Advogado que fez ofensas racistas contra juíza é encontrado morto no RJ

O advogado José Francisco Barbosa Abud, investigado por escrever ofensas racistas à juíza Helenice Rangel em um processo, foi encontrado morto em sua casa, na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro.
O que aconteceu
Advogado foi encontrado morto em sua residência. A causa da morte não foi revelada, mas autoridades locais informaram ao UOL que Abud já teria atentado contra a própria vida anteriormente.
OAB de Campos de Goytacazes lamentou morte. "A 12ª Subseção da OAB lamenta profundamente a sua perda e se solidariza com familiares e amigos neste momento difícil", publicaram.
"Magistrada afrodescendente com resquícios de senzala", escreveu advogado sobre juíza. Em petição oficial, Abud declarou também que a juíza poderia ter suas decisões alteradas por "recalque ou memória celular dos açoites". Em outro trecho do mesmo documento, cita "infundadas decisões prevaricadoras proferidas por bonecas admoestadas das filhas das Sinhás das casas de engenho".
Advogado também citou o médico nazista Josef Mengele. Em passagem confusa, Abud afirma que a juíza pode basear seu julgamento "em déspota infiltrado por facção criminosa denominada PCC no Supremo Tribunal Federal", que somente servirá como "cobaia da Empresa NEURALINK como nos experimentos do Sr. Josef Mengele". Não ficou imediatamente claro sobre qual ministro do STF ele se referia.
Juíza se afastou de processo após petição. Em 7 de março, Helenice Rangel pediu afastamento do processo, alegando questão de "foro íntimo". Duas semanas depois, Rangel abriu processo contra Abud por injúria.
Entidades repudiaram falas de advogado
Advogado teve "conduta incompatível com a advocacia", defende OAB-RJ. O órgão pediu cassação do registro profissional de José Francisco Abud, justificada pela atitude e pela prática de "crime infamante, que gerou comoção na sociedade". Além disso, a Corregedoria pediu suspensão preventiva das atividades do advogado.
Entidades repudiaram caso e atitude de advogado. Órgãos como a OAB (Ordem dos Advogados Brasileiros), a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro e o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) criticaram a publicação de José Francisco Abud e manifestaram solidariedade à juíza Helenice Rangel.
Além de atingir diretamente a honra e a dignidade da magistrada, as ofensas afrontam o Poder Judiciário, que busca, de forma permanente, combater o racismo estrutural e reconhece que o povo negro foi escravizado e marginalizado ao longo da história brasileira. Conselho Nacional de Justiça
A Ordem não concorda com a conduta relatada e reforça que a urbanidade e o respeito são princípios essenciais ao exercício da advocacia. Atitudes que desrespeitam a magistratura, servidores e qualquer pessoa são incompatíveis com os valores que norteiam a profissão e não condizem com a conduta esperada de advogados e advogadas. Beto Simonetti, presidente do Conselho Federal da OAB
Ministério Público recebeu denúncia sobre advogado. O MP encaminhou a representação para a Promotoria de Justiça de Investigação Penal para análise preliminar.
O UOL tentou entrar em contato com o advogado, mas nunca obteve retorno.
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