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Quem é Lucía Topolansky, a viúva de Pepe Mujica

Mujica e a esposa, Lucía Topolansky, em 2023 - Agencia Makro/Getty Images
Mujica e a esposa, Lucía Topolansky, em 2023 Imagem: Agencia Makro/Getty Images
do UOL

Colaboração para o UOL

14/05/2025 05h30

Viúva do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, que morreu hoje aos 89 anos, Lucía Topolansky não foi apenas primeira-dama, mas tem uma expressiva carreira política.

Quem é Lucía Topolansky?

Nascida em Montevidéu em 1944, Topolansky tem uma irmã gêmea, María Elia. Ambas são as caçulas de sete filhos do engenheiro civil e empresário de construção Luis Topolansky Müller e de María Elia Saavedra Rodríguez. O pai da viúva de Mujica nasceu em Budapeste e estudou em Viena antes de se mudar para o Uruguai a trabalho. A mãe de Lucía era muito católica e o pai tinha convicções políticas conservadoras.

A esposa de Mujica chegou a viver no balneário de alto padrão de Punta del Este. Mas, após o governo de Juan Perón, os argentinos endinheirados foram proibidos de passar férias no Uruguai, e a empresa de seu pai foi à falência, segundo reportagem do jornal Clarín.

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Lucía Topolansky, o ex-presidente da Argentina Alberto Fernandez; José 'Pepe' Mujica e o chanceler Felipe Solá em 2019
Imagem: Tomas Cuesta/Getty Images

Após a crise financeira, o pai de Lucía adoeceu com câncer. Ela passou a depender financeiramente do avô, o juiz de paz Enrique Saavedra, que custeou sua educação em colégios particulares, incluindo o Sacré-Coeur (Sagrado Coração), rede de instituições de ensino católicas espalhadas pelo mundo há mais de um século.

Um dia, cheguei em casa e vi minha mãe muito preocupada [se preparando para] ir ao Sacré-Coeur porque as freiras a tinham chamado para uma reunião de emergência. O que aconteceu? Lucía e María Elia haviam organizado um tipo de greve para resistir a algumas regras muito rígidas que elas tinham na escola. Minha mãe acalmou as freiras e falou com as minhas irmãs — que eram excelentes alunas — para apaziguar as coisas. No final, [as queixas] não foram longe. Enrique Topolansky, irmão de Lucía, ao Clarín em 2009.

Durante os anos de faculdade, ela se tornou militante política de esquerda. Lucía chegou a estudar arquitetura na Universidade da República do Uruguai, onde ficou conhecida pelo apelido "La Tronca" ("o tronco") e pelas fortes convicções sociais e políticas das consequências de luta entre classes, que teria desenvolvido ainda durante o colégio, acompanhando a Revolução Cubana (1953-1959). O curso ainda promovia visitas a áreas carentes de Montevidéu, similares às favelas brasileiras, que a teriam tornado atenta às dificuldades das classes mais baixas.

Em 1967, ela entrou para o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T) com a irmã. Ambas "sumiram do mapa", em esconderijos do grupo, o que teria surpreendido a família, de acordo com jornais uruguaios e argentinos. Em 1969, ela abandonou de vez o curso de arquitetura.

Com os Tupamaros, ela se tornou aos 20 anos uma das guerrilheiras mais temidas e procuradas do Uruguai. A priori, a luta armada tinha como alvo autoridades envolvidas em acordos considerados "escusos", de acordo com informações do El País e do Clarín. Ela e sua irmã chegaram a ser presas pela primeira vez nesta época e teriam surpreendido militares uruguaios por serem pequenas e frágeis, "duas feras com cara de menina". Na primeira vez, ela escapou pela tubulação de esgoto.

No início dos anos 70, durante a ditadura militar uruguaia de Bordaberry, Lucía foi presa novamente. Ela passou 13 anos na cadeia, onde foi torturada física e psicologicamente. "Lucía sempre falou sobre dignidade. Um dia, mandaram que ela limpasse o chão da prisão e um guarda, após chutar seu balde, mandou que ela fizesse o trabalho novamente. Ela ficou parada com seus braços cruzados e nunca obedeceu a ordem. Ela passou dois meses sem visitantes por isso", relembrou o irmão Enrique ao Clarín em 2017.

Lucía Topolansky, em 2023 - SOPA Images/SOPA Images/LightRocket via Gett - SOPA Images/SOPA Images/LightRocket via Gett
Lucía Topolansky, em 2023
Imagem: SOPA Images/SOPA Images/LightRocket via Gett

Mujica e Lucía se envolveram durante seus anos com os Tupamaros. Com a lei da anistia, em 1985, ela deixou a prisão e fundou com ele o MPP, Movimento de Participação Popular, que tinha como objetivo a participação na vida política do país, mas por meio das urnas.

Em 2000, ela foi eleita membro da Câmara dos Deputados do Uruguai. Ela ocupou a posição até 2005, quando se tornou senadora da República e, finalmente, subiu ao altar com o marido depois de muitos anos vivendo juntos.

Mesmo durante seus anos como primeira-dama, ela continuou sendo senadora. Mujica foi presidente entre 2010 e 2015, e a gestão de Lucía no Senado durou até 2017. O casal virou notícia no jornal americano The New York Times em 2013 por se recusar a viver no palácio presidencial, preferindo continuar morando em um rancho na periferia de Montevidéu, onde criavam crisântemos e diversos pets — como a famosa cadela de três patas Manuela, morta em 2018.

Em 2017, Lucía se tornou a primeira mulher a ser vice-presidente do Uruguai. Ela já havia ocupado a posição interinamente por dois dias em novembro de 2010, quando Mujica e seu vice viajaram. Mas, em setembro de 2017, ela foi apontada pelo Senado como vice-presidente de fato, após a renúncia do presidente Raúl Fernando Sendic. Isso aconteceu porque ela era a segunda senadora mais votada do partido nas mesmas eleições que elegeram Sendic e seu vice — e o senador mais votado não podia assumir porque já havia sido presidente em mandato anterior.

Lucía ocupou o cargo de vice até 2020. Daquele ano até 2022, ela retornou ao Senado. Desde então, ela se manteve ativa junto ao partido com o marido, que enfrentava um câncer de esôfago nos últimos anos de sua vida.

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