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Lula participa do Dia da Vitória na Rússia ao lado de Putin e Xi

do UOL

Do UOL, em São Paulo

09/05/2025 00h01Atualizada em 09/05/2025 10h33

O presidente Lula (PT) participou hoje, em Moscou, da comemoração pelos 80 anos da derrota da Alemanha nazista para o exército soviético na Segunda Guerra Mundial, em 1945. Em meio ao conflito da Rússia contra a Ucrânia, o evento é marcado pela ausência de líderes de potências ocidentais.

O que aconteceu

Lula assistiu ao desfile do Dia da Vitória na Praça Vermelha, em Moscou. O governo de Vladimir Putin aproveita o 9 de Maio para demonstrar força e exibir o poder bélico russo, com desfile militar e exposição de armamentos. Segundo o Kremlin, 29 chefes de Estado estrangeiros estarão presentes, mas nem todos os nomes foram divulgados.

O convidado de maior relevo é o presidente da China, Xi Jinping. Das Américas, além de Lula, foram divulgados os nomes dos ditadores da Venezuela, Nicolás Maduro, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel.

Mas são as ausências que mais chamam atenção. Os líderes dos principais países europeus não foram à Rússia por reprovar a guerra do país contra a Ucrânia, em curso desde 2022. Apoiador do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, o governo alemão, que vetou a Rússia em suas celebrações, nem foi convidado. Lideranças do Reino Unido, da França e dos Estados Unidos, que compuseram os Aliados junto com a União Soviética, também não foram.

Veja lista de líderes mundiais que aceitaram o convite de Putin:

  • Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil)
  • Xi Jinping (China)
  • Nicolás Maduro (Venezuela)
  • Miguel Díaz-Canel (Cuba)
  • Mahmoud Abbas (Palestina)
  • Masoud Pezeshkian (Irã)
  • Tô Lâm (Vietnã)
  • Thongloun Sisoulith (Laos)
  • Aleksandr Lukashenko (Bielorrússia)
  • Aleksandar Vucic (Sérvia)
  • Robert Fico (Eslováquia)
  • Milorad Dodik (Bósnia e Herzegovina)
  • Nikol Pashinyan (Armênia)
  • Ilham Aliyev (Azerbaijão)
  • Kasym-Yomart Tokayev (Cazaquistão)
  • Sadyr Zhaparov (Quirguistão)
  • Shavkat Mirziyoyev (Uzbequistão)
  • Emomali Rahmon (Tajiquistão)
  • Serdar Berdimuhamedov (Turcomenistão)
  • Ibrahim Traoré (Burkina Faso)
  • Denis Sassou-Nguesso (República do Congo)
  • Abdelmadjid Tebboune (Argélia)
  • Abdul Fatah al-Sisi (Egito)
Comemoração do Dia da Vitória em Moscou com líderes mundiais, como o presidente Lula (na ponta esquerda) - Angelos Tzortzinis - 9.mai.2025/AFP - Angelos Tzortzinis - 9.mai.2025/AFP
Comemoração do Dia da Vitória em Moscou com líderes mundiais, como o presidente Lula (na ponta esquerda)
Imagem: Angelos Tzortzinis - 9.mai.2025/AFP

Lula terá uma reunião bilateral com Putin. O presidente tenta conquistar um papel de mediador na guerra contra a Ucrânia, mas críticos apontam que terá dificuldade em ser aceito devido ao que é visto como proximidade com Putin. Quando assumiu, o brasileiro procurou um diálogo, mas não conseguiu avançar, com resistência também de Zelensky.

Em ligação, Lula teria pedido fim da guerra. Em entrevista à revista norte-americana The New Yorker, Lula afirmou que, nas últimas semanas, conversou com Putin e pediu que ele "volte à política". "Liguei para o Putin e disse: 'Putin, acho que é hora de você voltar para a política. Coloque um fim nisso [na guerra na Ucrânia]. O mundo precisa de política, não de guerra", disse.

Na quinta-feira, o presidente e a primeira-dama, Janja, jantaram com o russo. Foi o primeiro encontro dos mandatários neste mandato de Lula. Condenado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional), Putin pode receber voz de prisão se entrar nos países signatários, inclusive o Brasil, o que tem impedido sua ida às cúpulas internacionais, como o G20 no Brasil e as assembleias da ONU (Organização das Nações Unidas).

Lula e Janja foram recebidos por Vladimir Putin para jantar oferecido pela Federação da Rússia - Ricardo Stuckert / PR - Ricardo Stuckert / PR
Lula e Janja foram recebidos por Vladimir Putin para jantar oferecido pela Federação da Rússia
Imagem: Ricardo Stuckert / PR

Para especialista, porém, tom neutro e pacificador do Brasil beneficia a Rússia. "A contradição é proposital", diz Giovana Branco, especialista em relações Brasil-Rússia pela USP (Universidade de São Paulo). "É pouco provável que o presidente Lula seja considerado para uma mediação enquanto se aproxima de Putin. Ao evitar um posicionamento, ele demonstra a sua opinião."

"Lula mostra que está traçando um caminho independente", afirma Angelo Segrillo, especialista em história da Rússia também pela USP. Ele lembra que o Dia da Vitória é uma das datas mais importantes da história russa e que a presença de lideranças internacionais era comum antes da guerra com a Ucrânia. Desta vez, Lula é minoria.

A viagem também sinaliza valorização dos Brics, grupo do qual a Rússia e a China também fazem parte. "A presença de Lula mostra que ele não quer alienar a Rússia", diz Segrillo. Para Branco, a ida de Lula ao Dia da Vitória pode ser interpretada por potências da União Europeia como "abandono" de pretensões de alianças. "Sinaliza aos países ocidentais que o Brasil decidiu se alinhar ainda mais com os Brics", afirmou.

Lula também terá uma reunião bilateral com o primeiro-ministro da Eslováquia. Polêmico, Roberto Fico é crítico da Ucrânia e flerta com práticas autocratas, com ataques às instituições em seu país. A reunião bilateral estava prevista para acontecer no Brasil em 2024 e foi reagendada após Lula ser internado para uma cirurgia de emergência.

De Moscou, o presidente segue para a China, em outro aceno aos Brics. Com Xi Jinping, Lula deve conversar sobre alternativas às tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o plano é ampliar as relações econômicas entre os países.

Ida a Moscou seria muito normal --é uma das datas mais importantes da história da Rússia. É quando se homenageia a memória dos 27 milhões de soviéticos que pereceram durante a Segunda Guerra. Contudo, nesse momento de guerra com a Ucrânia, quando líderes de países ocidentais não estão mais indo [à comemoração russa], Lula mostra que está traçando um caminho independente e que o Brasil valoriza os Brics.
Angelo Segrillo, professor de história da USP e especialista em Rússia

Em um momento de divisão global em torno do tema do conflito na Ucrânia, participar de um evento dessa magnitude para o Estado russo é uma declaração indireta de apoio. Desde o início do conflito, foram poucos os países que abertamente apoiaram os russos, e o Brasil vem mantendo uma posição de neutralidade pró-russa.
Giovana Branco, especialista em identidade russa pela USP

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