PF: 'Abin paralela' tinha núcleo para produzir e divulgar notícias falsas

A Polícia Federal apontou que a "Abin paralela" possuía um núcleo de produção e divulgação de notícias falsas.
O que aconteceu
Núcleo existia para "produção industrial e disseminação viral de notícias falsas", segundo a PF. "Este núcleo era dedicado à produção industrial e à disseminação viral de notícias falsas (fake news), narrativas de ódio, teorias conspiratórias e campanhas de desinformação."
Grupo era composto por cinco integrantes. Eram eles: José Matheus Salles Barros, Mateus de Carvalho Sposito, Richards Dyer Pozzer, Rogerio Beraldo de Almeida e Daniel Ribeiro Lemos.
Eles usavam plataformas digitais, redes sociais e canais de comunicação para "atacar e desacreditar" o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). "A atuação deste núcleo foi fundamental para as estratégias de ataque ao Estado Democrático de Direito", disse a PF.
O deputado federal e ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem (PL-RJ), sabia das ações, afirma a PF. "Os elementos probatórios indicam que as ações clandestinas eram realizadas com a ciência e/ou demandadas diretamente pelo então Diretor Alexandre Ramagem, tanto que na condição de parlamentar federal se utilizou de dossiês produzidos pelos integrantes deste núcleo na "CPI do dia 08/01".
A atuação deste núcleo foi fundamental para as estratégias de ataque ao Estado Democrático de Direito.
Relatório da Polícia Federal
Mais de 30 pessoas foram indiciadas pela PF, que enviou o relatório final ao STF (Supremo Tribunal Federal). As apurações apontam que o esquema teria ocorrido no governo Bolsonaro, quando Ramagem era diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Entre os indiciados, está o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa. Nomeado para o cargo no governo Lula (PT), ele é suspeito de ter autorizado uma ação hacker da agência contra autoridades do governo do Paraguai, como revelou o UOL.
Outros integrantes da atual cúpula de comando da Abin também foram indiciados. Luiz Carlos Nóbrega, chefe de gabinete de Corrêa, e José Fernando Chuy, corregedor-geral do órgão, também aparecem no relatório final da PF. Além deles, constam o ex-diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti, e Paulo Maurício Fortunato, que era secretário de Planejamento do órgão na gestão de Corrêa e foi afastado do cargo pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, em 2023, por suspeita de integrar o esquema de monitoramento ilegal.
Inquérito apura uso da Abin para ações ilegais de espionagem. A investigação foi aberta no primeiro ano do governo Lula, para investigar indícios de que a agência tenha sido aparelhada e usada de forma ilegal pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e Ramagem e se estendeu para ações suspeitas de espionagem durante a gestão petista.
Suspeita de obstrução da Justiça. A PF apura também indícios de que Corrêa, atual diretor, tenha agido para atrapalhar as investigações sobre a "Abin paralela", assim como outros integrantes de sua gestão. Segundo investigadores, esse seria um dos motivos para a demora na conclusão desse inquérito.
Espionagem no governo Bolsonaro
A "Abin paralela" monitorava pessoas consideradas adversárias de Jair Bolsonaro. Segundo as investigações da PF, a estrutura de espionagem também atuava por interesses políticos e pessoais do ex-presidente e de seus filhos. As apurações mostram que a gestão usou o software "First Mile" para as ações ilegais.
Ministros do STF, políticos e jornalistas foram monitorados pela estrutura paralela. Na lista dos espionados estão nomes como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Luiz Fux, do Supremo, e o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).
O grupo instalado na Abin teria usado um software para rastrear celulares "reiteradas vezes". O sistema de monitoramento é capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G. Para encontrar o alvo, basta digitar o número do seu contato telefônico no programa e acompanhar em um mapa a última posição.