Cardeal brasileiro diz que papa Leão 14 lembra Francisco: 'Jeito fraterno'
Cardeais brasileiros que participaram do conclave compartilharam suas impressões sobre a escolha do papa Leão 14. A experiência foi resumida em uma reunião de fé e fraternidade, e marcada pela universalidade da Igreja.
Entre risos e reflexões, cada cardeal fez uma breve declaração sobre o processo: "Uma celebração que não tem nada a ver com a fantasia dos filmes, mas sim com o discernimento espiritual profundo sobre o estado da Igreja e o perfil do novo Papa", resumiu dom Sérgio da Rocha. "Foi uma experiência marcada pela fé, de vida e fraternidade."
Sentados lado a lado, sob a imagem do recém-eleito papa, estiveram presentes: dom Odilo Pedro Scherer (São Paulo), dom Orani João Tempesta (Rio de Janeiro), dom Sérgio da Rocha (Salvador), Dom Paulo Cezar Costa (Brasília), Dom Leonardo Ulrich Steiner (Manaus), dom Jaime Spengler (Porto Alegre) e dom Raimundo Damasceno (Aparecida) - que não votou no conclave por ter mais de 79 anos.
Eles se reuniram para falar com a imprensa em uma das salas do Colégio Pio Brasileiro, em Roma. dom João Brás de Aviz, apesar de ter participado ao conclave, não estava presente.
'Jeito fraterno lembra muito o papa Francisco', diz cardeal
O novo pontífice, de origem americana e peruana, foi descrito como um homem simples, acolhedor e com forte ligação à América Latina. "Seu jeito fraterno lembra muito o papa Francisco", comentou dom Sérgio. "Ele traz consigo o espírito missionário que a Igreja deseja reforçar."
O mais forte para mim foi o lado humano do papa eleito. A escolha passa pelos critérios da fé, mas também por um olhar sensível ao mundo
Dom Jaime Spengler ressaltou o "caráter humano" da escolha
Consenso em menos de 24 horas, apesar de previsões de uma escolha demorada, "mostra a ação de Deus" para dom Odilo Scherer. "Mostra a universalidade da Igreja, contrariando certas narrativas. Vestimos a veste coral durante todo o conclave, como sinal de solenidade e unidade."
Já dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, lembrou a força simbólica da presença amazônica no conclave: "Vocês acham que Manaus é longe? Não é não. Até a Amazônia está aqui." Ele também destacou a diversidade cultural e geográfica como um fator que enriqueceu o processo. "Não nos conhecíamos muito, mas a fé e a missão nos uniram."
Cardeais evitaram comentar casos em que Robert Prevost foi criticado no passado por supostamente acobertar casos de abuso sexual nos EUA e no Peru. Dom Odilo pediu cautela. "É temerário carimbar uma pessoa sem saber o que foi feito de fato."
Já sobre padres casados e a bênção a casais homoafetivos, os cardeais afirmaram que são temas em discernimento. "A bênção não é sinônimo de sacramento", lembrou um deles, reiterando que a Igreja não se fecha ao diálogo.
Papa com visão global, mas ligado à América Latina
Leão 14, descreveu dom Jaime, é um homem com visão global e profundamente conectado à missão de construir pontes, como destacou em sua primeira aparição pública: "Ser farol em noites escuras".
É verdade que vivemos em um momento complexo na sociedade. A geopolítica internacional vive um momento delicadíssimo, ousaria dizer uma crise das democracias, as instituições de medicação internacional também parecem viver uma espécie de crise - ONU, OEA, entre outras. É aqui que os apóstolos são chamados a atuar. É aqui que todos nós, não só o papa, devemos atuar: ser sal da terra, luz do mundo, fermento de transformação para uma sociedade melhor para aqueles que virão depois de nós
Dom Jaime Spengler
Mas cardeais brasileiros também acreditam que a escolha de Leão 14 reforça a presença latino-americana na condução da Igreja. "A América Latina está oferecendo mais um Papa. Isso mostra a relevância crescente da nossa região", observou dom Damasceno. Ele se emocionou ao relembrar o momento em que o novo pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro: "Foi comovente ver sua simplicidade. Um homem de paz, uma paz desarmada, de convivência entre os povos."
Frente a um mundo em crise política, ambiental e de valores, os cardeais brasileiros saíram de Roma com um recado de esperança e responsabilidade: "Somos chamados a ser sal da terra."