Prometeu nada, mas entregou tudo. O resultado do 1º trimestre de 2025 do Banco Itaú (ITUB3; ITUB4) foi bem recebido pelo mercado. Analistas já esperavam bons números, mas ver uma instituição ampliando carteira de crédito, em um cenário macro desafiador, enquanto melhora ROE (retorno sobre o patrimônio líquido), reduz inadimplência e ganha eficiência, surpreendeu. "Nota 11", me disse um analista superconservador quando perguntei sobre o resultado. E o banco pode tomar espaço em cima da concorrência.
A verdade é que a disputa pela liderança entre os bancões segue acirrada. Fica difícil para o investidor escolher entre dois gigantes como Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú.
Até 2022, muito por conta da pandemia, o Itaú estava tímido. Era mais ação de valorização do que de dividendos. Mas, a partir de 2023, o Itaú acordou como aquele craque que passou um tempo apagado, mas voltou a campo decidido a golear. Hoje, dá para defini-lo como um banco com gestão estratégica, disciplina na concessão de crédito e que consegue crescer e pagar dividendos ao mesmo tempo.
"Eu não sou Itaú. Eu sou muito melhor do que o Itaú", disse o CFO do Banco do Brasil no trimestre passado. O Itaú nem respondeu. Apenas entregou um lucro de R$ 11,1 bilhões no 1º trimestre. Agora o BB vai ter que mostrar porque também merece um lugar à mesa dos líderes.
Se você quer entender os destaques do resultado e o que a gestão projeta daqui pra frente, te conto tudo nesta coluna.
As surpresas do resultado
O Itaú teve lucro líquido recorrente de R$ 11,13 bilhões no 1º TRI de 2025, alta de 13,9% frente aos R$ 9,77 bilhões do 1º trimestre de 2024. A rentabilidade medida pelo ROE alcançou 22,5%, patamar elevado mesmo com o cenário macroeconômico desafiador.
Para Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, o ROE atual reforça a consistência da rentabilidade, acima da média do setor bancário. "Quando olhamos o ROE de 25% no varejo e 29% no atacado, fica claro que o banco segue encontrando boas oportunidades em diferentes segmentos", avalia.
Manter esse ROE elevado por tanto tempo não é simples, mas o CEO Milton Maluhy Filho afirmou nesta sexta-feira (9), em coletiva de imprensa, que "a expectativa do banco é continuar entregando um ROE acima de 20% em 2025".
A carteira de crédito somou R$ 1,38 trilhão no 1º trimestre, alta de 13,2% em relação ao mesmo período de 2024. Entre os destaques, o crédito para pessoas físicas cresceu 8,6% em 12 meses, com expansão de 16,7% no crédito imobiliário, 9% em veículos e 7,8% em crédito pessoal.
Em relação ao 4º trimestre do ano passado, houve queda de 1,7%, explicada pela variação cambial e pela base de comparação mais alta do fim de ano, com aumento no uso do cartão de crédito em datas como Natal e Black Friday.
Mesmo com a expansão do crédito e juros ainda altos, a inadimplência acima de 90 dias caiu para 2,3%, com redução na criação de novos créditos problemáticos. "Forte crescimento da carteira, mas o Itaú continua focado em clientes resilientes, mesmo diante do cenário macroeconômico desafiador", afirma Marco Saravalle, sócio-fundador e analista da MSX Invest.
Esse olhar refinado para os ciclos de crédito é uma marca do banco. Maluhy destacou que a lógica segue crescer forte com clientes alinhados ao perfil do Itaú e ajustar o apetite de risco nos demais. "Essa combinação dos dois que leva a gente a um crescimento aparentemente um pouco mais baixo, mas de muita qualidade e sustentável no longo prazo", diz.
O índice de Eficiência foi de 38,1%, queda de 0,2 ponto percentual, o melhor da história do banco, mesmo com aumento de despesas. Para Chinchila, isso mostra que o Itaú opera com alavancagem operacional e forte disciplina com custos.
Crédito Consignado Privado
Um tema que gerou muitas perguntas ao CEO foi o novo crédito consignado privado. Maluhy demonstrou confiança no potencial da linha, mas reforçou o viés conservador da instituição.
A ideia inicial, segundo ele, é migrar parte dos clientes do crédito pessoal, que tem taxas mais altas, para o consignado privado, o que reduziria a carga financeira dos tomadores e a inadimplência do Itaú. "Com taxas menores, você opera com uma inadimplência menor e a margem financeira líquida fica comportada", explicou.
Maluhy também sinalizou que o Itaú pretende reduzir a exposição a clientes fora do seu público-alvo. "Queremos ter participação no mercado que acreditamos", diz. Segundo ele, pessoas de alto risco de crédito ou empresas com menor capacidade de pagamento chegaram a testar o produto, mas o banco tem priorizado quem está mais alinhado ao seu apetite de risco.
