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Israel x Irã: guerra pode reaproximar os inimigos Turquia e Armênia?

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan (dir.), cumprimenta o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, durante encontro em Istambul - Presidência da Turquia/via AFP
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan (dir.), cumprimenta o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, durante encontro em Istambul Imagem: Presidência da Turquia/via AFP

20/06/2025 12h15Atualizada em 21/06/2025 08h26

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian, chegou nesta sexta-feira (20) a Istambul para uma visita rara à Turquia, inimiga histórica de seu país há mais de 100 anos. O premiê tem um encontro previsto com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, nesta sexta-feira (20).

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinian, chegou hoje a Istambul para uma visita rara à Turquia, inimiga histórica de seu país há mais de cem anos. O premiê se encontrou com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Esta é a segunda viagem de Nikol Pashinian à Turquia desde que ele assumiu o poder em 2018. A visita está sendo considerada uma etapa "histórica" rumo à paz na região, já que a Armênia e a Turquia nunca estabeleceram relações diplomáticas e a fronteira entre os dois países está fechada desde os anos 1990. Além das relações bilaterais, os líderes também discutirão o conflito entre Irã e Israel.

A Turquia, que compartilha fronteira com o Irã, assim como a Armênia, acompanha com apreensão o avanço da guerra iniciada há uma semana. O governo turco já vinha alertando, há meses, sobre o risco de um ataque israelense ao território iraniano.

Apesar de considerar o Irã um rival regional e de se opor ao programa nuclear iraniano, o governo turco não apoia os ataques israelenses.

Pelo contrário: Erdogan classifica as ações de "banditismo" e "ataques terroristas" e afirma que Teerã tem o "direito legítimo" de se defender. O presidente também declara que a Turquia está em "estado de alerta" diante dos possíveis impactos da guerra sobre seu território.

Erdogan se oferece para mediar o conflito entre Tel Aviv e Teerã. A Turquia defende uma solução diplomática tanto para a guerra quanto para a questão nuclear iraniana. No entanto, as relações estremecidas com Israel desde o início da guerra em Gaza dificultam qualquer papel de mediação.

Ainda assim, o governo turco tenta manter canais abertos. Nos últimos dias, Erdogan conversou duas vezes com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e também com o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian.

Além dos riscos econômicos relacionados ao preço do petróleo e à segurança energética, já que parte do gás consumido no país vem do Irã, a principal preocupação de Ancara está nas fronteiras.

Com 560 km de fronteira com o Irã, a Turquia reforçou a segurança na região nos últimos dias. A visita do ministro da Defesa e do chefe do Estado-Maior à área ganhou destaque na imprensa local.

A preocupação não está relacionada a uma eventual ameaça militar, mas ao possível fluxo migratório. Se o conflito se intensificar, o governo teme uma nova onda de refugiados iranianos, como ocorreu com os sírios na década passada. Até o momento, porém, as autoridades afirmam que não há aumento nas migrações irregulares na fronteira turco-iraniana.

Questão curda

Ancara também observa com atenção os movimentos curdos no Irã desde o início da guerra, especialmente o Partido pela Vida Livre no Curdistão (PJAK), braço iraniano do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

O governo turco rejeita qualquer possibilidade de que esses grupos aproveitem a instabilidade no Irã para avançar com pautas separatistas.

A preocupação cresce diante do anúncio recente do PKK de que pretende se dissolver e entregar as armas após quase 50 anos de conflito com a Turquia. Ancara espera que o processo de desmobilização ocorra ainda neste verão e avalia se a guerra entre Irã e Israel pode atrasar ou comprometer esse plano.

Para o governo turco, o conflito entre Irã e Israel, e a estratégia regional de Tel Aviv, tornam ainda mais urgente o fim da guerra com o PKK. Ancara acusa há anos tanto Israel quanto o Irã de instrumentalizarem a questão curda para enfraquecer seus interesses.

*Com informações da AFP