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Turquia recebe reunião entre Ucrânia e Rússia marcada pelo pessimismo

16/05/2025 01h47

Delegações da Rússia e da Ucrânia iniciaram nesta sexta-feira (16) em Istambul o primeiro encontro direto entre representantes dos países desde 2022, mas as grandes divergências e a ausência de Vladimir Putin reduziram as expectativas de uma solução rápida para o conflito.

O porta-voz da diplomacia ucraniana compartilhou com a AFP uma foto das duas delegações sentadas frente a frente, ao lado de mediadores turcos. A televisão estatal russa também exibiu imagens do encontro. 

Outra reunião aconteceu algumas horas antes no palácio de Dolmabahçe, com a participação, entre outros, do chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, e de seus homólogos turco e ucraniano.

"É de importância crucial que um cessar-fogo seja aplicado o mais rápido possível", insistiu o chanceler turco, Hakan Fidan.

Após meses de pressão dos Estados Unidos sobre os dois lados e de um ultimato dos aliados europeus de Kiev, o presidente russo propôs no sábado conversações diretas com a Ucrânia para tentar encerrar mais de três anos de guerra.

Seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky, aceitou e desafiou Putin a comparecer à cidade turca, mas o Kremlin enviou uma delegação de segundo escalão, o que dissipou as esperanças de avanços.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cogitou viajar à Turquia e declarou que "nada acontecerá" até que ele se reúna pessoalmente com seu homólogo russo.

Nesta sexta-feira, ele afirmou que se reunirá com Putin "assim que conseguirmos organizar" um encontro. O Kremlin reconheceu que um encontro "certamente é necessário". 

O encontro estava previsto inicialmente para quinta-feira, mas, após um dia conturbado e uma troca de insultos entre as partes, foi adiado para esta sexta-feira.

O principal nome da delegação russa é o conselheiro da presidência Vladimir Medinski, que participou nas negociações infrutíferas de março de 2022 e é conhecido por sua interpretação nacionalista da história da Rússia.

A representação ucraniana é liderada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov, que recebeu de Zelensky o mandato para tentar obter um cessar-fogo no conflito iniciado com a invasão russa em fevereiro de 2022.

- "Acabar com o massacre" -

O chanceler ucraniano, Andrii Yermak, insistiu antes das conversações diretas que a "prioridade" do país é obter "um cessar-fogo incondicional". 

Também será discutida a possibilidade de um encontro entre Zelensky e Putin, segundo uma fonte diplomática ucraniana que pediu anonimato. 

A Ucrânia também pedirá o retorno das crianças ucranianas que, segundo Kiev, foram "deportadas para a Rússia", o que Moscou nega, e uma troca de prisioneiros de guerra, acrescentou a fonte.

Pouco antes do encontro, Kiev acusou Moscou de impedir a participação dos Estados Unidos nas negociações para que "não estejam em nenhuma reunião".

Rubio, por sua vez, pediu o fim do "massacre" na Ucrânia, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce. 

O chefe da diplomacia americana afirmou na quinta-feira que não tinha "grandes expectativas sobre o que acontecerá amanhã".

Zelensky, que se reuniu na quinta-feira em Ancara com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a Rússia de "não levar as reuniões a sério" ao enviar uma delegação de segundo escalão, que ele chamou de "pura fachada". Moscou respondeu chamando o presidente americano de "palhaço" e "fracassado".

Putin cometeu um "grande erro" ao enviar uma delegação de segundo nível a Istambul, criticou Mark Rutte, secretário-geral da Otan.

- Divergências -

Além da troca de farpas, os pontos de partida das duas delegações são muito distantes. 

A Rússia exige que a Ucrânia desista do processo de adesão à Otan e a garantia de que conseguirá manter os territórios ucranianos anexados, condições inaceitáveis para Kiev e seus aliados. 

A Ucrânia, por sua vez, quer sólidas "garantias de segurança" ocidentais para evitar novos ataques russos e que o Exército de Moscou, que controla quase 20% do território ucraniano, abandone o país.

Washington pressiona as duas partes para acabar rapidamente com o conflito, como Trump prometeu em sua campanha presidencial. Mas, diante da falta de progressos, o americano ameaçou desistir do esforço.

Os governantes da França, do Reino Unido, da Alemanha e da Polônia visitaram Kiev na semana passada.

Em Kiev, eles pressionaram Moscou, com o apoio de Washington, a aceitar um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias a partir da segunda-feira passada. Putin não respondeu diretamente ao ultimato, mas propôs em troca a realização das negociações diretas em Istambul.

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© Agence France-Presse

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