Fed mantém juros nos EUA, e BC do Brasil define taxa Selic hoje

Os diretores dos BC (Banco Central) voltam a se reunir hoje para definir o novo patamar da taxa básica de juros. Atualmente em 14,75% ao ano, o futuro da taxa Selic divide os analistas do mercado financeiro. A Super Quarta conta também com a definição do nível dos juros que permanecerá vigente até o fim de julho nos Estados Unidos. Esta tarde, o Fed, banco central americano, decidiu manter as taxas.
O que aconteceu
Banco Central define hoje novo patamar da Selic. Antes da decisão, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, e os outros oito integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária) apresentam projeções macroeconômicas. O veredito oficial será divulgado por volta das 18h30, após o fechamento do mercado financeiro.
Ontem, eles debateram a conjuntura econômica. Na primeira fase da reunião do Copom, os diretores da autoridade monetária realizam apresentações técnicas sobre as perspectivas da economia e o comportamento do mercado financeiro. Tais indicadores podem influenciar na definição dos juros.
Copom deixou o fim do ciclo de altas em aberto. Ao elevar a Selic de 14,25% para 14,75% ao ano, os diretores do BC não evidenciaram quais seriam os próximos passos da política monetária. A ata da reunião de maio defendeu apenas o compromisso de devolver a inflação para o centro da meta em um ambiente repleto de incertezas.
Com relação à próxima reunião, o Comitê avaliou que o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação.
Ata da 270ª reunião do Copom
Decisão divide os agentes do mercado financeiro. Ainda que a mediana das expectativas aponte para a manutenção da taxa Selic em 14,75% ao ano, até o final de 2025, a previsão não é unânime. Parte dos analistas observa a necessidade de uma nova alta gradual dos juros para garantir o controle da inflação a longo prazo.
Alta levará a Selic ao maior nível em quase 20 anos. A decisão favorável à elevação mínima de 0,25 ponto percentual colocará os juros básicos em 15% ao ano, o maior patamar desde agosto de 2006. Há ainda previsões que indicam uma alta maior, de 0,5 ponto percentual, para 15,25% ao ano.
O que vai motivar a decisão
Perda de força da inflação favorece a estabilidade. A sequência de três meses consecutivos de desaceleração do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é vista por parte dos analistas como determinante para a interrupção do ciclo de seis altas consecutivas da taxa Selic. Em maio, o índice ficou abaixo das expectativas ao subir 0,26%.
Enfraquecimento da economia também contribui. O desaquecimento do comércio e do setor de serviços, setores mais sensíveis ao mercado de crédito, na abertura do segundo trimestre também é utilizado como argumento por aqueles que veem o fim do aperto monetário. "Com o IPCA de maio mais ameno e o cenário de dólar mais fraco, o BC pode pausar [o ciclo de alta da Selic], dando o ciclo de aperto como encerrado", diz Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.
Desde a última reunião, a inflação mostrou leve melhora, as expectativas de inflação pararam de piorar e a atividade econômica seguiu com sinais na direção da desaceleração gradual.
Júlio César Barros, economista do Banco Daycoval
Atividade econômica abre margem para elevação. Os analistas favoráveis a uma nova alta da taxa básica de juros citam o aquecimento do mercado de trabalho e o desemprego no menor nível da série histórica como dados com potencial inflacionário. "Essa estratégia contribui para garantir a convergência da inflação à meta", avalia Everton Gonçalves, diretor da ABBC (Associação Brasileira de Bancos).
Cenário externo também pode ser determinante. As percepções também consideram as tensões com os conflitos no Oriente Médio e os impactos da política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump."O ambiente internacional se desenvolveu até o momento de maneira oposta à desaceleração econômica global devido à guerra comercial desde a última reunião", observa Camilo Cavalcanti, gestor da Oby Capital.
Estados Unidos
BC dos EUA definiu o patamar dos juros. Diferentemente do cenário nacional, a percepção era praticamente unânime. Ela sinalizava para a manutenção da taxa em um patamar entre 4,25% e 4,5% ao ano, o que aconteceu. A projeção é compartilhada por 99,9% dos agentes financeiros, que trazem uma perspectiva majoritária de queda somente para o mês de setembro.
Powell deve manter o tom dos discursos recentes, reiterando que, apesar dos elevados níveis de incerteza, a economia dos Estados Unidos segue em boa posição. Ele também deve reforçar que não há pressa para ajustar a política monetária.
Andressa Durão, economista do ASA
Taxa de juros nos EUA é relevante para o Brasil. Os juros menores nos Estados Unidos e em outras economias desenvolvidas representam um cenário positivo para as economias emergentes, que tendem a atrair maiores volumes de investimento, apesar de oferecerem um risco mais elevado.
Por que as decisões importam
Selic é o principal instrumento de política monetária para conter a inflação. Ao elevar a taxa, o BC torna o dinheiro "mais caro" e tomada de empréstimo fica mais difícil. O cenário inibe o consumo e, consequentemente, segura a variação dos preços, diante da manutenção da oferta de bens estável.
Elevação da taxa Selic encarece principalmente a concessão de crédito. A alta dos juros básicos é acompanhada pelas taxas cobradas em empréstimos pessoais, financiamentos imobiliários e de veículos, além de linhas de crédito para empresas. O crédito mais restrito enfraquece o crescimento econômico, diminuindo a produção industrial e aumentando o desemprego.
Ganhos com renda fixa crescem com alta da taxa básica de juros. Investimentos atrelados à taxa básica, a exemplo do Tesouro Selic, oferecem maior retorno, enquanto a poupança perde competitividade. Isso acontece devido à regra que mantém a rentabilidade da caderneta em 0,5% ao mês (aproximadamente, 6,17% ao ano) sempre que a Selic figurar acima de 8,5% ao ano.