Erika Hilton diz que 'esquerda burra' a vê como ameaça a ser combatida

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), 32, afirmou em entrevista publicada hoje no jornal Valor Econômico que a "esquerda burra" quer combater pessoas com potencial "porque todo mundo quer um pedaço para si". Ela vislumbrou ainda caminhos para o campo progressista e relatou ser alvo de "críticas constantes" no dia a dia de trabalho.
Críticas, pressão popular e rotina de trabalho
Deputada afirma que pessoas do seu próprio campo político a veem como uma "ameaça" e como "algo a ser combatido". Ela soma mais de 4 milhões de seguidores no X, antigo Twitter, e no Instagram e se tornou uma das principais vozes da esquerda na internet.
Ela diz que é alvo de críticas o tempo todo e que elas "não são 100% honestas". Segundo ela, muitos comentários carregam "recalque e inveja" pelo fato de ela ser uma mulher jovem, negra e travesti atuando no campo político. "Isso incomoda", disse.
Erika diz ouvir comentários negativos até dentro do PSOL. "Colegas do meu partido criticam a minha maneira de trabalho. Eles acham legal fazer reuniões extensas que não levam a lugar nenhum. Acham legal ficar o tempo todo dentro da Câmara.
Ela se vê como ameaça a várias pessoas da esquerda. "Para alguns determinados grupos dentro da esquerda, com toda certeza eu sirvo de inspiração. Mas, para outros, sou uma ameaça, algo a ser combatido. Porque roubo protagonismos hegemônicos históricos que estavam ali estabelecidos sem me preocupar com alguns códigos", afirmou a deputada, que ainda acrescentou: "A esquerda burra acaba querendo combater pessoas que tinham potencial de elevar [o alcance], porque todo mundo quer um pedaço para si. Não consegue confabular e se juntar da mesma maneira como se junta a extrema-direita."
Ruptura e atuação política
Caminho para a esquerda. Deputada afirma que, para enfrentar o momento de dificuldade, o campo ao qual pertence precisa de mais unidade e uma linguagem estética que "flua melhor" entre os colegas do mesmo espectro político. "Que a gente criasse uma rede de impulsionamento entre nós, e não uma rede de desprezo, de recalque, de ódio, de falar mal da colega porque ela é boa na comunicação", disse ao Valor.
Mulher transexual, ela atua em questões além das pautas LGBTQIA+, como a proposta do fim da escala de trabalho 6x1. A deputada começou a carreira em 2019 em um mandato coletivo na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), depois foi eleita vereadora de São Paulo e, por fim, parlamentar federal.
Desde que cheguei à política, trouxe um recado de que ela necessita ser transversal e dialogar com a sociedade. Temos uma cultura de política que é como de santidade, o político numa redoma, um ser intocável, inquestionável.
Não pode ser cafona, antiquada e distante das pessoas. Tem que ser funk, "vogue", "ballroom", moda, capoeira, "street". A política tem que ser o que são as pessoas.
Erika Hilton, deputada
Na entrevista, Erika afirma que inicialmente tentou se adequar ao universo da política. Mas, tempos depois, diz ter percebido que "aquilo não me dava nenhum status de respeitabilidade ou equidade diante daquelas pessoas".
O que eu busco é fazer com que o jovem pobre, a bicha da periferia, a travesti da esquina, esses grupos que sempre falaram que política não é para eles porque é chata, parem agora e falem: "Não, olha lá, a Erika Hilton está no horário político, então eu vou assistir. A Erika Hilton está no Parlamento brasileiro, eu vou tentar minimamente entender o que está acontecendo, talvez não pela política, mas pela Erika Hilton, que eu amo, acho diva".
Erika Hilton, deputada
Ela afirma que busca equilibrar a performance na política e nas redes sociais e diz que uma dimensão colabora com a outra. "Quando eu me torno vereadora, tenho uma eleição muito expressiva e entendo que a minha voz, para o conjunto da sociedade e do eleitor, era uma voz ouvida, que a plataforma política que eu defendia era interessante."