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Envenenamento por mercúrio na Amazônia peruana ameaça chegar a desastre sanitário

20/06/2025 10h32

Por Dan Collyns

LIMA (Fundação Thomson Reuters) - As comunidades indígenas e ribeirinhas da região de Loreto, na Amazônia peruana, têm "exposição crônica" ao mercúrio, de acordo com um novo estudo do Centro de Inovação Científica da Amazônia (Cincia) da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos.

Os resultados dos testes divulgados neste mês mostram que quase 80% das pessoas testadas no final do ano passado tinham níveis de mercúrio muito acima dos limites de segurança em seis comunidades às margens dos rios Nanay e Pintuyacu.

"A maioria da população está contaminada", disse Jairo Reategui Davila, o Apu, ou líder, de San Antonio de Nanay, uma das comunidades testadas.

"Pedimos às autoridades que tomem providências sobre o assunto porque estamos muito preocupados", acrescentou.

Os resultados mostraram que 37% dos 273 homens, mulheres e crianças testados tinham níveis de mercúrio superiores a 10 ppm (partes por milhão) em fios de cabelo, em comparação com apenas 3% abaixo do limite "seguro" de 2,2 ppm estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os preços do ouro subiram quase 50% no último ano, batendo recordes sucessivos e incentivando o florescimento de um comércio ilegal de mineração que está prejudicando a natureza e a biodiversidade locais, além de gerar preocupações significativas com a saúde.

Garimpeiros ilegais usam mercúrio para extrair partículas de ouro do lodo do rio e, em seguida, queimam o metal tóxico, que se transforma em vapor e é absorvido pelas plantas, pelo solo e pelos rios ao redor, disse Claudia Vega, chefe do programa de mercúrio do Cincia.

O envenenamento por mercúrio está associado a diversos problemas de saúde, incluindo comprometimento cognitivo em adultos e atrasos irreversíveis no desenvolvimento, além de dificuldades de aprendizagem, em crianças e bebês no útero.

Gabriel Barría, coordenador regional de metais pesados da autoridade de saúde local, considerou "muito lamentável que os moradores estivessem altamente contaminados" e culpou a disseminação do garimpo ilegal de ouro pelos níveis de mercúrio nos rios amazônicos.

Segundo ele, a autoridade de saúde não tem orçamento para realizar testes de mercúrio e só havia testado 12 moradores em uma recente visita de saúde, com base em amostras de sangue e urina.

EXCEDENDO O LIMITE

O Cincia afirmou que os testes revelaram um nível médio de 8,41 ppm, excedendo o limite da OMS em quase quatro vezes.

Como a mineração ilegal em Loreto é relativamente recente, ainda não há estudos abrangentes sobre seu impacto na saúde da população local.

Mas os níveis dos testes iniciais já são mais altos do que os de Madre de Dios, região da Amazônia peruana mais afetada pela mineração ilegal de ouro, onde os testes de 2012 mostraram que a maioria dos adultos tinha níveis médios de mercúrio de 2,7 ppm.

Luis Fernandez, diretor-executivo do Cincia e professor de pesquisa da Universidade Wake Forest, disse que se a mineração ilegal continuar a se espalhar em Loreto, os moradores com níveis de mercúrio já elevados poderão começar a se aproximar do pior caso registrado de contaminação por mercúrio.

Isso inclui a Baía de Minamata, conhecido caso ocorrido no Japão na década de 1950 onde crianças nasceram com deformidades congênitas e deficiências neurológicas causadas por uma fábrica de produtos químicos que despejou mercúrio no abastecimento de água durante décadas.

Vega, da Cincia, que liderou o estudo, disse que os resultados mostraram níveis preocupantes de mercúrio "de fundo" nas comunidades ribeirinhas de Loreto.

Ela explica que não foi possível determinar totalmente se o mercúrio é proveniente de fontes naturais ou de atividades causadas pelo homem, como o garimpo ilegal de ouro, mas é causado principalmente pela dieta dos moradores, baseada em peixes.

Entretanto, "vários estudos concordam que a entrada da mineração em um território tende a aumentar significativamente os níveis de mercúrio no meio ambiente", afirmou.

O estudo recém-divulgado descobriu que as pessoas estão expostas principalmente ao metilmercúrio, forma altamente tóxica que se acumula no corpo.

"O maior risco é para mulheres grávidas e crianças: o metilmercúrio pode atravessar a placenta e afetar o desenvolvimento do cérebro do bebê em desenvolvimento", disse ela.

"Esse tipo de exposição é um sério problema de saúde pública, mesmo que os indivíduos afetados não apresentem sintomas imediatos."

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