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Com ondas da Amazônia mais fracas, surfista premiado teme impacto da mudança climática

12/05/2025 11h15

Por Sergio Queiroz, Adriano Machado e Manuela Andreoni

ARARI, Maranhão, 12 Mai (Reuters) - No coração da floresta amazônica, a força de rios caudalosos se combina com a atração da gravidade da Lua para formar ondas que se estendem por dezenas de quilômetros. O surfista brasileiro recordista Sergio Laus teme que as mudanças climáticas e a degradação ambiental signifiquem que seus dias podem estar contados.

Em uma madrugada no final de abril, com uma superlua ainda no céu, ele andou quilômetros na lama até o rio Mearim, na ponta leste da Amazônia, para surfar a maior pororoca remanescente do país e chamar atenção para o risco que ela corre de desaparecer.

As ondas lamacentas de dois metros de altura que se formavam à medida que o rio se estreitava entre os exuberantes manguezais nas margens o impressionaram, como sempre.

"Uma onda quebra e se desfaz”, disse ele, comparando com as ondas do mar. "Essa, ela continua ganhando intensidade. É um tsunami amazônico."

Mas as ondas tinham cerca de metade do tamanho das que ele via aqui anos atrás -- e eram ainda menores do que as ondas de cinco metros que ele diz ter surfado no rio Araguari, no Amapá, antes que a erosão causada pela agricultura e pelas represas próximas secasse as pororocas mais poderosas do Brasil.

“Começando a olhar umas imagens antigas, falei: caramba, olha o tamanho dessas ondas", ele disse. "Às vezes eu choro", acrescentou.

Laus, que quebrou duas vezes o recorde mundial por surfar as ondas mais longas de rio, teme que o aumento do nível do mar e as secas provocadas pelas mudanças climáticas, bem como impactos mais diretos da destruição ambiental, estejam abalando a força da natureza que ele passou anos aprendendo a surfar.

"A natureza é muito viva, ela sente cada movimento, cada interferência do ser humano”, disse ele, acrescentando que espera que a cúpula global sobre o clima que ocorrerá na cidade de Belém em novembro "traga uma nova esperança".

O nome pororoca significa estrondo na língua indígena tupi -- por causa do choque entre o oceano e o rio de onde nascem as ondas.

À medida que a Lua se aproxima da terra, alguns rios são empurrados para trás pela água do oceano levantada por sua força gravitacional. A onda aumenta conforme um rio profundo se torna raso.

Pesquisas mostram que a mudança climática tornou partes da Amazônia mais quentes e afetou os padrões de chuva que mantêm estável o volume de água em seus rios.

As comunidades próximas ao rio Mearim também notaram que o mar invadiu novas áreas, criando bancos de areia e formando mangues que bloqueiam a maré oceânica, disse Denilson Bezerra, oceanógrafo da Universidade Federal do Maranhão.

"Já sentimos o impacto na ocorrência da pororoca", declarou ele. "Mas ainda faltam estudos para estabelecer a relação de causa e efeito."

Laus já surfou pororocas na Indonésia, China, Alasca e outros lugares do mundo, e planeja continuar a procurar novas ondas ao redor da Amazônia, e também em Papua Nova Guiné e no Canadá.

"Há muitas pororocas que ninguém nunca viu", disse ele, que ainda sonha em surfar "todas as pororocas do mundo".

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