nos Estados Unidos, os mercados mais importantes para o setor.
Diante desse contexto, a chegada de novos estilistas e diretores artísticos deixa todos eufóricos. Afinal, não se trata apenas de uma dança das cadeiras no topo das maisons de luxo. Essa fashion week parisiense traz também algumas das coleções que poderão ajudar a manter o desempenho do setor, apesar das incertezas econômicas globais.
A temporada de desfiles masculinos será seguida pela de Alta-Costura, de 7 a 10 de julho.