Ator francês Gérard Depardieu é condenado a 18 meses de prisão por agressões sexuais
O tribunal correcional de Paris condenou nesta terça-feira (13) o ator Gérard Depardieu a 18 meses de prisão, com suspensão condicional da pena, por crimes de agressão sexual contra duas mulheres durante uma filmagem em 2021. A defesa do artista anunciou que recorrrerá da decisão.
O tribunal acatou o pedido do Ministério Público de Paris e condenou Depardieu. Ele também está impedido de exercer cargos públicos durante dois anos. Além disso, o nome do ator será incluído no registro de criminosos sexuais da França.
O advogado de Depardieu, Jérémie Assous, anunciou na segunda-feira (12) que o ator estaria presente durante a leitura do veredicto, mas o ator não compareceu ao tribunal. Ele está filmando uma nova produção em Portugal com sua amiga Fanny Ardant.
Os incidentes julgados ocorreram no set do longa-metragem "Les Volets Verts", de Jean Becker, em 2021. Amélie, uma cenógrafa de 54 anos, e Sarah, uma assistente de direção de 34 anos, acusaram Depardieu de agressão e assédio sexual, além de insultos sexistas.
Gérard Depardieu, de 76 anos e com mais de 200 filmes e séries na carreira, sempre alegou inocência. "Não vejo por que eu perderia meu tempo apalpando uma mulher, seu traseiro, seus seios. Eu não sou um pervertido do metrô", afirmou durante uma das audiências do processo, no final de março.
O artista admitiu ter segurado Amélie pelos quadris "para não escorregar" de um banco durante uma discussão sobre o cenário do filme e também afirmou que pode ser "grosseiro e vulgar". "Adoro as mulheres", afirmou Depardieu que se classifica como uma pessoa "muito feminina" e que respeita a "feminidade", mas não "mulheres histéricas", referindo-se às manifestantes que protestaram diante seu espetáculo "Depardieu canta Barbara", em 2023.
Acusações das duas mulheres
A versão das denunciantes é diferente. Amélie afirmou diante do tribunal que teve os quadris "agarrados" com força pelo ator e que ele teria pedido que ela tocasse sua genitália. Sarah, por sua vez, alegou que Depardieu apalpou suas nádegas e seios em diversas ocasiões, apesar de ela ter dito claramente "não".
O tribunal correcional de Paris considerou a constância e a coerência das duas vítimas. Além disso, afirmou que as declarações do ator "evoluíram significativamente entre sua detenção provisória e as audiências.
Depardieu ainda deverá desembolsar € 4 mil (cerca de R$ 25,2 mil) a Amélie e € 2 mil (cerca de R$ 12,6 mil) a Sarah de indenização por danos morais. Além disso, terá que pagar € 1 mil (cerca de R$ 6,3 mil) a cada uma pelo prejuízo do que o tribunal considerou como "vitimização" da parte do artista.
Vítima de "perseguição"
O advogado de defesa pediu a absolvição de Depardieu que se considera vítima de "perseguição". Também qualificou Amélie e Sarah como "contadoras de histórias" a serviço de uma "organização de feministas raivosas". Durante o julgamento, Jérémie Assous tratou ambas de "mentirosas e histéricas".
"Esse reconhecimento de maus-tratos no tribunal é muito importante para nós. Espero que isso desencoraje os agressores", destacou a advogada de uma das partes civis, Carine Durrieu Diebolt. Já Amélie, única das vítimas presentes no julgamento, se declarou "aliviada" após ter atravessado uma fase que classificou de "elevador emocional".
Para o Ministério Público da França, as denunciantes eram "mulheres em situação de inferioridade social" diante de um ator com "notoriedade, aura e status monumental no cinema francês".
No entanto, várias personalidades defendem Depardieu, como as atrizes Catherine Deneuve e Charlotte Rampling. Na segunda-feira (12), Brigitte Bardot, de 90 anos, ícone do cinema francês, declarou que os homens acusados de colocar "as mãos na bunda de uma garota" deveriam poder continuar "com suas vidas".
Acusações de quase 20 mulheres
Esse é o primeiro grande processo por agressões sexuais na França com ecos do movimento #MeToo. As acusações contra Depardieu abalaram a indústria cinematográfica do país e a primeira condenação por esse tipo de crime coincide com o início do principal evento do setor: o Festival de Cannes.
Quase 20 mulheres acusaram Depardieu por agressões e assédios sexuais, mas a maioria das denúncias foi arquivada porque os supostos crimes prescreveram. A atriz francesa Charlotte Arnould foi a primeira a registrar uma denúncia. Em agosto, o Ministério Público de Paris solicitou que o ator fosse julgado por estupros denunciados por ela. Esse será o próximo julgamento que o artista enfrentará.
O movimento #MeToo para denunciar o sexismo, a violência e a misoginia no mundo do entretenimento surgiu nos Estados Unidos, mas rapidamente chegou à França, onde novos escândalos surgem com frequência. Uma comissão parlamentar do país propôs em abril quase 90 medidas para enfrentar as "violências morais, sexistas e sexuais no mundo da cultura", que considerou "sistêmicas, endêmicas e persistentes".
(RFI com agências)