Lixo e obras atraem: cidades são tomadas por escorpiões; acidentes disparam

O número de acidentes envolvendo picadas de escorpiões dobrou no Brasil nos últimos 10 anos, passando de 172 mil casos notificados em 2015 para 334 mil em 2024, segundo dados do Ministério da Saúde. Os casos têm se tornado cada vez mais comuns em áreas urbanas, deixando de ser uma preocupação apenas da população rural.
O que aconteceu
Os escorpiões vêm se adaptando cada vez mais aos ambientes urbanos, conseguindo se proliferar com facilidade. O que ajuda é o fato de eles se alimentarem de baratas e pequenos insetos, que facilmente são encontrados nas cidades. Locais com acúmulo de lixo, entulho, e restos de obras também atraem esses animais. Os escorpiões preferem ambientes com sombra, e por isso se movimentam mais no período noturno.
Outro fator que contribui para esse aumento é ausência de predadores nas cidades. "As cidades estão crescendo desgovernadamente e a gente tem uma perda dos principais predadores desses animais. Então existem diversas aves, lagartixas, sapos, gambás, que comeriam na natureza escorpiões, (...) mas na cidade esses animais não se aproximam", explica Thiago Chiariello, coordenador de produção de soro antiescorpiônico no Instituto Butantan.
A dedetização por si só não elimina o escorpião, que são resistentes aos produtos químicos, mas ela pode eliminar ou diminuir os insetos com os quais ele se alimenta. Só que isso pode gerar um segundo problema, segundo Camila Carbone Prado, Médica Assistente do Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) da Unicamp. "Isso obriga ele a se deslocar para tentar achar comida em outro lugar, o que pode aumentar o número de acidentes, pois aumenta a chance de encontrar um ser humano no deslocamento.
Números preocupantes
Além de os casos de acidentes com escorpiões terem dobrado no Brasil em 10 anos, há outro dado preocupante: os acidentes com escorpiões são a maioria dos casos envolvendo animais peçonhentos. Entre 2015 e 2024 foram 1,5 milhão dos 2,6 milhões de casos, o que corresponde a 58,4% do total. Para se ter uma ideia, na sequência estão os acidentes com aranhas, que foram menos de 350 mil no mesmo período.
A letalidade não chega a ser alta, e está em 0,14% nos últimos 10 anos. Porém, os acidentes envolvendo escorpiões são mais preocupantes no público infantil, especialmente nas crianças de até 10 anos, pois muitas vezes elas não sabem que foram picadas por escorpiões.
Como evitar e o que fazer se for picado?
Para evitar escorpiões dentro de casa, é preciso manter ralos fechados, tapar frestas de portas, não acumular entulho, madeira e folhas secas em garagens e jardins. Segundo a médica, esses acúmulos criam ambientes com sombra, onde os escorpiões buscam se abrigar. "Também é preciso ter cuidado na hora de calçar sapatos, e verificar antes, pois eles também podem se abrigar ali. Outro cuidado necessário é com o lixo, que deve permanecer fechado, com tampa, para não atrair insetos, que podem atrair os escorpiões", explica Camila Prado.
Os locais mais perigosos dentro de casa são os mais escuros, como armários e frestas entre móveis e paredes. Caixas e outros itens há muito tempo sem uso também podem se tornar esconderijos.
Os escorpiões atacam ao se sentirem ameaçados, o que geralmente ocorre quando são tocados ou pisados. Por isso, jamais tente pegar um escorpião com as mãos desprotegidas, e entre em contato com o Centro de Controle de Zoonozes de sua cidade ao encontrar o animal.
Os sintomas mais comuns da picada são: sensação intensa de ardência e dor no local, inchaço, vermelhidão e coceira na região atingida. Em casos mais graves, a reação evolui para febre e, em situações extremas, choque anafilático.
Caso uma pessoa seja picada, ela deve procurar imediatamente o serviço de emergência mais próximo. Um médico irá avaliar o caso, e se necessário, recomendará o soro antiescorpiônico. O problema é que ele não está disponível em todos os hospitais, e sequer em todas as cidades, e é provável que uma transferência seja necessária.
O Ministério da Saúde disponibiliza uma lista dos hospitais de referência para soroterapia de acidentes por animais peçonhentos. A lista é separada por estado, constando as cidades, nomes dos hospitais, endereços, telefones, entre outros dados.
Entre outras medidas para prevenir ataques, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do estado de São Paulo recomenda:
- Manter jardins e quintais limpos;
- Evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção nas proximidades das casas;
- Evitar folhagens densas (plantas ornamentais, trepadeiras, arbusto, bananeiras e outras) junto a paredes e muros das casas;
- Manter a grama aparada;
- Limpar periodicamente os terrenos baldios vizinhos, pelo menos, numa faixa de um a dois metros junto às casas;
- Sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, pois aranhas e escorpiões podem se esconder neles e picam ao serem comprimidos contra o corpo;
- Não pôr as mãos em buracos, sob pedras e troncos podres. Usar calçados e luvas de raspas de couro para atividades em que seja preciso colocar a mão e pisar em buracos, entulhos e pedras;
- O escorpião apresenta hábito noturno, e assim, para evitar sua entrada nas casas, deve-se vedar as soleiras das portas e janelas quando começar a escurecer;
- Usar telas em ralos do chão, pias ou tanques;
- Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos e vãos entre o forro e as paredes, consertar rodapés despregados, colocar saquinhos de areia nas portas, colocar telas nas janelas;
- Afastar as camas e berços das paredes;
- Evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem no chão;
- Não pendurar roupas nas paredes;
- Acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes que possam ser mantidos fechados, para evitar baratas, moscas ou outros insetos que servem de alimento para os escorpiões.
*Com informações publicadas em 05/11/2024, 05/02/2024 e 17/07/2019.