Topo
Notícias

OPINIÃO

Inflação tende a se acomodar a partir de abril, mas ainda em nível alto

do UOL

Colunista do UOL

09/05/2025 14h28

A inflação parece ter entrado numa "velocidade de cruzeiro", depois dos picos de alta e baixa em janeiro e fevereiro. A alta de preços teve um ajuste em março e continuou se acomodando em abril. A tendência é de se manter elevações mensais no nível da registrada em abril até o fim do ano. Mas a marcha da inflação mostra resistência em nível alto, no acumulado em 12 meses.

Em abril, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação avançou 0,43%, somando 2,5% no ano e subindo para 5,53%, no acumulado em 12 meses.

Rodando no nível de 5,5%

Projeções indicam que a inflação, de acordo com as variações mensais do IPCA, vai rodar em torno de 5,5% até o fim do ano, com possível exceção negativa em agosto. Naquele mês, a inflação pode subir para 0,6% e atingir alta acima de 6%, no acumulado em 12 meses.

O resumo da história é a de que não está ocorrendo — nem se prevê — descontrole de preços, mas a inflação encontrou acomodação, neste momento, em nível alto, acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,5%.

É possível contar com algum pequeno viés de baixa nessas projeções, se a cotação do dólar, cuja variação influencia conjunto relevante de preços, mantiver a trajetória de valorização do real ante a moeda americana por um período mais longo em 2025.

Pressão em serviços

Na composição da inflação de abril, os analistas destacaram o índice de dispersão, que atingiu 66,8%, acima dos 65% de março e bem acima dos 57% de abril do ano passado. O índice de dispersão mede a quantidade de itens da cesta de produtos e serviços do IPCA que registraram alta de preços no mês.

Também foram observadas pressões em bens industriais e serviços. Preços de bens industriais, como eletroeletrônicos e vestuário, ainda são afetados pelos efeitos defasados da alta na cotação do dólar, no último trimestre de 2024. A tendência, portanto, diante da prevista menor desvalorização do real ante a moeda americana, em 2025, é de que preços de bens industriais mostrem algum alívio no segundo semestre.

Serviços continuam pressionados, em reação ao aquecimento da economia. Os preços dos serviços subjacentes — uma espécie de núcleo do segmento de serviços —, em abril, aumentaram 7,7%, no acumulado em 12 meses, puxando o índice geral para cima.

De modo geral, os núcleos da inflação — medidas mais estruturais de variações de preços, desconsiderando situações típicas de um dado período (sazonais) e alterações tópicas ou inesperadas de preços — também resistem acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação. O núcleo mais sensível à política de juros, que inclui preços industriais e serviços, subiu 6,7%, em abril.

Alimentos: recuos mensais, alta no acumulado

No caso dos alimentos, conjunto sensível ao orçamento dos brasileiros, a situação é inversa, de acordo com projeções do economista Fábio Romão, especialista em acompanhamento de preços da consultoria LCA 4intellinge. Os preços dos alimentos no domicílio normalmente caem no segundo trimestre, a partir de maio, avançando até julho, já no terceiro trimestre. De alta de 1,17% em março, os preços do grupo recuaram para 0,82% em abril. Quedas (bem) mais acentuadas são esperadas para os próximos meses, quando se estima inflação mensal de alimentos no domicílio abaixo de 0,3%.

Mesmo assim, como diriam os membros do Copom (Comitê de Política Monetária), é preciso cautela na análise da marcha inflacionária dos alimentos em 2025. No acumulado em 12 meses, a inflação de alimentos pode chegar a 10%, no início do segundo semestre, recuando aos poucos, para fechar o ano, em dezembro, nas alturas de 7,5% — só um pouco abaixo da alta de 8,2% de 2024.

Notícias