Como Israel superou defesa aérea do Irã para atacar e matar autoridades?

O conflito entre Irã e Israel entrou no sexto dia hoje. Desde a última sexta-feira (13), a troca de ataques deixou ao menos 248 mortos, sendo 224 no Irã, incluindo líderes militares e cientistas do país. O UOL ouviu especialistas que explicaram como Israel conseguiu derrubar a defesa aérea do Irã, atingir instalações nucleares e matar autoridades das forças armadas iranianas.
Superioridade técnica de Israel
Defesa antiaérea iraniana possivelmente foi neutralizada. Desde o ano passado, as forças israelenses têm atacado repetidamente as defesas iranianas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse no domingo (15) que Israel havia trabalhado para "retirar as camadas de proteção" das defesas iranianas. Durante dois confrontos com o Irã, em abril e outubro de 2024, Israel atingiu quatro sistemas antiaéreos russos S-300, além de outros componentes críticos.
Com defesa enfraquecida, caças israelenses têm conseguido atingir alvos sensíveis em todo o Irã. Fernando Brancoli, professor de Relações Internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), explica que isso demonstra não só a superioridade técnica de Israel, mas também um padrão deliberado de desgaste, que remonta a iniciativas passadas.
As defesas iranianas, já fragilizadas por sabotagem, agora se encontram expostas e insuficientes frente a novas ameaças, embora o Irã ainda disponha de meios por vias alternativas e subterrâneas, a eficiência de suas defesas aéreas foi profundamente comprometida.
Fernando Brancoli
Irã perdeu o controle do espaço aéreo
Irã não tem controle do próprio espaço aéreo. No sábado à noite (14), o governo israelense afirmou ter controle do espaço aéreo em todo o oeste do Irã, até Teerã. "Abrimos os céus do Irã, alcançando quase superioridade aérea", disse Yechiel Leiter, embaixador de Israel nos Estados Unidos, nas redes sociais. Na avaliação do professor de relações internacionais da ESPM Gunther Rudzit, é possível dizer hoje que o espaço aéreo iraniano é de Israel. "Quando os aviões israelenses bombardeiam durante o dia os alvos que querem e nenhum é derrubado, a gente pode dizer isso, sim. Eles não estão atacando só no turno da noite, mas durante o dia também", diz.
Ataques aéreos com caças F-35 permitem que aviões cruzem os céus do Irã sem serem detectados. Elie Tenenbaum, diretor do Centro de Estudos de Segurança do Instituto Francês de Relações Internacionais, destaca que esse modelo possui uma tecnologia eletromagnética reduzida perante os radares, permitindo que entrem nas áreas de disparo dos sistemas de defesa sem serem detectados.
Serviços de inteligência israelenses podem ter sabotado sistema antiaéreo do Irã. Além do ataque aéreo, outra hipótese é de que Israel também tenha enviado tropas para realizar ações de sabotagem, especialmente com drones, contra os sistemas de defesa antiaérea iranianos.
A defesa antiaérea iraniana foi duramente testada nas duas operações anteriores, que envolveram disparos de mísseis balísticos e uso de drones contra esses sistemas S-300, fabricados na Rússia, que visam defender o território e vários sítios estratégicos.
Elie Tenenbaum, diretor do Centro de Estudos de Segurança do Instituto Francês de Relações Internacionais
Irã não estava preparado para o conflito
O Irã está praticamente isolado do ponto de vista de aliados. Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo), avalia que o regime iraniano não estava preparado para o atual conflito com Israel. "O governo está sob pressão doméstica, com problemas econômicos", diz. Lehmann destaca ainda que o Irã perdeu a Síria como principal país aliado. "Além disso, perdeu aliados no Líbano, na Faixa de Gaza, que estão em outros conflitos".
Orçamento militar do Irã é menor. O IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos) diz que o orçamento de defesa do Irã foi de cerca de 7,4 bilhões de dólares em 2022 e 2023, enquanto o de Israel chega a cerca de 19 bilhões de dólares.
Israel fica a mais de 2.100 km do Irã. Sendo assim, mísseis, drones e caças são as principais formas de ataques entre os países.
Integrantes das forças militares do Irã questionam fragilidade do próprio sistema de defesa. Em mensagens de texto privadas compartilhadas com o The New York Times na última sexta, alguns oficiais do Irã perguntavam uns aos outros com raiva: "Onde está nossa defesa aérea?" e "Como Israel pode vir e atacar o que quiser, matar nossos principais comandantes, e nós somos incapazes de impedir isso?"
Apesar de dizer que tem controle dos céus iranianos, Israel ainda não tem total liberdade de operação no Irã. Autoridades iranianas alegaram ter abatido drones israelenses nos últimos dias. Isso porque alguns dos sistemas de defesa aérea do Irã permanecem intactos, exigindo que os pilotos israelenses naveguem por corredores aéreos cuidadosamente mapeados, de acordo com uma autoridade de defesa israelense, que falou sob condição de anonimato ao jornal The New York Times.
A defesa multicamadas de Israel mantém os ataques retaliatórios sob controle. Apesar de manter a superioridade aérea, Israel continua a enfrentar ataques de mísseis balísticos do Irã. Muitos deles foram interceptados, mas alguns atingiram Tel Aviv e outras cidades. Mesclando diferentes frentes de ataque, o Irã provoca sobrecarga nos sistemas de defesa aérea de Israel.
Irã conta com uma ampla gama de opções para atacar Israel pelo céu. Mísseis balísticos pesados, por exemplo, voam a velocidades muitas vezes superiores à do som e podem, em poucos minutos, deixar o território iraniano e chegar até Israel. Mísseis de cruzeiro e drones também fazem parte dos artefatos lançados pelo Irã, voando baixo e sendo difíceis de detectar. Neste cenário, as forças israelenses têm uma "pequena janela" para detectar, avaliar e responder a ameaças iminentes, explicou Joe Truzman, analista do Long War Journal, ao jornal norte-americano The New York Times.