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Advogado diz ter prova que Cid usou Instagram e pede para anular delação

do UOL

Do UOL, em São Paulo

17/06/2025 09h48Atualizada em 17/06/2025 13h17

O advogado Eduardo Kuntz enviou ao STF o que diz serem provas de que conversava com o tenente-coronel Mauro Cid por um perfil falso nas redes sociais. Com base nesses diálogos, ele pediu a anulação da delação de Cid.

O que aconteceu

Kuntz diz ter conversado pelo Instagram com Cid, que usava o perfil falso @gabrielar702. Kuntz é advogado do réu Marcelo Costa Câmara, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no processo da trama golpista. Outros réus do caso já haviam citado esse perfil em suas defesas.

Se os documentos do advogado forem verdadeiros, o maior prejudicado pode ser Mauro Cid, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. O acordo de delação do tenente-coronel com a Justiça inclui sigilo sobre as informações prestadas, não ter contato com outros investigados e não usar mídias sociais. Na semana passada, Moraes determinou que a Meta, dona do Instagram, entregue à Justiça as mensagens enviadas e recebidas pelo perfil.

Kuntz pediu anulação de delação de Cid com base nas conversas. "Com a leitura das mais de 50 páginas de conversas [anexadas] (...), já é possível verificar que o malfadado acordo de colaboração premiada firmado com o TC [tenente-coronel] Cid não pode e nem deve prosperar e, assim sendo, toda a sua prova dele derivada também deve ser imediatamente desconsiderada", argumentou o advogado na ação enviada ao STF.

Ele anexou um print que comprovaria que era Cid por trás de @gabrielar702. "Confirmando que sou eu", escreveu o tenente-coronel, enviando uma foto de visualização única.

Prints enviados por advogado Eduardo Kuntz ao STF; Cid teria mantido contato com Kuntz por perfil falso, o que pode anular delação - Reprodução - Reprodução
Prints enviados por advogado Eduardo Kuntz ao STF; Cid teria mantido contato com Kuntz por perfil falso, o que pode anular delação
Imagem: Reprodução

Conta saiu do ar depois do interrogatório de Cid no STF. O tenente-coronel foi questionado durante julgamento no STF no dia 9 pela defesa de Bolsonaro sobre o perfil e respondeu que não conhecia esse usuário, que poderia ser da esposa dele. "Esse perfil... eu não sei se é da minha esposa, Gabriela é o nome da minha esposa", disse ele.

Ao STF, Kuntz disse que conhece Cid e que imaginou que o tenente-coronel poderia querer contratá-lo, então seguiu conversando com ele. "Foi tomado o cuidado de prosseguir com a conversa por escrito, de forma a não perder nada do conteúdo e, eventualmente, me defender deixando claro que ele que foi quem me procurou, e não o contrário", escreveu o advogado na peça enviada à Corte.

Primeiro diálogo entre Kuntz e o perfil @gabrielar702 é de janeiro de 2024, segundo os documentos enviados pelo advogado ao STF. Cid fechou o acordo de delação premiada com a Polícia Federal no segundo semestre de 2023. Ao UOL, o advogado disse que as conversas eram uma "carta na manga", e que as divulgou no "momento oportuno".

Nas conversas, Cid teria dito que a PF o teria pressionado durante depoimento. "Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca. E eu pedia para trocar. Foram três dias seguidos. Um deles foi naquela grande depoimento sobre as joias. Acho que foram 5 anexos. Eles toda hora queriam jogar para o lado do golpe. E eu falava para trocar pq nao [sic] era aquilo que tinha dito", mostra o trecho que teria sido escrito pelo tenente-coronel.

Ao STF, Cid negou que tenha sido pressionado e falou que essas falas eram apenas "desabafos". O conteúdo das mensagens já havia sido publicado pela revista Veja em 2024, mas ainda não se sabia quem era o interlocutor de Cid.

Anulação de delação de Cid pode desmontar inquérito do golpe?

Especialistas ouvidos pelo UOL disseram que, mesmo se a delação caísse, a denúncia se manteria com outros indícios reunidos na investigação. Os advogados explicaram que os dados fornecidos só poderiam ser desconsiderados no processo se fossem falsos ou tivessem sido obtidos de forma forçada.

Cid seria o principal prejudicado. Ele poderia perder os benefícios negociados na delação: o acordo firmado pelo tenente-coronel com a Justiça diz que ele pode pegar pena máxima de até dois anos —os crimes pelos quais ele é investigado poderiam render mais de 40 anos de prisão.

Deslegitimar a delação faz parte das estratégias das defesas. Bolsonaro, Braga Netto e demais réus questionaram ao STF a credibilidade da delação de Cid. "O acordo firmado por Mauro Cid possui grave vício de voluntariedade e, entre mentiras e coações, sua delação é absolutamente desprovida de credibilidade", diz uma petição da defesa do general, ex-ministro da Casa Civil.