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Humorista admite que mentiu sobre proposta de emprego antes de matar miss

Raissa Suellen Ferreira da Silva foi morta pelo próprio amigo que teria se apaixonado por ela - Reprodução/Instagram
Raissa Suellen Ferreira da Silva foi morta pelo próprio amigo que teria se apaixonado por ela Imagem: Reprodução/Instagram
do UOL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/06/2025 18h36

O humorista Marcelo Alves, assassino confesso da miss Raissa Suellen Ferreira, admitiu que mentiu sobre uma proposta de emprego para atrair a vítima até sua casa.

O que aconteceu

Marcelo inventou uma suposta proposta de emprego em São Paulo para atrair Raissa até sua casa. Em depoimento, o humorista confessou que encontra a miss no dia 30 de maio e falou sobre um trabalho para ela na capital paulista, e a vítima, que o conhecia desde a infância, aceitou a proposta.

Alves explicou que combinou com Raissa que eles viajariam para São Paulo no dia 2 de junho, data em que a miss foi assassinada. "Eu demorava para responder [as mensagens dela] porque eu não estava querendo ir, [estava] desistindo pra ir, sabe? [...] Não tinha proposta de emprego, era mentira", confessou.

Sem saber que era tudo mentira, Raissa chegou a arrumar as coisas para viajar. No dia combinado para a suposta viagem, Marcelo foi buscar a miss na casa em que ela morava com algumas amigas no bairro Portão, em Curitiba.

Marcelo contou que após buscar Raissa, a levou para almoçar e, na sequência, foram para sua casa, onde o crime ocorreu. "Eu me declarei pra ela. Não tem São Paulo, não tem viagem, não tem emprego. Eu trouxe você aqui porque eu gosto de você, e me declarei pra você, to me declarando agora, eu quero ficar com você".

Raissa reagiu, chamou Marcelo de "mentiroso" e de "gordo feio", segundo o próprio humorista. "Quando eu falei isso [que não tem emprego], ela falou: 'você é mentiroso, você disse que tinha emprego em São Paulo, você tá mentindo. Como vou ficar com você? Seu gordo, feio, mentiroso, nojento'. Começou a gritar alto. Eu fiquei com muito ódio, muita raiva, perdi a cabeça, dai aconteceu [o assassinato]".

Humorista também confessou que seu filho, Dhony de Assis, o ajudou a levar o corpo de Raissa para ser enterrado, mas que não teve participação no crime. Dhony confirmou a versão do pai à polícia. "Minha única participação foi só de dirigir o veículo, não quis nem ficar perto do local, esperei ele no carro. Ele tirou o corpo, ele que cavalou o local. Eu não quis participação exatamente com nada", explicou o jovem.

Marcelo segue preso e vai responder pelo crime de feminicídio. Dhony, que vai responder por ocultação de cadáver, chegou a ser preso, mas foi solto sob o pagamento de fiança.

Relembre o caso

Corpo de Raissa, de 23 anos, foi encontrado enterrado após indicação de Marcelo. Vítima foi morta por estrangulamento com um fio de plástico e deixado em uma área de mata na cidade de Araucária, Região Metropolitana de Curitiba.

Raissa estava desaparecida desde 2 de junho. A jovem nasceu em Paulo Afonso, na Bahia, e foi eleita miss teen Serra Branca em 2020, no mesmo estado. Ela morava há três anos em Curitiba.

Autor do crime conhecia a vítima desde a infância e atualmente mora no Paraná. Marcelo teria se oferecido para ajudar Raissa profissionalmente em Curitiba, mas se apaixonou por ela, de acordo com a delegada responsável pelo caso, Aline Manzatto.

Defesa afirma se tratar de um "crime passional", sem premeditação. O advogado Caio Percival afirmou que Marcelo "foi arrastado pelas barras da paixão a essa situação foge, evidentemente, do normal". Percival disse acreditar que o humorista será beneficiado pela confissão do crime e por ter agido em "domínio de violenta emoção após injusta provocação da vítima, já que, em dado momento, houve uma discussão entre eles".

Raissa morava em Curitiba havia 3 anos, em busca de crescimento profissional. Ela sonhava em ser modelo e influenciadora digital. Também havia iniciado recentemente um curso de estética.

"Crime passional" não existe

Apesar de o advogado do agressor falar em "crime passional", o termo não é previsto no Código Penal Brasileiro. Especialistas sugerem que a terminologia é incorreta e pode trazer uma interpretação falha aos processos criminais.

O dito "crime passional" geralmente envolve ciúmes, traição ou desilusão afetiva. Para o Direito Penal, ocorrências que têm como circunstâncias relações conjugais devem ser interpretados caso a caso a partir dos fatos.

Quando o crime envolve violência doméstica ou ataque direto à condição da mulher e há morte, o caso deve ser investigado e discutido como feminicídio. Caso não haja morte consumada, é preferível usar o termo "violência contra a mulher", segundo Rodrigo Azevedo, especialista em Criminologia e professor de Ciências Criminais da PUC-RS.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

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