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"A escolha de um papa com experiência na América Latina mostra que a Igreja quer dialogar com o mundo", diz especialista

09/05/2025 12h10

O cardeal Robert Francis Prevost, natural dos Estados Unidos e naturalizado peruano, foi eleito Papa Leão XIV no segundo dia do conclave. A escolha rápida e simbólica marca uma nova fase para a Igreja Católica, com referências ao legado de Francisco e um olhar voltado ao diálogo e à justiça social, segundo análise do sociólogo de Religiões, Flávio Sofiati.

A fumaça branca surgiu mais cedo do que o esperado no céu do Vaticano, em apenas dois dias de conclave, surpreendendo muitos fiéis. Os 133 cardeais elegeram o cardeal Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV como novo líder da Igreja Católica. A escolha do cardeal Robert considerada rápida, foi interpretada como sinal de articulação prévia e consenso entre os religiosos reunidos na Capela Sixtina.

"O que parece é que esse tempo a mais, com o Papa Francisco já adoentado, possibilitou as conversas e articulação dentro da Igreja para a escolha do novo pontífice", sugere Flávio Sofiati

Leão XIV é o primeiro papa agostiniano e tem uma trajetória singular: nascido em Chicago, nos Estados Unidos, viveu por décadas no Peru, primeiramente como missionário e depois como bispo de Chiclayo, noroeste do país. Ele se naturalizou peruano em 2015.  "É um papa verdadeiramente americano, porque nasceu nos Estados Unidos, mas foi naturalizado no Peru e conhece bem o que é esse continente. Mais importante do que isso, conhece o perfil da igreja latino-americana e tem conhecimento de uma lógica de igreja que é muito diferente do padrão europeu, que acabou sendo difundido pelo mundo", analisa o sociólogo das religiões e professor da Universidade Federal de Goiás, Flávio Soffiati, na entrevista à RFI.

A escolha do nome "Leão XIV" também carrega simbolismo, segundo o especialista, pois tem como referência Leão XIII, o papa que lançou a encíclica Rerum Novarum, marco da doutrina social da Igreja. Para Sofiatti, o novo papa sinaliza também que pretende seguir uma linha semelhante à de Francisco, mas com estilo próprio.

"Não sei se será uma continuidade, mas é evidente que não será um rompimento. O legado de Francisco não será um parêntese de 12 anos na Igreja. A escolha de um papa fora da Europa, com experiência na América Latina, mostra uma Igreja que quer dialogar com o mundo", frisou Sofiati.

"Pontes" e desafios

Logo após aparecer no balcão do Vaticano para uma multidão reunida na Praça de São Pedro, o novo papa fez seu primeiro discurso, destacando a construção de "pontes", a promoção do "diálogo" e pedindo que as pessoas "não tenham medo". Para Sofiati, a mensagem de paz do Papa XIV revela sua atenção com as crises globais e sua disposição de projetar a voz da Igreja na construção de uma sociedade mais justa.  

Para além das questões relacionadas aos escândalos sexuais envolvendo a Igreja nas últimas décadas, um dos grandes desafios do novo papa, segundo sociólogo, será a de transformar a estrutura da Igreja em uma estrutura missionária.

 

"O primeiro desafio é de transformar toda essa estrutura da igreja numa estrutura que sai em missão, para levar o projeto de Jesus Cristo para a sociedade. E num diálogo de pontes, como ele disse nesse primeiro discurso, de fazer pontes com as culturas, com as pessoas, e respeito com as diferenças", conclui.

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