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Zambelli diz ter 'sinal verde' na Câmara para suspensão de processo no STF

do UOL

Do UOL, em São Paulo

15/05/2025 15h11Atualizada em 15/05/2025 17h23

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) criticou hoje o julgamento do STF que a condenou por invasão ao sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e falsidade ideológica. A parlamentar afirmou ainda que tem "sinal verde" na Câmara para votação da suspensão do processo.

O que aconteceu

Vamos esperar o melhor momento para isso acontecer, disse Zambelli sobre votação na Câmara. Segundo ela, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), deu o sinal verde para o líder do PL, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). "Tudo, na vida política, a gente precisa ter o determinado momento de fazer", afirmou.

A defesa de Zambelli já havia pedido ao STF que o julgamento fosse interrompido. Os advogados da parlamentar queriam que o caso fosse analisado só depois de a Câmara decidir se a ação penal devia ou não ser suspensa. Moraes rejeitou o pedido —a estratégia da defesa era usar a mesma tática de Alexandre Ramagem (PL-RJ) no processo por tentativa de golpe de Estado, mas que também foi rejeitada pelo Supremo.

Questionada sobre por que o "tempo" dela e de Ramagem são diferentes, a deputada justificou que o processo do deputado "envolve muitas pessoas". "E o dele, teoricamente, era mais fácil de provar que ele não tinha nada a ver com a história. Ou não também, não sei. Eu mesma dei um passo para trás na minha defesa quando vi que o Ramagem estava precisando", argumentou. O deputado do Rio de Janeiro é um dos réus por tentativa de golpe de Estado. A suspensão da ação penal contra ele pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A deputada e seu advogado, Daniel Bialski, criticaram os depoimentos dados pelo hacker Walter Delgatti Neto. Segundo a parlamentar, Delgatti deu seis depoimentos diferentes para a PF —ele também foi condenado no processo e recebeu pena de oito anos e três meses de prisão. Já Zambelli foi condenada pela Primeira Turma do STF a dez anos de prisão, além da perda do mandato. Os dois deverão pagar uma multa de R$ 2 milhões em danos materiais e morais coletivos pela invasão aos sistemas do CNJ.

Bialski também voltou a criticar a escolha do STF pelo plenário virtual para o julgamento. "Tenho enorme respeito por todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, mas é absolutamente inaceitável, do ponto de vista da defesa, que o julgamento tenha sido procedido de forma virtual", disse.

A parlamentar chamou uma coletiva de imprensa na sede do PL de São Paulo. Ela atendeu aos jornalistas na calçada do prédio. Seus assessores usavam camisetas com a frase "946.244 vozes caladas" —o número é uma referência ao total de votos recebidos por ela nas eleições de 2022.

Não me vejo capaz de ser cuidada como devo ser na prisão, disse Zambelli. A deputada argumentou que sofre de depressão, de uma síndrome que causa arritmia e de outra que gera "pele elástica". "Os médicos são unânimes em afirmar que eu não sobreviveria na cadeia", afirmou.

A defesa entrará com um recurso chamado embargos de declaração. As ações dos advogados não alteram o resultado da decisão, mas conseguem adiar o trânsito em julgado —ou seja, uma eventual prisão da deputada. Para isso ocorrer também, a Câmara dos Deputados precisa autorizar, assim como a perda de mandato.

Zambelli disse que não foi procurada por Bolsonaro, mas negou estar sem apoios. Publicamente foram poucos, mas no meu privado, ligações, já passaram de 200 pessoas", afirmou. A deputada explicou que "de um tempo para cá, não esperava ser acolhida, numa situação como a gente está é difícil esperar acolhimento, mas eu tenho acolhimento da família: a Michelle [Bolsonaro já me procurou".

A deputada sugeriu aos jornalistas que colocassem o voto de Moraes para sua condenação no ChatGPT para uma análise. "O próprio ChatGPT elenca pelo menos uns oito tipos de contradições, inclusive para a defesa, ele diz que a defesa não teve chance de oito coisas diferentes", afirmou Zambelli.

Não iria, de forma alguma, brincar de fazer invasão ao CNJ, de mandar prender o ministro Alexandre de Moraes com um documento assinado por ele próprio. Assim, é tão ridículo que, como disse a ministra Carmen Lúcia, seria burrice. Eu não colocaria o meu mandato em risco por causa de uma brincadeira sem graça.
Carla Zambelli, deputada federal (PL-SP)

Relembre o caso

Antes de a Turma formar maioria, a defesa de Zambelli já havia reclamado do julgamento. Em nota divulgada à imprensa, os advogados ressaltaram "irresignação" com o voto do relator, o ministro Alexandre de Moraes, e afirmaram que a cliente foi "condenada sem provas".

Para a PGR (Procuradoria-Geral da República), a deputada federal planejou e comandou a invasão aos sistemas do CNJ. "Vale ressaltar que os documentos falsos inseridos no sistema, além do mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, incluíam ordens de bloqueio de valores milionários, revelando o intuito deliberado de causar grave abalo à imagem e à credibilidade da mais alta Corte do país", disse Moraes em seu voto.

À Polícia Federal, o hacker disse que recebeu dinheiro da deputada para invadir os sistemas. Delgatti, conhecido como o "hacker de Araraquara", afirmou que foi procurado pela parlamentar para realizar a invasão. A defesa dele ainda chama a parlamentar de mentora da operação.

O STF já formou maioria para condenar Zambelli por porte ilegal de arma. Nas vésperas do segundo turno das eleições de 2022, a deputada apontou uma arma para um homem negro em São Paulo. O julgamento foi suspenso após o ministro Kassio Nunes Marques pedir vista do processo.

A parlamentar também teve o mandato cassado neste ano pelo TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) por desinformação eleitoral. A decisão só passa a valer, entretanto, após o fim de todos os recursos.

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