Rússia, Venezuela, Hamas e Hezbollah: quem são os aliados do Irã?

Os conflitos no Oriente Médio escalaram ontem após bombardeios de Israel a infraestruturas nucleares e militares no Irã, que matarem dois integrantes do alto escalão da Defesa iraniana. Enquanto um lado conta com o apoio de superpotências como os EUA, o outro está resguardado por países da região e grupos paramilitares.
Rússia e Irã são parceiros de longa data
Moscou e Terã estreitaram laços desde a invasão russa à Ucrânia. Os países assinaram um acordo econômico em dezembro de 2024 para "neutralizar, mitigar e compensar as consequências negativas de medidas coercitivas unilaterais" —uma forma que ambos encontraram de driblar as sanções ocidentais. Mísseis iranianos também já foram encontrados em território ucraniano.
Vladimir Putin condenou hoje o ataque israelense. Em comunicado, o Kremlin informou que o presidente russo "condena as ações de Israel, que violam a Carta das Nações Unidas e o direito internacional".
Porém, é "pouco provável que a Rússia mande soldados ou armamentos para o Irã". A avaliação é da coordenadora do curso de Relações Internacionais do Mackenzie Rio, Fernanda Brandão. Ela lembra que o Kremlin "tem a questão ucraniana para lidar".
Rússia quer mediar conflito. Putin conversou com o presidente do Irã, Masud Pezeshkian, e com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao telefone depois dos bombardeios.
Aliados russos podem tomar partido
A Venezuela, além de aliada da Rússia, tem se aproximado do Irã. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou no fim do ano passado a abertura de uma nova etapa na "poderosa aliança" entre os países, com a assinatura de 80 acordos. As nações cooperam em assuntos relacionados ao petróleo e à transferência de tecnologias, por exemplo, e na reação a sanções norte-americanos. Assim como Cuba, a Venezuela emitiu um comunicado condenando o ataque israelense de ontem.
Outro potencial apoio ao Irã pode vir da Coreia do Norte. O país é aliado de Moscou desde a Guerra da Coreia, na década de 1950, e reconhece a soberania russa em regiões invadidas na Ucrânia. Na última quarta-feira, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, chamou Putin de "querido camarada" e disse que seu país permanecerá sempre ao lado de Moscou.
Porém, "ainda é muito cedo para afirmarmos que haverá envolvimento direto dos países aliados no conflito", avalia Brandão. Segundo a professora, caso esse movimento ocorra, o envio de soldados pela Coreia do Norte, por exemplo, seria uma possibilidade.
Há relatos do envio de soldados norte-coreanos para o front na Ucrânia. Então, no caso de uma escalada da guerra [no Irã], essa pode ser uma possibilidade.
Fernanda Brandão, Coordenadora do curso de Relações Internacionais do Mackenzie Rio
Organizações paramilitares são apoiadas pelo Irã e prometem retribuir
Teerã apoia Hamas e Hezbollah. Em outubro do ano passado, o Irã retaliou bombardeios israelenses que mataram chefes do Hamas e do Hezbollah com o lançamento de cerca de 200 mísseis em território israelense. Além do apoio militar, o país também oferece ajuda financeira às milícias.
Hamas prometeu ficar do lado do Irã. "O Irã está pagando hoje o preço por suas posições firmes em apoio à Palestina e sua resistência, e sua adesão à decisão nacional independente", disse hoje o porta-voz do grupo armado palestino, Abu Ubaida, no Telegram.
O inimigo sionista [Israel] está completamente iludido se pensa que esses ataques traiçoeiros podem minar as frentes de resistência ou estabilizar os pilares dessa frágil entidade na região. Pelo contrário, ele continua a cometer sucessivos erros estratégicos que o levarão mais perto de sua inevitável morte, se Deus quiser.
Porta-voz do Hamas, em comunicado.
Houthis, do Iêmen, também é apoiado pelo Irã e teve conflitos recentes com Israel. Outros possíveis aliados são grupos xiitas do Iraque que se aproximaram do governo iraniano desde a invasão dos EUA, em 2003.
Na avaliação de Brandão, "os grupos que poderiam apoiar o Irã são o Hamas, o Hezbollah e os Houtis". Contudo, ela pondera que "eles se encontram em momento particularmente frágil em decorrência de ataques feitos pelo próprio Exército israelense".
Também é importante observar como vai ser o envolvimento dos aliados israelenses. À medida que outros atores forem sendo puxados para o conflito, veremos o aumento da probabilidade de outros aliados iranianos entrarem também.
Brandão ao UOL