Desembargador afastado por falas machistas ganhou R$ 1 milhão em 10 meses
Afastado desde julho de 2024 pelo CNJ, o desembargador Luís César de Paula Espíndola, que afirmou que as mulheres estão "loucas atrás de homem", ganhou quase R$ 1 milhão em dez meses do TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná).
O que aconteceu
Espíndola recebeu R$ 996.915,99 líquidos entre agosto de 2024 e maio de 2025, segundo o TJ-PR. O maior ganho foi em janeiro deste ano, quando ele ganhou R$ 134.432,07.
"Vantagens eventuais" elevaram ganhos de Espíndola desde agosto do ano passado. Até maio, o desembargador recebeu R$ 846.429,16 em benefícios.
Ganhos brutos de desembargador giram em torno de R$ 40 mil por mês. Nos dez meses somados, o total do salário bruto de Espíndola chegou a R$ 405.688,10.
Desembargador ganhou mais enquanto esteve afastado do que quando trabalhava. Comparado aos dez meses anteriores ao afastamento, entre outubro de 2023 e julho de 2024, Espíndola recebeu R$ 768.641,49 líquidos.
Decisão do CNJ não previa que Espíndola parasse de receber os salários, disse o TJ-PR. "A decisão foi dada pelo CNJ, e nela não informa que o afastamento impede o recebimento dos vencimentos pelo desembargador."
Lei não prevê que vencimentos de desembargador afastado não sejam pagos, afirma CNJ (Conselho Nacional de Justiça) ao UOL. "De acordo com a Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), os magistrados que receberem penalidades de disponibilidade serão afastados com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço."
Relembre o caso
Desembargador se manifestou de forma crítica ao feminismo durante sessão realizada em julho de 2024. Na ocasião, o tribunal analisava o pedido de medida protetiva a uma menina de 12 anos que denunciou ter sido assediada pelo professor. O relator do caso e a maioria dos magistrados votaram para manter as medidas protetivas, mas Espíndola divergiu e teceu críticas ao comportamento feminino.
Espíndola afirmou que o caso iria "estragar a vida do professor". Para o desembargador, a ação julgada se tratava de "ego de adolescente" em busca de "atenção", e que o professor apenas foi "infeliz", mas que "aprendeu a lição".
Após as falas do desembargador, uma colega reagiu e disse ser importante considerar a palavra da vítima. O presidente do colegiado rebateu a colega ao afirmar se tratar de um "discurso feminista desatualizado" e disse que, na verdade, são "as mulheres que estão assediando" os homens.
Espíndola afirmou que as mulheres "correm atrás dos homens" porque "não tem mercado" para elas. "A mulherada está louca para levar um elogio, uma piscada, uma cantada respeitosa. Vai no parque. Só tem mulher com cachorrinho, louca para encontrar um companheiro. A paquera é uma conduta que sempre existiu, sadia", declarou.
Duas semanas depois, o ministro Luis Felipe Salomão, do CNJ, decidiu pelo afastamento imediato de Espíndola. A decisão foi divulgada durante a licença remunerada do servidor.
O ministro entendeu que a fala reforça ''preconceitos, pré-julgamentos e estereótipos de gênero''. ''Como se as mulheres fossem criaturas dependentes da aprovação, aceitação e desejo masculino'', acrescentou.
O que diz o desembargador
Na época, Luís Cesar de Paula Espíndola afirmou não ter tido a "intenção de menosprezar o comportamento feminino". O desembargador disse "sempre" ter defendido direitos igualitários entre os gêneros e se solidarizar com "todas que se sentiram ofendidas" por suas declarações.
Esclareço que nunca houve a intenção de menosprezar o comportamento feminino nas declarações proferidas por mim durante a sessão da 12ª Câmara Cível do Tribunal, afinal, sempre defendi a igualdade entre homens e mulheres, tanto em minha vida pessoal quanto em minhas decisões. Lamento profundamente o ocorrido e me solidarizo com todas e todos que se sentiram ofendidos com a divulgação parcial do vídeo da sessão.
Desembargador Luis Cesar de Paula Espíndola