Sobe para 180 número de vítimas de suspeito preso por estupros no RS

Aumentou o número de possíveis vítimas do homem preso por suspeita de cometer estupros virtuais e presenciais contra meninas que ele conhecia por meio das redes sociais.
O que aconteceu
Polícia Civil do Rio Grande do Sul identificou a existência de ao menos 180 possíveis vítimas. O principal suspeito pelos crimes é Ramiro Gonzaga Barros, 36, que morava em Taquara, na região metropolitana de Porto Alegre. Ele está preso desde janeiro deste ano.
Vítimas são crianças, todas do sexo feminino, que tinham de 8 a 13 anos na época dos fatos. As meninas não eram apenas moradoras do Rio Grande do Sul, estado de origem de Ramiro. A investigação identificou possíveis vítimas do Acre, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
Ramiro se aproximava das vítimas com perfis falsos nas redes sociais. Ele se passava por outra pessoa (geralmente por meninas mais novas), criando amizade com as vítimas, para depois pedir vídeos íntimos das garotas, segundo a PCRS.
Vídeos íntimos e fotos das crianças e adolescentes eram catalogados em 750 pastas com conteúdo de pornografia infantil. A investigação encontrou 6.827 fotos e 2.237 vídeos de possíveis vítimas em dispositivos do suspeito que foram apreendidos pela polícia. O material era classificado por nomes ou apelidos das meninas, o que foi usado para identificá-las.
Alguns dos estupros teriam sido praticados presencialmente. De acordo com a PCRS, foram expedidos ao menos três mandados de prisão preventiva contra Ramiro por violência sexual contra meninas menores de 13 anos.
Ramiro atuava como professor em projetos sociais de Taquara e cidades da região. Ele se oferecia para dar aulas de muay thai, violão, ginástica, desenho e tecido de circo. O suspeito é dono de uma loja de animais exóticos que recebia visitação de escolas.
Ministério Público do Rio Grande do Sul tem feito busca ativa para prestar apoio psicológico às vítimas. O órgão vai oferecer espaços de acolhimento às meninas e aos familiares delas por meio das Centrais de Atendimento às Vítimas do MP gaúcho.
Defesa de Ramiro afirma "não desconhecer a gravidade dos fatos que estão sendo apurados". No entanto, o advogado Rodrigo Batista ressaltou que a investigação deve respeitar os limites de um devido processo legal.
Sigilo do processo na Justiça não é respeitado pela polícia, diz advogado. Ao UOL, Batista afirmou que a divulgação de dados sensíveis sobre a identidade do suspeito tem contribuído não só na exposição das vítimas e de seus familiares, como também tem tornado os familiares de Ramiro alvo de linchamento virtual.
Como denunciar violência contra crianças e adolescentes
Denúncias sobre violência contra crianças e adolescentes podem ser feitas pelo Disque 100 (inclusive de forma anônima), na delegacia de polícia mais próxima e no Conselho Tutelar de cada município.
Se for um caso de violência que a pessoa estiver presenciando, pode ligar no 190, da Polícia Militar, para uma viatura ir no local. Também é possível se dirigir ao Fórum da Cidade e procurar a Promotoria da Infância e Juventude.
Quem não denuncia situações de perigo, abandono e violência contra crianças e adolescentes pode responder pelo crime de omissão de socorro, previsto no Código Penal. A lei Henry Borel também prevê punições pra quem se omite.
Funcionários públicos que se omitem no exercício de seus cargos, em escolas, postos de saúde e serviços de assistência social, entre outros, podem responder por crime de prevaricação.
A violência sexual contra a mulher no Brasil
No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.
Como denunciar violência sexual
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.