Êxodo na agência agrícola dos EUA deixa menos especialistas para combater gripe aviária
Por Leah Douglas e Tom Polansek
(Reuters) - Centenas de veterinários, equipes de apoio e trabalhadores de laboratório do braço de saúde animal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês) deixaram seus postos sob a pressão do governo Trump por demissões, disseram três fontes familiarizadas com a situação, deixando menos especialistas para responder a surtos de doenças animais.
As demissões ocorrem no momento em que o país luta contra o surto de gripe aviária mais longo de sua história e enfrenta a invasão da lagarta do Novo Mundo, praga carnívora detectada entre o gado no México.
"Com a diminuição dos cargos veterinários do USDA, existe a preocupação de que menos veterinários possam cumprir as exigências regulatórias em andamento, as investigações de doenças e o planejamento e a preparação de respostas", disse o comissário de saúde animal do Kansas, Justin Smith.
"Isso pode resultar em tempos de resposta mais lentos e menor capacidade de resposta às necessidades veterinárias locais", acrescentou.
Os preços dos ovos bateram recordes este ano depois que a gripe aviária eliminou milhões de galinhas poedeiras. Os casos diminuíram nas últimas semanas, embora especialistas alertem que os surtos podem voltar a ocorrer durante as estações migratórias de primavera e outono (no hemisfério norte) das aves selvagens que espalham o vírus.
Mais de 15.000 funcionários do USDA aceitaram o incentivo financeiro do presidente Donald Trump para pedir demissão, cerca de 15% da equipe da agência, como parte dos esforços liderados pelo bilionário Elon Musk para reduzir a força de trabalho federal.
Nesse êxodo, o Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal (APHIS, em inglês), agência que combate doenças do gado e pragas que prejudicam as plantações, perdeu 1.377 funcionários. Isso representa cerca de 16% dos funcionários do APHIS, de acordo com uma análise da Reuters de dados do Escritório Federal de Gestão de Pessoal.
Cerca de 400 dos que saíram trabalhavam no setor de Serviços Veterinários da agência, representando mais de 20% de seus 1.850 funcionários, disse uma fonte. Essa divisão trabalha nos EUA e em todo o mundo com fazendeiros para testar animais em busca de doenças e controlar sua disseminação.
A contagem inclui 13 dos 23 veterinários da área da agência que supervisionam o trabalho veterinário em todo o país, segundo gráfico de saídas de pessoal visto pela Reuters e uma fonte familiarizada com a situação.
Também estão saindo de 20% a 30% da equipe de um laboratório do USDA que faz testes de doenças animais, como a gripe aviária, disse uma segunda fonte.
Funcionários remanescentes precisam ter todas as compras acima de US$ 10.000 aprovadas pelo Departamento de Eficiência Governamental de Musk, o que pode causar um atraso de até quatro semanas, disse a fonte.
O USDA não respondeu a um pedido de comentário.
As perdas de pessoal ameaçam a capacidade do APHIS de responder à gripe aviária, que continua a infectar rebanhos leiteiros e aves, disseram três veterinários estaduais e três outras fontes.
Setenta pessoas, a maioria trabalhadores rurais, contraíram o vírus desde 2024, e uma maior disseminação aumenta o risco de que a gripe aviária torne-se mais transmissível aos seres humanos, dizem especialistas. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) afirmam que o risco de transmissão da gripe aviária para as pessoas continua baixo.
Entre outras responsabilidades, os veterinários da área podem apoiar o abate de bandos de aves infectadas e o recebimento de pagamentos por suas perdas, disse Beth Thompson, veterinária do Estado de Dakota do Sul.
"O governo federal não terá o número de pessoas necessárias para ajudar os Estados", disse Thompson, que viu o gráfico de perdas de pessoal. "É um grande problema."
Outras saídas do APHIS incluem cerca de metade de seu escritório de assuntos legislativos e públicos, com 69 pessoas, responsável pela correspondência com membros do Congresso, grupos externos e a imprensa, inclusive sobre questões como a gripe aviária, disse outra fonte.
(Reportagem de Leah Douglas, em Washington, e Tom Polansek, em Chicago)