João Campos defende Lula, mas diz que governo precisa escolher prioridades

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), acredita que o governo Lula é melhor do que as pessoas avaliam nas pesquisas. Em entrevista ao UOL, ele afirma que o governo precisa deixar suas prioridades mais claras para a população e ser mais "proativo".
Eleito presidente nacional do PSB e visto como símbolo de renovação da esquerda, Campos alerta para a importância da aproximação com os partidos de centro. "Se a esquerda não fizer, a direita fará".
Governo Lula é 'melhor do que as pessoas têm percebido'
Pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira aponta que 40% dos entrevistados avaliam a gestão do governo Lula (PT) como ruim/péssima, 28% acham ótima/boa e 31%, regular. Isso ocorre mesmo com indicadores positivos, como desemprego baixo e crescimento da economia superando as expectativas do mercado financeiro.
João Campos avalia que este descasamento não tem a ver apenas com a comunicação do governo.
O governo tem feito mais do que as pessoas têm percebido, em vários setores. Do agro, por exemplo, no qual você vê a quantidade de mercados que estão sendo abertos para exportação, no estímulo ao livre comércio e que fortalece crédito agrícola, plano safra, e tudo isso não canaliza [apoio ao governo].
Não é só uma tarefa de comunicação. Isso é comunicação, gestão e política, o tripé de qualquer governo. Eu acho que, em cada uma dessas áreas tem pontos assertivos e pontos a serem corrigidos.
João Campos, prefeito do Recife e presidente nacional do PSB
'Se a esquerda não fizer, a direita fará'
João Campos avalia que, para vencer a disputa pela reeleição do ano que vem, Lula precisará ter apoio dos partidos de centro. Atualmente, as siglas do chamado "centrão" mostram distanciamento do petista. Apesar de terem ministérios no governo, impõem dificuldades em pautas de interesse do Executivo no Congresso e flertam com uma candidatura presidencial de direita.
O desejo é poder construir uma frente ampla e se aproximar do centro. Eu tenho batido muito nessa tecla, porque, se você pegar a posição mais extrema à esquerda e a mais extrema à direita, elas são minoritárias. A maioria do Brasil não está nem com uma ponta de um lado, nem com uma ponta do outro. Então ganhará quem fizer o debate correto com o centro. Não significa que você tem que convencer o centro de tudo. Não. Mas significa que você tem que ter uma agenda que o centro se sinta representado.
Eu tenho dito: se a esquerda não fizer, a direita fará. E, enquanto partido, enquanto presidente nacional do PSB, eu vou fazer esse debate para a gente ter um partido mais amplo, um partido que tem posições firmes, tem posições coerentes, mas é um partido que seja acolhedor. Porque fazer política é construir maioria. Vencer a eleição é construir maioria.
'Ah, mas os partidos de centro não estão fáceis no momento para essa conversa.' O principal é trazer primeiro a sociedade. Depois, os partidos vêm.
Para Campos, gestão Lula precisa 'escolher as prioridades'
Na tentativa de superar a maré de baixa popularidade, o governo Lula precisa comunicar melhor as realizações de sua gestão.
Nós temos que escolher as prioridades e tentar fazer com que isso chegue de maneira clara nas pessoas. Por exemplo, você tem um número de milhões de pessoas que saíram da insegurança alimentar. Isso é uma grande marca de governo que as pessoas muitas vezes não sabem. Você tem padrões da economia positivos, você tem um número de desemprego que é o menor de uma série histórica. Você tem o crescimento da economia superando a expectativa, você tem isso chegando na ponta.
As pessoas percebem isso, mas não entendem como uma ação de governo. Então, eu acredito que tem tempo para fazer chegar isso e fazer essa conexão com o povo. Não adianta só você fazer, as pessoas precisam reconhecer que você está fazendo.
'Governo precisa ser mais proativo na construção de agenda'
O governo Lula se vê às voltas com crises sucessivas que afetam a popularidade do presidente, como no caso do Pix e, mais recentemente, no das fraudes em descontos nas aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).
João Campos defende que o governo precisa sair da defensiva contra a oposição para ditar a própria agenda.
O governo tem que construir a agenda, né? Eu acho que precisa ser mais proativo na construção de agenda, pra não ficar refém da agenda do que a oposição coloca. Quem faz a agenda é o governo. Você não precisa ir pelo caminho que seu adversário lhe convida. Então, você tem que fazer ao contrário, é convidar ele para o seu caminho. Então, se a gente leva para um debate mais racional, um debate mais técnico, um debate de coisas concretas, a chance de sair vitorioso é maior.
Mais uma vez, você faz o debate do combate à fome. Isso tem que ser traduzido numa ação de comunicação. Você tem programas como o Pé de Meia, Nova Indústria Brasil. Eu, por exemplo, estava numa ação lá no Nordeste, teve um lançamento de R$ 10 bilhões de crédito para a industrialização do Nordeste. Então, isso, para o Nordeste brasileiro, tem que ser dito.
Tem que ter uma agenda concreta. As pessoas querem uma agenda concreta. E eu acredito que a maioria da população não quer uma agenda polarizada. As pessoas querem coisas que resolvam e melhorem a vida delas.
Campos diz ver aproximação entre Raquel Lyra e Lula com 'tranquilidade'
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), tem feito movimentos de aproximação com Lula, visando apoio do petista à sua candidatura à reeleição para o comando do estado no ano que vem. Ela deve ser a principal adversária de Campos, que cogita deixar a prefeitura para disputar o governo estadual em 2026.
O prefeito espera manter a aliança com Lula, em busca da popularidade do presidente no estado — o petista teve 66,9% dos votos válidos no segundo turno em Pernambuco, em 2022.
O PSB já se posicionou de forma clara que terá candidatura em 2026 (em Pernambuco), assim como nós apoiamos o presidente Lula em 2022. Nós temos o vice-presidente da República e tem uma aliança histórica no Estado construída entre os nossos partidos. Então, eu vejo isso com muita tranquilidade.
Eu vejo que o presidente Lula não está preocupado em eleição nesse momento. Ele está preocupado em governar o país. Então, eu acho que o tempo desse momento, principalmente do presidente Lula, é um tempo de governar e de tratar bem as pessoas, porque ele é uma pessoa civilizada.