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Eduardo Leite se filia ao PSD de Kassab, e PSDB pode ficar sem governador

do UOL

Do UOL, em São Paulo

09/05/2025 15h57Atualizada em 09/05/2025 20h04

Após 24 anos no PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, oficializou hoje sua saída do partido e a filiação ao PSD.

O que aconteceu

Pela primeira vez desde o início de sua carreira política, Eduardo Leite trocou de partido. A filiação ao PSD, comandada por Gilberto Kassab, foi formalizada em evento no edifício Joelma, em São Paulo, e vinha sendo costurada desde as eleições presidenciais de 2022.

Leite destacou sua identificação com o perfil do PSD. O governador do RS disse se identificar com a posição de centro defendida por integrantes da sua nova sigla. "Venho olhando para um partido que se constituiu sob a liderança do presidente Kassab, se posicionando no centro", pontuou. "Não é um centro que não se posiciona, não é ausência de posição: cada um se posiciona com respeito a quem pensa diferente."

O governador também fez críticas indiretas a práticas políticas polarizadas. "Não acredito em quem tenta aniquilar quem pensa diferente. Não é a minha forma de fazer política", afirmou. "Eu me vejo aqui por muitos anos, fazendo a política para a qual me sinto vocacionado."

Estou confiando no PSD e trazendo os anos que tenho de dedicação à política. Vejo aqui um projeto e uma visão de futuro.
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul

Mudança de sigla acompanha projeto para a presidência

O governador gaúcho não esconde a intenção de disputar a presidência, mas descartou participar de um processo interno no PSD. "Tenho convicção de que temos capacidade de decidir [entre os dirigentes]", disse.

Leite admitiu manter conversas com o governador do Paraná, Ratinho Júnior, também do PSD, sobre uma possível candidatura. "O desejo que ele tem é o mesmo que o meu. Vamos conversar sobre a melhor possibilidade contra a polarização. Tudo vai ser à base de diálogo e construção, e não com disputas."

Kassab afirmou durante o ato que Leite é um possível candidato do PSD à presidência. Ele defendeu uma candidatura própria em 2026 e disse que "Eduardo Leite e Ratinho têm muitas qualidades". No entanto, ressaltou que o partido vai priorizar o apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos) caso o governador paulista decida tentar a presidência. "Se for possível estarem todos juntos, é mais do que natural que a gente vá apoiar a candidatura dele."

Caso seja escanteado na disputa pelo Planalto, Leite admitiu se candidatar ao Senado. "A candidatura presidencial é sobre destino, como disse Tancredo Neves", comentou, acrescentando que se sente "pronto" para disputar o Planalto.

A debandada tucana

A saída de Leite intensifica a crise do PSDB. Em março, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, também migrou para o PSD, de olho no robusto fundo partidário e na maior proximidade com o presidente Lula (PT) para alavancar sua campanha à reeleição.

O PSDB começou 2025 com três governadores, dos quais só sobrou Eduardo Riedel (MS). Seu entorno, porém, afirma que ele também está em negociações com o PSD e só não deixou o atual partido ainda para não enfraquecer a negociação de fusão com o Podemos.

A debandada não é pontual. Entre 2020 e setembro de 2023, mais de 50 políticos tucanos migraram para o PSD. Nas eleições municipais de 2024, o partido sofreu perdas expressivas: em São Paulo, por exemplo, elegeu apenas 21 prefeitos, bem abaixo dos 176 de 2020.

O ex-tucano diz estar contrariado com a fusão do PSDB com o Podemos, mas votou a favor. "Mesmo fora do PSDB, continuo ao lado de todos os tucanos", afirmou Leite em um discurso de despedida. Em nota oficial, atribuiu a troca de partido a mudanças no panorama político. "As circunstâncias do cenário político e eleitoral, tanto no Rio Grande do Sul quanto no Brasil, exigem novos caminhos", disse o governador na nota publicada ontem.

O PSDB me acolheu ainda jovem, me formou politicamente e me proporcionou viver experiências únicas, que levo comigo com orgulho e responsabilidade. Foi neste partido que aprendi a fazer política com seriedade, com responsabilidade fiscal, sensibilidade social e foco na transformação concreta da vida das pessoas.
Eduardo Leite, na nota em que comunicou sua saída do PSDB

Tucanos lamentam, mas evitam confronto

O PSDB adotou tom respeitoso para tratar da saída de Leite. "A decisão foi lamentada exatamente no momento em que o PSDB está se reconstruindo para voltar a liderar um projeto nacional de centro, longe dos extremos", disse a sigla em nota, lembrando que o governador votou a favor da fusão com o Podemos pouco antes de se desfiliar.

O deputado Aécio Neves contou ao UOL que Leite seria o provável candidato à presidência pelo partido em 2026. "Lamento que neste momento de tantas incertezas, a política nacional tenha perdido um ator importante e qualificado, não acredito que o PSD vai levá-lo à disputa, pois tem outras prioridades", contou.

A saída de Eduardo Leite faz parte do custo pela escolha por Doria em 22. O PSD, legenda cujos membros merecem todo o nosso respeito, tem uma outra concepção da política e não tem dificuldades em apoiar e participar ao mesmo tempo de governos bolsonaristas e petistas. Leite não é um político que consegue ser, ao mesmo tempo, de esquerda, de centro e de direita, como é o partido ao qual acaba de se filiar.
Aécio Neves (PSDB) deputado federal

Lamento a saída do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do PSDB. De toda forma, desejo boa sorte a ele. Pode ser um fim, ou um recomeço; um ponto final, ou uma vírgula; um vale, ou uma ponte. Ainda não consigo saber.
Paulo Serra, presidente estadual do PSDB em São Paulo

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