Radiação inalterada: qual o estrago do ataque na usina nuclear do Irã

Israel bombardeou, na sexta-feira, a usina nuclear de Natanz, uma instalação de enriquecimento de urânio que fica no Irã. O ataque destruiu a parte externa da usina, segundo o governo iraniano, mas o subsolo não teria sido atingido.
O que aconteceu
A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e o governo iraniano confirmaram na sexta-feira que parte dessa instalação havia sido destruída pelos ataques israelenses. A usina de Natanz, no centro do país, é a mais conhecida das instalações nucleares iranianas, e sua existência foi revelada em 2002.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que seu exército destruiu a principal instalação em Natanz. "É a principal instalação de enriquecimento de urânio" do país, afirmou à emissora norte-americana Fox News.
A AIEA afirmou que não há indícios de que ataques israelenses atingiram a parte subterrânea. "Não houve novos danos" desde os bombardeios de sexta-feira, que destruíram edifícios da superfície, disse Rafael Grossi, diretor-geral da agência nuclear da ONU.
Parte principal fica no subsolo
A usina possui duas construções, sendo uma subterrânea para proteção contra esse tipo de ataque. No total, a usina de Natanz possui quase 70 cascatas de centrífugas, usadas para enriquecer urânio.
Segundo Grossi, a principal planta de enriquecimento de urânio fica abaixo do solo. "Nada indica que houve um ataque físico contra a parte subterrânea", afirmou.
O diretor da AIEA também afirmou que os níveis de radiação seguem inalterados nos complexos iranianos após os ataques. Grossi revelou que a agência "está pronta para responder a qualquer emergência nuclear ou radiológica em até uma hora". O Centro de Incidentes e Emergências atua 24 horas desde o início das ofensivas.
Enriquecimento de urânio e negociações
Israel iniciou as hostilidades com o objetivo declarado de acabar com o controverso programa nuclear iraniano. Desde então, os dois países trocaram ataques.
Existem dois tipos de programas nucleares: civil e militar. Os programas civis são voltados exclusivamente para usinas nucleares, com o objetivo de gerar eletricidade, enquanto os militares têm como meta a produção de bombas atômicas.
Potências ocidentais, incluindo EUA e Israel, suspeitam que o Irã tem intenção de produzir armas nucleares. Teerã nega e afirma que se trata de um programa civil.
No entanto, o avanço nos níveis de enriquecimento de urânio do Irã pode indicar um objetivo militar, o que é motivo de preocupação. Segundo a AIEA, em 3 meses, a República Islâmica dobrou seu estoque de urânio enriquecido a 60% de pureza, chegando a um nível muito acima do necessário para produção de energia civil.
Oficialmente, Irã não possui armas nucleares. A Arms Control Association, organização norte-americana que monitora os arsenais nucleares pelo mundo desde 1971, divulga que apenas nove países possuem bombas nucleares. São eles: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.
O país é o único estado não nuclear que enriquece urânio a 60%, segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). O país defende o direito ao desenvolvimento nuclear com fins civis, como a geração de energia, e afirma que não aceitará limites nesse aspecto.
Em 2015, após anos de negociação, um acordo foi firmado entre o Irã e a comunidade internacional. Na época, o país concordou em diminuir as atividades nucleares em troca do alívio das sanções econômica impostas contra a República Islâmica.
Mas o EUA se retirou do compromisso em 2018. Em seu primeiro mandato, Donald Trump retirou os EUA do compromisso e os esforços para retomar o diálogo fracassaram. Desde então o Irã se distancia do compromisso de não enriquecer urânio acima de 3,67% —o que foi fixado pelo pacto.
No início do mês, os EUA enviaram uma proposta de acordo sobre o programa nuclear de Teerã. Segundo o New York Times, a proposta pede que o Irã interrompa completamente o enriquecimento de urânio e propõe a criação de um grupo regional para produzir energia nuclear, que incluiria Irã, Arábia Saudita e outros países árabes, além dos Estados Unidos. Sexta-feira, Trump afirmou que foi dado ao Irã um ultimato de 60 dias para um acordo nuclear antes dos ataques de Israel, que aconteceram no 61º dia.
Israel considera a República Islâmica uma ameaça existencial. Segundo o Exército israelense, informações de inteligência indicam que o Irã está se aproximando de um "ponto de não retorno" em seu programa nuclear.
Trump afirmou que o Irã deve fechar o acordo para que o "massacre" acabe. "Já houve grande morte e destruição, mas ainda há tempo para que esse massacre, com os próximos ataques já planejados sendo ainda mais brutais, chegue ao fim", disse Trump em publicação no Truth Social.
O presidente dos EUA chegou a escrever em tom ameaçador: "Chega de morte, chega de destruição, simplesmente façam, antes que seja tarde demais".
(Com AFP, DW, ONU News e Reuters)