Guerra na Ucrânia: tribunal proposto por europeus quer julgar a Rússia ou apenas punir Vladimir Putin?
As revistas francesas desta semana deram destaque para a mobilização de instituições europeias em prol do povo ucraniano, no momento em que um frágil cessar-fogo entre Moscou e Kiev foi estabelecido para que o governo russo organizasse as celebrações dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. As publicações noticiam a tentativa de criação de um tribunal específico enquanto alguns líderes mundiais continuam apoiando o Kremlin.
Enquanto alguns presidentes, entre eles o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, desembarcavam em Moscou para assistir ao desfile militar do "Dia da Vitória", nome dado pelo governo russo ao aniversário da derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em Lviv, na Ucrânia, o Conselho da Europa anunciava as bases para a criação de um tribunal específico para julgar a Rússia no âmbito da guerra na Ucrânia.
Mesmo que exista um Tribunal Penal Internacional, que inclusive já emitiu ordens de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, o TPI, instituição baseada em Haia, não tem jurisdição para processar a Rússia por sua decisão de invadir o território ucraniano. Mas com o estabelecimento de um novo tribunal, os principais responsáveis pelos ataques contra a Ucrânia poderão ser julgados, como informou a chefe da diplomacia Europeia, Kaja Kallas, nas páginas da revista Nouvel Obs.
A representante de Bruxelas também criticou os líderes estrangeiros que participaram da comemoração do "Dia da Vitória" na capital russa. "Se vocês são a favor da paz, deveriam estar hoje aqui na Ucrânia, não em Moscou", disse ela. "Há 80 anos, Hitler estava bombardeando a Ucrânia, e hoje, Putin está fazendo a mesma coisa", insistiu Kaja Kallas.
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A eventual criação de um tribunal específico para a Rússia pode levar tempo. Até porque, o projeto ainda esbarra na resistência dos Estados Unidos, que são contrários à iniciativa. "Essa divergência transatlântica não é insignificante", aponta, por sua vez, a revista Le Point. "Ela revela uma profunda divisão sobre a estratégia a ser adotada para lidar com a Rússia. Por um lado, os europeus acenam com a bandeira da justiça internacional e; por outro, os americanos continuam estendendo a mão da diplomacia", resume a publicação.
Mas com a criação do novo tribunal, a Europa está dando um passo decisivo em sua busca por justiça para a Ucrânia, analisa Le Point. No entanto, essa nova iniciativa do bloco, por mais louvável que seja em princípio, levanta uma questão fundamental, quase existencial: "a Europa está realmente buscando uma paz duradoura com Moscou ou apenas tentando julgar Vladimir Putin?", pergunta a revista a francesa.