O mercado de consignado privado soma R$ 40 bilhões e o Itaú já responde por R$ 12 bilhões, ou 30%. "Vai ter uma mudança importante de ofertar crédito, especialmente para a sociedade, em preços mais competitivos, dependendo do risco do empregado e da empresa", apontou o CEO.
Itaú é crescimento + dividendos (crescidendos)
Com o lucro de R$ 11,1 bilhões e com seus fundamentos em ordem, o Itaú já está perto de bater a meta de R$ 45 bilhões em lucro para 2025, projetada por analistas. Mas qual é o destino desse dinheiro? Será que os investidores podem esperar outro dividendo robusto como em 2024?
Na visão de Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, o banco pode anunciar outro dividendo extraordinário se mantiver o ritmo nos próximos trimestres. O último, pago em março de 2025, foi de R$ 1,25 por ação, referente aos resultados de 2024.
Oliveira destaca a importância de acompanhar o Índice de Basileia e o capital principal. "Acumular capital demais pode reduzir a rentabilidade, como o ROE", observa.
O CEO do Itaú explicou ao UOL que o objetivo é remunerar os acionistas, mas também buscar oportunidades de investimento. Sobre os dividendos robustos, ele afirmou que os pagamentos são agora chamados adicionais, pois podem se repetir, enquanto extraordinários costumam ser não recorrentes.
O Itaú tem uma política clara de provisionamento de dividendos ao longo do ano, enquanto paga JCP mensais de R$ 0,0176 (tributados a 15%). No final do ano, o banco analisa riscos, planejamento e geração de capital para determinar a distribuição destes dividendos adicionais.
Maluhy também ressaltou que o Itaú não tem planos de anunciar o payout (parcela do lucro destinada a proventos) antecipadamente, como outros bancos, e deve seguir o modelo de 2024, com possibilidade de deliberar um dividendo adicional no final do ano, pago no início do ano seguinte. "Para nós, esse é o melhor planejamento para estarmos seguros", concluiu. O BB, por exemplo, antecipa todo começo do ano qual será o seu payout para dividendos no exercício.
Sobre investimentos e aquisições, Maluhy afirmou que o Itaú está aberto a oportunidades que façam sentido. "Tendo alguma oportunidade vamos mergulhar e entender se será boa para alocação de capital. Temos feito investimentos em empresas menores que estão melhorando nosso ecossistema".
Os únicos pecados do Itaú
Para Oliveira, o Itaú combina crescimento e dividendos, uma característica essencial dos bons negócios da bolsa. Ele acredita que o banco já possui as qualidades para uma política de dividendos mais recorrente e transparente. No entanto, falta ao Itaú um calendário sólido de pagamentos, como o Banco do Brasil, com o payout anunciado no início de cada ano.
"Os executivos não se comprometem com um anúncio de payout por questões estratégicas", observa Oliveira. Esse ponto de falta de transparência sobre dividendos adicionais é "pecado" do Itaú, afinal, convenhamos R$ 0,0176 mensais não empolgam.
Outro "pecado" ou dicotomia é a valorização das ações, que subiram mais de 30% em 2025, o que pode reduzir o dividend yield (retorno em dividendos). Contudo, o consenso do TradeMap sugere um possível salto de 15,80% nas ações ITUB4 até dezembro, chegando até R$ 40,90.
Está barato ou caro?
O Itaú (ITUB4) negocia a 2 vezes o preço sobre valor patrimonial (P/VP), enquanto ITUB3 a 1,76 P/VP. Para Chinchila, esse múltiplo elevado se justifica pela rentabilidade do ROE de 22,5% e pela liderança do setor. "A combinação de crescimento, resiliência e lucros fortes torna o valuation atrativo", diz.
Oliveira considera a ação barata, pois, para ele, o valor de uma ação está no pagamento recorrente e sustentável de dividendos, e o Itaú tem feito isso bem.
O que o mercado recomenda?
O Itaú segue favorito no mercado, com analistas apontando boa performance. Oliveira espera um dividend yield de 7,67% para 2025 e recomenda comprar a ação ITUB3 até R$ 31,37. Chinchila projeta dividend yield de 8% e preço-alvo de R$ 43. Já Saravalle vê a ação ITUB4 subindo até R$ 44 e um dividend yield de 9,5% para 2025, com previsão de 10,5% para 2026.
O levantamento de consenso de mercado do TradeMap revela que 9 de 10 analistas recomendam compra de ITUB4, com um preço-alvo médio de R$ 40,90 e dividend yield médio de 8,36%.
O Itaú, como sempre, não prometeu nada e entregou tudo. O Banco do Brasil que se cuide, porque a concorrência não está para brincadeira. E, parafraseando Maluhy, "A gente nunca esteve tão bem para enfrentar um desafio, seja ele qual for". Bom, o desafio agora é continuar no topo. Vou estar de olho para ver se eles conseguem sustentar essa supremacia por mais alguns anos ou se vão dar uma escorregada.