Motta cobra autocrítica de poderes: 'Não é só um que vai harmonizar o país'

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), cobrou hoje que os três Poderes da República —Executivo, Legislativo e Judiciário— façam uma "autocrítica" e contribuam para acabar com a "polarização" do país.
O que aconteceu
Motta pediu a "pacificação" do Brasil e disse que nenhum dos Poderes sozinho conseguirá levar o país a um clima de normalidade. "Nós, no Parlamento, vamos trabalhar para blindar a nossa pauta dessa polarização. (...) Não é só um Poder que vai conseguir harmonizar o país. É dialogando o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário, cada um em suas responsabilidades", disse durante participação no evento Lide Brazil, em Nova York.
Motta evitou críticas diretas ao STF, com o qual a Câmara está em constante atrito, mas citou o "gasto de energia" com temas que considera desnecessários. "Não podemos viver numa polarização política radicalizada que faz muitas vezes nós termos um gasto de energia com assuntos que ao final do dia não produzem absolutamente nada", afirmou o presidente da Câmara, que também destacou que o desenvolvimento econômico do país depende da superação da polarização.
Fala de Motta vem em meio ao mais recente conflito entre STF e Câmara devido ao caso do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na semana passada, o plenário da Casa suspendeu a ação penal que corre no Supremo contra o parlamentar por tentativa de golpe. Em resposta, o STF derrubou parte da decisão da Câmara, mantendo o processo para os crimes cometidos antes da diplomação de Ramagem como deputado e excluindo apenas as acusações relacionadas aos ataques do 8 de Janeiro.
O presidente do STF Luís Roberto Barroso evitou responder Motta e disse que o STF desempenha seu papel de "interpretar a Constituição". Em declarações à imprensa após participar de painel, o ministro defendeu que a Corte age "na medida adequada" e que as relações entre os Poderes são "extremamente cordiais".
O ex-presidente Michel Temer (MDB) também criticou a "radicalização" do país. Em discurso no evento, o emedebista disse não ser contra a polarização de "ideologias", mas afirmou que a radicalização é "intolerável, ou seja, essa história de levar esta polarização, que deveria ser apenas problemática, para um campo quase pessoal, dividindo brasileiros, dividindo instituições". Temer também pediu "unidade daqueles que pensam o Brasil".
Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse que a polarização "faz mal ao país". "É chegada a hora de pacificarmos o Brasil." Ciro já defendeu publicamente a anistia para os crimes do 8 de Janeiro, principal pauta encampada por Bolsonaro, e que tem oposição do governo Lula e do STF. O tema gera atritos entre a Câmara e a Suprema Corte, que tem mandado recados ao Legislativo de que não concorda com uma anistia ampla e irrestrita.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), destacou que o fim da animosidade entre os Poderes seria importante para o desenvolvimento econômico. "Infelizmente, o Brasil tem dado sinal para fora de disputas, brigas entre as instituições. Isso, para o desenvolvimento econômico, para atração de qualquer negócio, é uma das piores coisas que podem acontecer", criticou.