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Trump nega envolvimento, mas avança: qual a posição dos EUA na guerra?

16.jun.2025 - O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com repórteres a bordo do Air Force One após deixar a cúpula dos líderes do G7 em Calgary, Alberta - CHIP SOMODEVILLA/Getty Images via AFP
16.jun.2025 - O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com repórteres a bordo do Air Force One após deixar a cúpula dos líderes do G7 em Calgary, Alberta Imagem: CHIP SOMODEVILLA/Getty Images via AFP
do UOL

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Belo Horizonte*

17/06/2025 16h08Atualizada em 18/06/2025 15h34

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou hoje que deseja "um fim real" no conflito entre Israel e Irã, e deu um ultimato ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Desde o início das ofensivas, na sexta-feira (13), os EUA tentava se distanciar dos ataques, apesar das frequentes ameaças ao Irã, porém, subiu o tom nesta terça.

Qual a posição de Trump e EUA

Apesar de negar o envolvimento, Casa Branca foi avisada dos planos israelenses. Em entrevista à Fox News, na última sexta, dia do primeiro ataque de Israel à capital israelense, Trump afirmou que sabia que Israel atacaria o Teerã e ressaltou que o Irã "não pode ter uma bomba nuclear".

Na terça, Donald Trump deu sinais de que os EUA está pronto para agir contra o Irã. O presidente deu um ultimato ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei e afirmou que não vão matá-lo "por enquanto", mas que a "paciência está se esgotando".

Pesquisadores afirmam que os indícios apontam para uma participação "solo" de Israel nos ataques. "Tudo o que sabemos até agora sobre a logística, por exemplo, sobre os drones escondidos no Irã, sugere que Israel realizou o ataque sozinho", disse Sascha Lohmann, membro do grupo de pesquisa para as Américas do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, em entrevista à DW.

Especialista, entretanto, não descarta a possibilidade de que os EUA tenham ajudado. O envio de 200 jatos militares que voaram para o Irã e retornaram, por exemplo, levanta a questão de se os militares americanos forneceram apoio com reabastecimento aéreo, de acordo com Lohmann.

No início do mês, os EUA enviaram uma proposta de acordo sobre o programa nuclear de Teerã. Segundo o New York Times, a proposta pede que o Irã interrompa completamente o enriquecimento de urânio e propõe a criação de um grupo regional para produzir energia nuclear, que incluiria Irã, Arábia Saudita e outros países árabes, além dos Estados Unidos. Na sexta-feira, Trump afirmou que foi dado ao Irã um ultimato de 60 dias para um acordo nuclear antes dos ataques de Israel, que aconteceram no 61º dia.

Após a ofensiva israelense, o Irã disse que o diálogo com os EUA sobre seu programa nuclear é "sem sentido". O país também afirmou que o ataque não teria acontecido sem a permissão de Washington.

Trump afirmou que o Irã deve fechar o acordo para que o "massacre" acabe. "Já houve grande morte e destruição, mas ainda há tempo para que esse massacre, com os próximos ataques já planejados sendo ainda mais brutais, chegue ao fim", disse Trump em publicação no Truth Social.

O presidente dos EUA chegou a escrever em tom ameaçador: "Chega de morte, chega de destruição, simplesmente façam, antes que seja tarde demais".

Trump deseja 'um verdadeiro final' para o conflito

16.jun.2025 - Escombros em Tel Aviv após um novo bombardeio iraniano pela manhã - JOHN WESSELS / AFP - JOHN WESSELS / AFP
16.jun.2025 - Escombros em Tel Aviv após um novo bombardeio iraniano pela manhã
Imagem: JOHN WESSELS / AFP

Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, deixou a reunião do G7 um dia antes do previsto e voltou para os EUA devido ao conflito. "Vocês provavelmente estão vendo o que eu vejo, porque preciso voltar [a Washington] o quanto antes", afirmou Trump. "Eles querem fazer um acordo e, assim que eu sair daqui, faremos alguma coisa. Mas tenho que sair daqui."

O presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu que Washington estava disposto a fazer uma aproximação diplomática. "Uma proposta foi apresentada para uma reunião", disse. Trump afirmou durante semanas que era favorável à diplomacia sobre a questão nuclear e seu representante, Steve Witkoff, se reuniu em cinco ocasiões com funcionários do governo iranianos.

