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"Precisamos de rotas que sejam vetores de desenvolvimento", diz Lula em cúpula da Celac na China

13/05/2025 10h14

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva termina a sua agenda oficial na China com um jantar, na noite desta terça-feira (13) em Pequim. Durante uma reunião diplomática com dezenas de países latino-americanos com os quais busca estreitar laços, o presidente chinês Xi Jinping denunciou a "intimidação" dos Estados Unidos, apresentando-se como um defensor do multilateralismo. Lula e seus colegas celebraram os compromissos da China na ajuda ao desenvolvimento da Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos (Celac).  

Em seu discurso nesta terça-feira, o anfitrião do encontro descreveu uma oportunidade para a China convocar uma frente unida contra a guerra tarifária lançada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. "Somente por meio da unidade e da cooperação, os países podem preservar a paz e a estabilidade mundiais, bem como promover o desenvolvimento e a prosperidade em todo o mundo," afirmou Xi Jinping.  

O presidente chinês disse querer aprofundar laços com a América Latina em um momento de "confronto entre blocos". Pequim denunciou o que chamou de "assédio moral e hegemonia" e prometeu US$ 9,2 bilhões em crédito para a América Latina e o Caribe. 

"É muito importante que o presidente Xi Jinping tenha assumido cinco compromissos na ajuda ao desenvolvimento dos países da Celac. Eu acho isso extraordinariamente positivo, sobretudo num momento em que os países mais pobres precisam de ajuda dos países mais ricos", avaliou o presidente brasileiro, após participar das sessões de trabalho da cúpula em Pequim. "Estou feliz, é a primeira vez que eu participo dessa reunião aqui na China e saio satisfeito, além dos acordos que nós estamos fazendo com o Brasil", reiterou Lula.

"Vetores de desenvolvimento"    

A China é o maior parceiro comercial do Brasil e de boa parte dos membros da Celac. A balança comercial entre esses países e o gigante asiático somou US$ 427 bilhões entre janeiro e setembro de 2024, segundo dados do Ministério de Comércio da China. O objetivo da cúpula é aumentar o volume dessas transações, no momento em que Pequim precisa encontrar novos destinos para a produção industrial, em meio à guerra comercial de Trump.  

Ao discursar no evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a integração entre os países da América Latina e uma forte parceria comercial e estratégica com a China. "A demanda chinesa foi um dos propulsores do crescimento que experimentamos no início do século", observou Lula. "Obtivemos avanços expressivos na redução da pobreza e na desigualdade", destacou.  

"O apoio chinês é decisivo para tirar do papel rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão. Mas a viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países para conferir a essas iniciativas escala regional", disse o presidente. "Não precisamos apenas de corredores de exportação, mas de rotas que sejam vetores de desenvolvimento e união", acrescentou. "Por séculos, recursos extraídos da América Latina e do Caribe enriqueceram outras partes do mundo. Temos a chance de fazer diferente", lançou.  

Lula ainda defendeu o multilateralismo e o livre comércio, afirmando que é preciso ter trocas equilibradas entre os países. "A revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre nações", acrescentou, exigindo que o desenvolvimento da inteligência artificial não seja um privilégio de poucos. "A América Latina e o Caribe podem mostrar ao mundo que é possível conter as mudanças do clima sem abdicar do crescimento econômico e da justiça social", afirmou Lula, citando a COP 30 na Amazônia como um ponto de virada para soluções coletivas.  

"Não há saída para nenhum país (da América Latina) individualmente. Nós temos 500 anos de história que provam isso. Ou nós nos juntamos, entre nós, e procuramos parceiros que queiram, junto conosco, construir o mundo compartilhado, ou a América Latina tende a continuar sendo uma região que representa a pobreza no mundo de hoje", afirmou. 

"O futuro da América Latina não depende do presidente Xi Jinping, do presidente dos EUA, e nem depende da União Europeia. Depende pura e simplesmente de a gente querer ser grande ou continuar pequeno", reforçou o líder brasileiro, na presença da ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco dos BRICs. 

A China também se comprometeu a colaborar mais com a América Latina no combate ao terrorismo e ao crime organizado transnacional, segundo Xi Jinping, ao mesmo tempo em que fortalecerá os intercâmbios entre pessoas por meio de bolsas de estudo e programas de treinamento. 

Os líderes de esquerda do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro também estavam presentes no encontro em Pequim. Boric propôs um "salto qualitativo" nos laços econômicos entre a China e o Chile.  

O presidente da Colômbia, por sua vez, pediu uma diplomacia "livre de autoritarismo e imperialismo". Sem nomear os Estados Unidos, ele criticou a política econômica americana, o tratamento dado aos migrantes e a postura cética de Washington em relação ao clima, pedindo uma "troca igualitária entre civilizações".  

Seminário Empresarial China-Brasil 

Diante do cenário de crise comercial entre Estados Unidos e a China, o momento é visto como oportuno para o Brasil fortalecer os seus laços comerciais com o mercado chinês. "O mundo vive um momento de muita tensão, provocada pelo governo de Donald Trump, e esse tensionamento traz um cenário de muitas incertezas. Diante disso, há uma oportunidade e uma necessidade de uma maior aproximação entre o governo brasileiro e a China", explica Jorge Viana, presidente da Apex Brasil, que acompanha Lula na China.  

Na segunda_feira (12), Lula participou de um seminário empresarial China-Brasil com a presença de autoridades dos dois países, além de 700 empresários chineses e brasileiros. Para o governo, o evento significou mais um passo para fortalecer o intercâmbio bilateral e criar oportunidades de comércio e desenvolvimento.   

"China e Brasil são parceiros estratégicos e atores incontornáveis nos grandes temas globais. Frente ao ressurgimento de tendências protecionistas, apostamos na redução das barreiras comerciais e queremos mais integração", disse o presidente brasileiro na ocasião. "Os empresários são protagonistas de um dos eixos mais dinâmicos do relacionamento bilateral, com a estruturação de novas cadeias de valor, a transição para uma economia de baixo carbono e o fortalecimento do intercâmbio científico e tecnológico", continuou Lula.  

Durante o encontro em Pequim, foram anunciados investimentos chineses no Brasil que somam cerca de R$ 27 bilhões, abrangendo a indústria automotiva, energia renovável, tecnologia, mineração, saúde, logística e alimentos.  

"Queremos exportar mais e comprar mais. Boa política é aquela que é uma via de duas mãos, um jogo de ganha-ganha", reforçou o presidente brasileiro. 

Um elemento central da estratégia de Pequim desde 2013 para aumentar a sua influência internacional são as "Novas Rotas da Seda". O programa visa construir infraestrutura marítima, rodoviária e ferroviária, principalmente em países em desenvolvimento. Dois terços dos países latino-americanos já aderiram. 

(Com AFP)

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