Amizade de Chico Xavier e Divaldo Franco foi marcada por suspeita de plágio

A relação entre Divaldo Franco e Chico Xavier, dois dos maiores líderes do espiritismo brasileiro, chegou ao fim entre os anos 1950 e 1960, depois que acusações de plágio e ressentimentos comprometeram a amizade.
O que aconteceu
Chico e Divaldo se conheceram ainda na juventude. Em 2015, o médium baiano revelou ao "Fantástico", da TV Globo, que foi ele quem procurou Chico. "Ele nunca me tinha visto. E então chegou-se a mim, estendeu a mão e disse: 'olá, Divaldo. Como vai?'", relembrou.
No início, os dois cultivaram uma amizade. Mas a partir dos anos 1950, começaram a surgir acusações de membros da Federação Espírita Brasileira de que Divaldo plagiava as mensagens psicografadas por Chico. O mineiro, a certa altura, acreditou. "O questionamento a ele vem de muito tempo. Há várias acusações de plágio contra Divaldo, o próprio Chico Xavier fez essa acusação", contou ao UOL em 2023 a médium Dora Incontri, presidente da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita. À época, Divaldo foi procurado, mas não se pronunciou.
Os dois se ressentiram e ficaram 22 anos sem se falar, segundo a revista Veja. As datas do afastamento seriam incertas, já que a biografia de Divaldo relata um encontro entre os dois em 1960.
Este encontro com Chico teve interferência de espírito obsessor, segundo Divaldo. O médium baiano afirmava ter sido perseguido durante três décadas por um espírito que se identificava como um sacerdote romano e tentou induzi-lo ao suicídio. O caso está relatado com detalhes na biografia "O Semeador de Estrelas", escrita por Suely Caldas Schubert, e publicada pela Mansão do Caminho, centro espírita fundado pelo médium em Salvador.
Durante a reunião mediúnica com Chico Xavier, em Uberaba, o espírito teria se manifestado publicamente. "Ele não se apresentou como inimigo. Falou como sendo aquele que vinha cumprir uma missão: destruir o Espiritismo", relatou Divaldo. O médium interpretou a mensagem como uma tentativa de sabotar a doutrina e "baratear a mediunidade".
Nos anos seguintes, os dois teriam se mantido afastados, mas Chico deixou a mágoa de lado em 1974, ainda segundo a Veja. Fotos publicadas pela Mansão do Caminho mostram os dois médiuns sorrindo juntos em encontros de 1980 —a rixa, aparentemente, havia se desfeito. A biografia não espírita "Divaldo Franco", de Ana Landi, confirma que os dois chegaram a se reaproximar.
Nem todos os seguidores de Chico perdoaram Divaldo pelo suposto plágio, o que teria afastado o baiano do centro do amigo em Uberaba. Ao "Fantástico", Divaldo disse que era "natural" que pessoas ligadas a Chico "torcessem o nariz" para ele. "São fenômenos humanos. As pessoas nos veem conforme sua própria ótica".
Após a morte de Chico, Divaldo teria feito questão de visitar seus seguidores, contou Ana Landi ao programa da Globo. "Como se fechasse um ciclo, né? Em que duas das figuras mais importantes do espiritismo no Brasil e talvez no mundo fizessem as pazes mesmo sem o Chico presente", disse.
Em 2019, o baiano confessou que "sempre amou muito" Chico. Durante a divulgação do filme sobre sua vida, "Divaldo - O Mensageiro da Luz", ele negou ao jornal Folha de S.Paulo que se visse como um sucessor do amigo. "Pra mim, ele é um grande mestre. Não me sinto um continuador do trabalho dele, mas me sinto como alguém envolto, como ele, da propaganda do espiritismo. Ele era 'hors-concours' pela sua irradiação de amor e paz, por isso ele foi pra mim um grande mestre".
*Com informações de matérias publicadas em 01/03/2023 e 16/05/2025.