Entretanto, em sua rede social, Trump afirmou que não teve nenhuma "conversa de paz" com o Irã. "Isso é apenas mais uma NOTÍCIA FALSA COMPLETAMENTE INVENTADA! Se eles quiserem conversar, sabem como me encontrar. Deveriam ter aceitado o acordo que estava sobre a mesa", afirmou o presidente norte-americano.

Enquanto embarcava de volta aos EUA, Trump afirmou que deseja "um verdadeiro final" para o conflito. "Não estou buscando um cessar-fogo, estamos buscando algo melhor do que um cessar-fogo", disse Trump à imprensa a bordo do Air Force One. Ele enfatizou que deseja que o Irã "ceda completamente" e que busca um "fim real, não um cessar-fogo".

Enriquecimento de urânio e negociações

Israel iniciou as hostilidades com o objetivo declarado de acabar com o controverso programa nuclear iraniano. Desde então, os dois países trocaram ataques.

Existem dois tipos de programas nucleares: civil e militar. Os programas civis são voltados exclusivamente para usinas nucleares, com o objetivo de gerar eletricidade, enquanto os militares têm como meta a produção de bombas atômicas.

Potências ocidentais, incluindo EUA e Israel, suspeitam que o Irã tenha intenção de produzir armas nucleares. Teerã nega e afirma que se trata de um programa civil.

Avanço nos níveis de enriquecimento de urânio do Irã pode indicar um objetivo militar, o que é motivo de preocupação. Segundo a AIEA, em 3 meses, a República Islâmica dobrou seu estoque de urânio enriquecido a 60% de pureza, chegando a um nível muito acima do necessário para produção de energia civil.

Oficialmente, o Irã não possui armas nucleares. A Arms Control Association, organização norte-americana que monitora os arsenais nucleares pelo mundo desde 1971, divulga que apenas nove países possuem bombas nucleares. São eles: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.

Irã é o único estado não nuclear que enriquece urânio a 60%, segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). O país defende o direito ao desenvolvimento nuclear com fins civis, como a geração de energia, e afirma que não aceitará limites nesse aspecto.

Em 2015, após anos de negociação, um acordo foi firmado entre o Irã e a comunidade internacional. Na época, o país concordou em diminuir as atividades nucleares em troca do alívio das sanções econômica impostas contra a República Islâmica.

EUA se retirou do compromisso em 2018. Em seu primeiro mandato, Donald Trump retirou os EUA do compromisso e os esforços para retomar o diálogo fracassaram. Desde então, o Irã se distancia do compromisso de não enriquecer urânio acima de 3,67% —o que foi fixado pelo pacto.

17.jun.2025 - Membros das equipes de resgate do Crescente Vermelho Iraniano vasculham os escombros dentro de um prédio em Teerã, alvo de ataques israelenses - AFP PHOTO / HO / Iranian Red Crescent - AFP PHOTO / HO / Iranian Red Crescent
17.jun.2025 - Membros das equipes de resgate do Crescente Vermelho Iraniano vasculham os escombros dentro de um prédio em Teerã, alvo de ataques israelenses
Imagem: AFP PHOTO / HO / Iranian Red Crescent

Israel considera a República Islâmica uma ameaça existencial. Segundo o Exército israelense, informações de inteligência indicam que o Irã está se aproximando de um "ponto de não retorno" em seu programa nuclear.

Futuro das negociações é incerto, segundo Lohmann. "Enquanto o conflito continuar com a intensidade atual, é difícil imaginar que as negociações continuem", disse.

Ali Shamkhani, conselheiro do líder supremo do Irã, está entre os mortos. Segundo a revista alemã Der Spiegel, Shamkhani desempenhou um papel importante nas negociações nucleares entre EUA e Irã. Ele teria se mostrado aberto a um acordo, mas também alertou que o governo de Teerã poderia encerrar sua cooperação com a AIEA e expulsar os inspetores nucleares da ONU caso o Irã se sentisse ameaçado.

(Com AFP, DW, ONU News e Reuters)