Na véspera de encontro com Xi Jinping, Lula anuncia R$ 27 bilhões de investimentos chineses no Brasil
A China recebe vários líderes latino-americanos em Pequim, nesta segunda-feira (12), na véspera de um importante fórum diplomático para fortalecer relações com a região. O encontro ganha ainda mais importância em meio às tensões comerciais com os Estados Unidos. O presidente Lula faz uma visita oficial ao país, onde participa do Seminário Empresarial China-Brasil e do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). No primeiro dia de agenda em Pequim, ele anunciou uma série de investimentos chineses no Brasil que somam R$ 27 bilhões.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a Pequim no sábado (10) para uma visita de Estado de cinco dias.
Nesta segunda, Lula se encontrou com representantes de grupos empresariais chineses (GAC, Windey Technology, Envision e Norinco) que irão investir ou estudam investimentos no Brasil nas áreas de produção de carros elétricos e híbridos, energia renovável, combustível de aviação, tecnologia, defesa e segurança pública, segundo comunicado do governo.
"Em todos esses casos, os investimentos acontecem em parceria com empresas brasileiras, promovendo pesquisa, transferência de tecnologia e treinamento de mão de obra qualificada", especifica o governo. "São projetos que irão fortalecer a posição do Brasil como maior referência mundial em transição energética", continua a fonte oficial.
Ampliar os laços comerciais com a China significa mais investimentos, empregos e renda para os brasileiros.
De acordo com o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil), Jorge Viana, após um fórum entre empresários brasileiros e chineses em Pequim, os novos investimentos da China no Brasil anunciados hoje são da ordem de R$ 27 bilhões.
Dados da Apex apontam as principais parcerias:
A Great Wall Motors (GWM), uma das maiores montadoras chinesas, vai investir R$ 6 bilhões para "expansão de suas operações" no Brasil.
A plataforma chinesa de delivery Meituan, que quer atuar no Brasil com o app "Keeta" e prevê gerar até 4 mil empregos diretos e 100 mil indiretos, prometeu investimentos de R$ 5 bilhões.
A estatal chinesa de energia nuclear CGN vai investir R$ 3 bilhões para construir um "hub" de energia renovável (eólica e solar) no Piauí.
A Envision pretende investir até R$ 5 bilhões para construir um parque industrial "net-zero" (neutro em emissões de carbono) - o primeiro da América Latina.
Já a rede de bebidas e sorvetes Mixue vai investir $ 3,2 bilhões para começar a operar no Brasil, com previsão de gerar 25 mil empregos até 2030.
O grupo minerador Baiyin Nonferrous, que anunciou a compra da mina de cobre Serrote, em Alagoas, vai investir R$ 2,4 bilhões no Brasil.
Desde que retornou ao poder no início de 2023, Lula tem trabalhado para melhorar as relações do Brasil com Pequim e Washington.
Símbolo de fortes relações bilaterais, as exportações brasileiras para a China ultrapassaram US$ 94 bilhões no ano passado, segundo o banco de dados Comtrade das Nações Unidas.
Como potência agrícola na América do Sul, o Brasil exporta principalmente grãos e outras matérias-primas para a China. Commodities como soja (33,4%), petróleo bruto (21,2%) e minério de ferro (21,1%) representaram 75,7% do total exportado pelo Brasil para a China.
No ano passado, o Brasil se consolidou como o maior fornecedor de carne bovina, carne de aves, celulose e açúcar para os chineses. A diversificação da pauta exportadora é um dos objetivos do governo brasileiro, que vê potencial para exportações de proteína animal, café e produtos de maior valor agregado, como alimentos industrializados e bioenergia.
Na outra direção, a China vende semicondutores, telefones, veículos e medicamentos ao Brasil.
O presidente Lula está na China acompanhado de 11 ministros e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), além de parlamentares, outras autoridades e cerca de 200 empresários.
Na terça-feira (13), Lula deve se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping.
Antes de chegar à China, a comitiva brasileira passou pela Rússia, onde Lula se reuniu com o presidente Vladimir Putin.
China e Celac
Nos últimos anos, a China intensificou sua cooperação econômica e política com os países latino-americanos e espera que eles unam forças diante da atual campanha tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump.
Dois terços dos países latino-americanos aderiram às "Novas Rotas da Seda", o principal programa de construção de infraestrutura comercial da China, que prevê pontes, aeroportos, portos e estradas em países em desenvolvimento.
Um sinal da crescente influência do gigante asiático na América Latina: em vários países da região, como Brasil, Peru e Chile, a China suplantou os Estados Unidos como principal parceiro comercial.
Essa reaproximação será comemorada na terça-feira (13) com a abertura, em Pequim, do fórum entre a China e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), uma organização intergovernamental regional.
O encontro será uma oportunidade de avaliar as relações sino-latino-americanas, no contexto da guerra comercial lançada por Donald Trump e da pressão de Washington para conter a influência de Pequim na região.
Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, se reuniu em Pequim com seus colegas Bruno Rodríguez Parrilla, de Cuba, Yvan Gil, da Venezuela, Elmer Schialer, do Peru, e Mario Lubetkin, do Uruguai. As reuniões aconteceram em Diaoyutai, um grande complexo de edifícios oficiais, jardins e lagos onde convidados ilustres são recebidos.
Outros participantes do fórum China-CELAC são os presidentes colombiano Gustavo Petro e chileno Gabriel Boric.
Na semana passada, Gustavo Petro anunciou que assinaria, durante sua viagem à China, uma carta de intenções para que seu país se junte às "Novas Rotas da Seda".
Um elemento central da estratégia de Pequim desde 2013 para aumentar sua influência no exterior, este programa visa construir infraestrutura marítima, rodoviária e ferroviária.
O presidente Xi Jinping deve discursar na cerimônia de abertura do fórum China-CELAC na terça-feira.
Um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores da China, Miao Deyu, disse no domingo que Pequim "sempre abordou o desenvolvimento das relações China-América Latina de uma perspectiva estratégica e de longo prazo".
"Os povos da América Latina e do Caribe pretendem construir seu próprio destino, não servir de quintal para nenhum país", disse ele aos repórteres, em uma clara referência aos Estados Unidos.
Diante das tarifas dos EUA, a China está "pronta para fortalecer a comunicação e a coordenação com os países latino-americanos" para "trabalhar em conjunto contra o unilateralismo e a intimidação econômica", acrescentou.
(Com AFP)