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Inflação e calor devem deixar varejo têxtil quase estagnado no Dia das Mães

Alexander Faé/Unsplash
Imagem: Alexander Faé/Unsplash
do UOL

Clara Assunção

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/05/2025 05h30

O setor de roupas, favorito dos consumidores para presentear no Dia das Mães, deve ficar quase estagnado na festa deste ano — que se dá no próximo domingo (11) — por causa da inflação, a qual vem encarecendo as peças, e do calor incomum para esta época.

Baixas expectativas

As vendas de roupas devem crescer apenas 0,8% em volume de peças em maio de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024. A previsão é de que 539,2 milhões de peças sejam comercializadas neste mês, segundo a consultoria Iemi — Inteligência de Mercado, que desenvolve estudos e pesquisas nos mercados têxtil, calçadista e moveleiro.

O desempenho do varejo têxtil no Dia das Mães tem sido errático desde a pandemia. Em maio do passado, houve uma alta de 2% nas vendas; em 2023, uma queda de 17,8%; em 2022, alta de 10,3%; em 2021, salto de 159,7%; em 2020, tombo de 58,7%. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), compilados pela Iemi.

Em faturamento, a alta prevista para maio deste ano ante igual mês de 2024 é de 4,3%, totalizando R$ 26,4 bilhões, de acordo com a Iemi. Com a recente elevação dos preços, os consumidores compram menos peças, mas gastam mais por unidade. A inflação do setor tem superado a média geral: na passagem de março para abril, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) a alta nos preços das roupas femininas acelerou de 0,55% para 1,45%, enquanto o índice geral do período caiu de 0,56% para 0,43%.

Além da inflação, outros fatores econômicos estão atrapalhando o desempenho do setor. Os juros altos, que encarecem os parcelamentos, muito comuns no varejo de moda, e os orçamentos domésticos pressionados por despesas com alimentação e serviços mantêm o consumidor cauteloso e limitam seu potencial de compras, ainda que ele tenha planos de presentear alguém no Dia das Mães. A taxa básica de juros Selic subiu nesta semana para 14,75% ao ano, maior nível desde 2006.

As vendas de roupas poderiam ser maiores se o clima estivesse mais frio. Neste ano, conforme o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o clima do país está sofrendo a influência do fenômeno La Niña, que faz com que as frentes frias passem mais rapidamente.

Se está frio, o fluxo de vendas no Dia das Mães aumenta muito, e as vitrines, os manequins, recebem os produtos mais caros, que são os produtos de proteção contra o frio. Se for um clima de outono, o fluxo e o ticket médio de gasto serão menores, e o volume de vendas ficará perto do 0,8% projetado.
Marcelo Villin Prado, diretor do Iemi

As oscilações climáticas e os eventos ambientais extremos também têm dificultado o planejamento das coleções sazonais pelas fabricantes. Segundo a Abvtex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), as marcas precisam adaptar seus ciclos de produção para evitar tanto o excesso de estoque quanto a falta de produtos adequados às condições climáticas em cada momento.

A antecipação das tendências sempre foi um fator-chave no setor, mas a imprevisibilidade climática obriga as marcas a repensar seus ciclos de produção para evitar estoques excessivos ou falta de produtos adequados às condições do tempo.
Edmundo Lima, diretor-executivo da Abvtex

Flores e cosméticos em alta

O Dia das Mães deve mobilizar cerca de 133 milhões de consumidores em 2025, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva em parceria com a empresa de questionários online QuestionPro. O levantamento indica que oito em cada dez brasileiros afirmam que pretendem comprar presentes para a data.

Roupas e cosméticos são as principais escolhas, de acordo com a pesquisa. Esses itens estão empatados em primeiro lugar na pesquisa de preferência para presentear na data: foram citados por 47% dos consumidores, que podiam mencionar mais de uma opção.

O Boticário, parte do quinto maior grupo do setor de cosméticos e produtos farmacêuticos do país, está bem otimista com o Dia das Mães. A empresa prevê um crescimento de 18% nas vendas na data, que já representa 25% do total comercializado sazonalmente pela marca, atrás apenas do Natal. Esse resultado deve ser impulsionado por uma estratégia que combina distribuição em múltiplos canais, criação de kits presenteáveis de produtos e campanhas de marketing "conectadas emocionalmente com os consumidores", segundo a companhia.

Os chocolates vêm em segundo lugar na pesquisa do Instituto Locomotiva, lembrados por 39% dos consumidores participantes. A seguir, aparecem os calçados (29%), as flores (28%), as cestas de café da manhã e os alimentos personalizados (23%), os eletrônicos (16%), os serviços de relaxamento e autocuidado (13%), e os livros (7%).

Na Giuliana Flores, maior floricultura do país, a projeção é de alta de 15% nas vendas totais. A marca espera ter um ticket médio de R$ 215 nas vendas de flores, que devem ser 70% do total, que inclui, ainda, chocolates, bichos de pelúcia e livros. A data é a mais importante do primeiro trimestre para a empresa.

Eletrodomésticos e utilidades domésticas em baixa

As vendas do Dia das Mães devem movimentar R$ 14,37 bilhões ao longo desta semana, projeta a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). O levantamento da entidade leva em conta a movimentação de todos os setores, desde vestuário, calçados e acessórios a cosméticos, utilidades domésticas e eletroeletrônicos, equipamentos de informática e comunicação, móveis, joias e produtos alimentícios, como chocolate.

Na comparação com as vendas no ano passado, a movimentação do varejo deve ter aumento de 1,9%. O número também é considerado tímido pela CNC e explicado pela alta na taxa de juros.

Informática e comunicação, móveis e eletrodomésticos e utilidades domésticas devem sofrer a maior retração. As quedas projetadas para esses setores são de, respectivamente, 2,9%, 4,4% e 6%. Os segmentos, segundo a confederação, são mais dependentes de crédito do que os demais setores varejistas.

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