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'Pegam, matam e jogam na rede': pais contestam versão da PM matar 7 jovens

Jovens estavam em carro alvejado pela polícia - Reprodução/Redes sociais
Jovens estavam em carro alvejado pela polícia Imagem: Reprodução/Redes sociais
do UOL

Jeniffer Mendonça

Colaboração para o UOL em São Paulo

10/05/2025 05h30

Familiares dos sete jovens mortos em uma ação policial em Macapá, no Amapá, no último domingo (4), contestam a versão oficial de confronto apresentada pela PM e dizem que as vítimas estão sendo injustamente criminalizadas.

O que aconteceu

Segundo parentes, o grupo foi abordado após futsal. Os jovens teriam deixado o ginásio do Trem Desportivo Clube para retornar para casa, mas foram mortos em uma abordagem policial.

Secretaria diz que houve denúncia de tráfico. Ao UOL, a Sejusp (Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública) afirmou que "a ação policial foi motivada por denúncia de tráfico de drogas e presença de indivíduos armados".

Fotos mostram que o carro dos jovens foi alvejado. Nove policiais envolvidos na ação foram afastados para garantir "isenção na investigação", disse a secretaria.

Advogada de jovens foi detida no local da ocorrência. Sandy Danielle Alexandre Araújo, que representava a família de dois irmãos mortos, foi algemada e conduzida a uma viatura. Ela diz que foi xingada de "advogada de bandido" e detida com truculência apenas por policiais homens por suposto desacato, desobediência e resistência.

A OAB-SP se manifestou sobre detenção e abordagem. O Conselho Pleno da entidade pediu a prisão e afastamento dos PMs envolvidos e a implementação de câmeras corporais pelas forças de segurança pública do Amapá.

Governador afirmou que pediu apuração rigorosa. Nas redes sociais, Clécio Luís (Solidariedade) disse lamentar "profundamente o ocorrido" e que o caso está sendo tratado "com máxima seriedade, transparência e rigor".

Procurador-geral de Justiça do Amapá designará comissão. Em comunicado à imprensa, Alexandre Monteiro disse que três promotores da área criminal vão acompanhar a apuração do caso: "É importante que não se façam julgamentos precipitados".

"Vou passar o dia das mães no cemitério"

Filho, morto na ação, avisou que estava na lanchonete. Francimar Conceição Paulo, 37, mãe do estudante Wendel Cristian da Conceição Wanderlei, de 21 anos, afirmou que, após o jogo, o filho - que havia atuado em vários clubes do estado - avisou que estava comendo um lanche. Horas depois, soube que ele havia sido baleado.

Wendel Cristian da Conceição Wanderlei ao lado da mãe - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Wendel Cristian da Conceição Wanderlei ao lado da mãe, Francimar Conceição Paulo
Imagem: Arquivo pessoal

No hospital, só soube da morte três horas depois. "Eu fiquei revoltada porque meu filho não é assassino, meu filho não é criminoso. Meu filho não é. Ele estava apenas jogando uma bola e pegou uma carona para vir embora". Ela também afirma não ter conseguido acesso ao registro da ocorrência na Polícia Civil.

Sabe qual é a minha revolta com os policiais? Por que eles não abordaram o carro e pegaram a identidade? Perdi meu filho no mês das mães, e este mês para mim era um mês tão bom? E agora, vai ser como? Dia das mães no cemitério. Francimar Conceição Paulo, mãe de estudante morto na ação

Vigilante Cleiton Ramon da Silva Pinheiro, 21, também morreu. Pai do jovem, o professor Clemil dos Santos Pinheiro, 47, diz que o filho jogava futsal de forma amadora. E que Cleiton tinha acabado de conseguir o primeiro emprego. "E agora ele deixou um filhinho de dois anos e a esposa", lamentou.

Cleiton Ramon da Silva Pinheiro - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Cleiton Ramon da Silva Pinheiro
Imagem: Arquivo Pessoal

Pais afirmam que filhos estão sendo criminalizados. "Para incriminar, é a mesma conversa batida. Eles pegam, matam, executam e depois pegam as fotos deles, jogam na rede social pra dizer que eles são os bandidos e os policiais se livrarem", diz Clemil. "Foi uma operação irregular que aconteceu ali."

Policiais foram afastados, diz Sejusp

Procurada, a pasta não confirmou os nomes de todas as vítimas e disse que um inquérito foi aberto pela Polícia Civil a fim de esclarecer os fatos.

Leia a nota na íntegra:

"Sobre ocorrência com resultado letal envolvendo ação policial em Macapá, a Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informa:

1 - A ocorrência envolvendo equipes da Polícia Militar resultou nos óbitos de sete civis na madrugada deste domingo (4), na zona norte de Macapá.

2 - Como é feito em todas as ocorrências de intervenção policial, o caso já está sendo investigado com rigor e imparcialidade pela Polícia Civil. Se forem identificados excessos ou uso desproporcional da força, o Estado tomará todas as medidas cabíveis.

3 - A ação policial foi motivada por denúncia de tráfico de drogas e presença de indivíduos armados.

4 - Um dos envolvidos, identificado como Erick Marlon Pimentel Ferreira, possuía extensa ficha criminal e era apontado como liderança do tráfico na zona norte da capital amapaense. Outros dois suspeitos ainda estão sendo identificados.

5 - A Polícia Científica realizou a perícia no local da ocorrência. O resultado deste procedimento vai compor a investigação.

6 - A Sejusp reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e a apuração dos fatos."

O UOL procurou a assessoria do Tribunal de Justiça do Amapá sobre o pedido de prisão dos PMs pela OAB-SP, mas não obteve retorno. Em caso de manifestação, este texto será atualizado.

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