Ucranianos temem que guerra no Oriente Médio ofusque conflito com Rússia

Os ataques russos contra a população ucraniana aumentaram nos últimos meses, mas foram ofuscados pela crise no Oriente Médio. O conflito entre Irã e Israel desviou a atenção dos líderes da comunidade internacional, até então voltada para a Ucrânia.
Neste contexto, os habitantes de Kiev se preocupam com os desdobramentos do conflito no país. "Não sou objetiva, mas acho que, no mundo moderno, a guerra é simplesmente absurda. Por que o mundo não pode viver em paz? Por que tudo isso começou? Por que não podemos simplesmente viver e aproveitar a vida? Gostaria que tivéssemos paz, que nosso céu voltasse a ficar calmo novamente", diz a atriz Anna em entrevista à RFI.
Anton, um estudante de Kiev, permanece otimista quanto ao interesse global pela Ucrânia.
"A Ucrânia foi esquecida? Não, não acho. Alguns países simplesmente têm sua própria visão de segurança, e a Europa, muito provavelmente, se preocupa mais com os fronts na Ucrânia, que são os mais perigosos para eles neste momento."
Há alguns meses, a comunidade internacional ainda tinha esperanças de obter um cessar-fogo, mas, na realidade, houve uma intensificação do conflito. Em junho, as autoridades ucranianas divulgaram números alarmantes. A Rússia lançou 140 mísseis, 3.000 bombas planadoras e o mesmo número de drones contra todo o país.
Mais de três anos após o início da invasão russa, Moscou e Kiev intensificaram o uso de drones e mísseis, enquanto as negociações de paz, lideradas pelos EUA, estão paralisadas.
O último grande ataque russo matou 28 pessoas em Kiev em 17 de junho, quando um míssil atingiu um prédio residencial. Os Estados Unidos, os aliados mais próximos de Israel, deixaram claro que sua prioridade agora é o Oriente Médio e a Ásia.
O temor, então, é que novos ataques aéreos russos, mais intensos, provoquem uma reação mais moderada da Casa Branca, já que os EUA consideram o conflito ucraniano como um problema que é principalmente europeu.
As tentativas de Kiev de obter mais ajuda de Washington também foram dificultadas pelas relações tensas entre o presidente americano e Volodymyr Zelensky.
O chefe de Estado ucraniano também já deixou claro que teme que a contribuição americana à defesa de Israel acabe enfraquecendo o apoio à Ucrânia.
"Ninguém afirma ter relações mais importantes do que as dos Estados Unidos com Israel, mas gostaríamos que a ajuda à Ucrânia não fosse reduzida por essa razão", declarou Zelensky.
Ataque russo em Odessa deixa 14 feridos
Pelo menos 14 pessoas ficaram feridas durante a madrugada desta sexta-feira (20) em um novo ataque aéreo russo contra Odessa, cidade portuária no sul da Ucrânia, segundo autoridades locais. Imagens mostram bombeiros ajudando uma jovem de camisola a sair pela janela de um prédio em chamas.
Um homem chegou a ser hospitalizado em Odessa, mas não resistiu aos ferimentos, informou o governador regional, Oleg Kiper, via Telegram. Onze civis e três socorristas ficaram feridos.
Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, no nordeste do país, também foi alvo de ataques com drones e bombas planadoras russas. Seis pessoas ficaram levemente feridas, incluindo duas adolescentes, segundo o governador Oleg Synegoubov.
"O governo russo mantém sua tática de terror deliberado contra nosso povo", afirmou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, nas redes sociais. "Por isso, é necessário que o Ocidente responda com firmeza, de forma a impactar toda a Rússia e sua capacidade de continuar a guerra."
Segundo a Força Aérea da Ucrânia, a Rússia lançou 86 drones durante a noite. Desses, 70 foram abatidos ou neutralizados.
O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, afirma ter destruído 61 drones ucranianos e reivindica avanços territoriais na região de Kharkiv. Desde o início da invasão, em 2022, Kharkiv e Odessa são alvos frequentes de ataques russos.
(RFI e AFP)