Ataque dos Estados Unidos contra o Irã: saiba quais são as opções de Teerã para retaliar
Enquanto o Irã, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, afirmou que se defenderá "por todos os meios necessários" após os ataques americanos contra locais estratégicos do programa nuclear iraniano, Teerã lançou na manhã deste domingo, 22 de junho, uma série de mísseis contra Israel. Mas o regime iraniano ainda dispõe de outras opções e pode ser tentado a mirar as numerosas bases militares americanas na região.
Pierre Fesnien, da RFI
O Irã não demorou para reagir ao ataque americano contra três de suas mais importantes instalações nucleares. Logo ao amanhecer, o regime de Teerã, que declarou que uma "linha vermelha importante havia sido ultrapassada", lançou cerca de quarenta mísseis contra Israel, mirando o aeroporto Ben Gurion, próximo a Tel Aviv, e um "centro de pesquisa biológica", entre outros alvos.
Embora tenham sido registrados danos significativos em bairros residenciais no norte e no sul da cidade ? com casas e edifícios completamente destruídos ? o impacto geral dos ataques iranianos foi relativamente limitado. Os serviços de emergência israelenses relataram 16 feridos no domingo.
Com o envolvimento direto dos Estados Unidos no conflito, o Irã pode agora considerar novos alvos. O exército americano mantém presença em pelo menos 19 bases no Oriente Médio e conta com mais de 40 mil soldados na região ? uma presença militar consideravelmente ampliada desde o ataque terrorista do Hamas contra Israel em 7 de outubro. Todas essas infraestruturas e militares americanos passam, portanto, a ser alvos potenciais de uma eventual retaliação iraniana.
Bases americanas no Catar, Emirados Árabes e Bahrein
A maior base americana na região é a base aérea de al-Udeid, no Catar. Os EUA estão presentes lá desde 1996, com mais de 100 aeronaves, incluindo drones. Cerca de 10 mil soldados americanos estão permanentemente estacionados na base, que serve como quartel-general avançado do Comando Central dos EUA (CENTCOM) e teve papel fundamental nas operações no Iraque, Síria e Afeganistão.
Os EUA também mantêm uma importante base naval no Bahrein, com aproximadamente 9 mil funcionários civis e militares. Outra infraestrutura-chave é a base aérea de al-Dhafra, nos Emirados Árabes Unidos, voltada para atividades estratégicas de reconhecimento, coleta de informações e apoio a operações aéreas de combate. A base abriga caças avançados como os F-22 Raptor e diversos aviões de vigilância, incluindo drones e sistemas AWACS. Essa base já foi alvo de mísseis houthis em 2022.
Essas são, portanto, algumas das bases mais importantes e vulneráveis da presença americana na região, e podem se tornar os próximos alvos do Irã. No domingo, os Guardas da Revolução alertaram os EUA que pretendem usar "opções que vão além da compreensão [...] do campo agressor, e os agressores desta terra devem esperar por respostas das quais se arrependerão".
Até que ponto o Irã pode retaliar?
Resta saber até que ponto o Irã conseguirá colocar essas ameaças em prática, especialmente depois que seu poder ofensivo parece ter sido enfraquecido pelos bombardeios israelenses iniciados em 13 de junho.
Além disso, o regime praticamente não pode mais contar com o apoio de seus aliados na região. Desde o ataque de 7 de outubro lançado pelo Hamas ? grupo apoiado pelo Irã ? Israel não apenas destruiu grande parte da Faixa de Gaza, como também enfraqueceu significativamente o Hezbollah, que disparava contra Israel a partir do Líbano. Já os rebeldes houthis do Iêmen ameaçaram atacar navios americanos no mar Vermelho.
Segundo estimativas, Teerã dispunha de 2.000 a 3.000 mísseis balísticos, mas hoje é "muito difícil avaliar o número exato de mísseis que ainda restam". O Irã teria lançado cerca de 400 contra Israel. "Ao mesmo tempo, Israel também realizou ataques bastante direcionados para destruir os depósitos subterrâneos desses mísseis", explica Héloïse Fayet, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri). "A opção de atacar interesses americanos na região, como bases militares ou embaixadas, é possível, mas representaria uma escalada que poderia provocar novos ataques americanos contra o próprio território iraniano."
A tentação do terrorismo
Os Estados Unidos já se anteciparam a esse tipo de ameaça. A embaixada americana em Bagdá, no Iraque, iniciou uma redução de pessoal desde 11 de junho, processo que foi acelerado neste fim de semana. A Marinha americana também reforçou sua presença na região, deslocando às pressas o porta-aviões USS Nimitz, que deixou o mar da China Meridional em 16 de junho rumo ao mar de Omã. Com o USS Carl Vinson e o USS Thomas Hudner, já são três porta-aviões americanos posicionados entre o golfo de Omã e as costas israelenses ? alvos praticamente inalcançáveis com as atuais capacidades militares do Irã.
"O Irã praticamente não tem meios convencionais para guerrear com os Estados Unidos ? e é por isso que Israel conseguiu atacar o Irã", avalia Guillaume Ancel, ex-oficial, ensaísta e analista militar. "Restam a Teerã duas opções: lançar mísseis ? o que, como vimos nos últimos nove dias, não está causando muitos danos ? ou cometer atentados terroristas onde houver interesses israelenses ou americanos. Instalações civis e sinagogas são, infelizmente, difíceis de proteger, e o Irã pode se sentir tentado a usar organizações terroristas que financiou generosamente nos últimos anos para promover atentados aqui e ali", analisa o especialista.
Bloquear o estreito de Ormuz
Atacar interesses americanos e israelenses não é, no entanto, a única opção que pode ser considerada por Teerã, que desde o início do conflito com Israel ameaça fechar o estreito de Ormuz. "O Irã sugeriu que teria capacidade, ainda que sob certas condições, de bloquear o estreito de Ormuz e atacar alvos militares americanos ? mas não apenas isso. Há também a possibilidade de atacar infraestruturas civis ligadas à indústria petrolífera", afirma David Rigoulet-Roze, especialista em Oriente Médio e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), lembrando que, em 2019, por trás dos ataques com drones contra duas refinarias sauditas atribuídos aos houthis, estava na verdade a mão do Irã.
No entanto, bloquear o estreito de Ormuz seria uma decisão arriscada para Teerã. Mais de 20 milhões de barris de petróleo passam diariamente por essa rota marítima, e o bloqueio poderia afetar até 20% do fluxo global de petróleo, provocando um disparo nos preços do petróleo e do gás. Apesar de demonstrar um significativo poder de pressão, a medida teria um efeito colateral grave: impediria o próprio Irã de exportar seu petróleo para a China ? destino de 95% da produção iraniana. Além de perder uma fonte vital de receita, Teerã também correria o risco de desagradar um de seus poucos e principais aliados políticos em uma região onde está cada vez mais isolado.