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Liberal Mark Carney é eleito primeiro-ministro do Canadá impulsionado pela rejeição dos EUA de Trump

29/04/2025 06h30

O Partido Liberal do Canadá venceu as eleições federais de segunda-feira (28), segundo projeções da Canadian Broadcasting Corporation (CBC), garantindo ao primeiro-ministro Mark Carney um mandato conquistado nas urnas apenas seis semanas após ter assumido interinamente o cargo, no lugar de Justin Trudeau.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

A vitória representa uma reviravolta notável para os liberais, impulsionada, em grande parte, por uma onda de sentimentos nacionalistas e de preocupação com a crescente hostilidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Durante a campanha, Trump ameaçou impor tarifas sobre produtos canadenses e chegou a sugerir que o Canadá deveria se tornar o "51º estado americano", o que gerou forte reação entre os eleitores e analistas políticos.

Na manhã desta segunda-feira (28) de eleições, Trump voltou a mencionar a ideia de anexação, dizendo que a "linha artificial" que separa os dois países deveria ser eliminada, considerando que isso traria "benefícios" para o Canadá.

Estreante na política, veterano em crises econômicas

Mark Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra e do Banco do Canadá, nunca havia concorrido a um cargo político antes de ser escolhido como sucessor de Trudeau no comando do Partido Liberal, em março.

Reconhecido internacionalmente por sua atuação durante a crise financeira de 2008, Carney apostou na credibilidade de seu currículo para conquistar os eleitores.

Durante a campanha, apresentou um plano econômico com foco na reinvenção da economia canadense, propondo redução de tarifas alfandegárias e apoio direto a setores em crise, como a indústria automotiva e a siderurgia ? áreas diretamente ameaçadas pelas recentes declarações de Trump.

Ameaças

Com relação às ameaças do vizinho do sul, Carney acumulou ampla experiência lidando com Donald Trump durante seu período à frente do Conselho de Estabilidade Financeira e como membro ativo do G20, temporada durante a qual ele acompanhou de perto a atuação do então presidente dos EUA.

Ao coordenar respostas globais à política econômica da primeira gestão Trump, Carney desenvolveu familiaridade com a postura confrontadora do americano ? experiência que agora reforça seu discurso firme diante da retomada de tarifas e declarações provocativas por parte de Trump.

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Recentemente, Carney comparou Donald Trump a um vilão dos livros de Harry Potter, referindo-se às declarações do presidente americano sobre transformar o Canadá no 51º estado dos EUA. Sem citar o nome diretamente, o canadense disse que essas falas eram como "comentários de Voldemort", sugerindo que eram tão ofensivas que preferia nem repeti-las.

Conservadores prometem cortes e combate ao "woke"

Do outro lado da disputa pela liderança do Canadá, o líder conservador Pierre Poilievre defendia um programa de austeridade, com cortes de impostos e de gastos públicos.

Em tom mais ideológico, criticou o que chamou de "ideologia woke" -  defende a conscientização e o combate a injustiças sociais, como o racismo, o sexismo e a desigualdade - e prometeu uma agenda de valores tradicionais.

Mas sua proposta acabou ofuscada pelas tensões bilaterais com os Estados Unidos e pela popularidade crescente de Carney entre os eleitores indecisos.

Participação recorde e contagem manual

Mais de 29 milhões de canadenses foram convocados a votar. O comparecimento foi estimulado por um número recorde de votos antecipados, com mais de 7 milhões de cédulas depositadas antes do dia da eleição.

A contagem dos votos, como é tradição no Canadá, é feita manualmente em cada seção eleitoral, com os resultados finais sendo consolidados ao longo da noite de segunda-feira.

Apesar da expectativa de que os Liberais formem um governo com maioria, o resultado oficial ainda depende da contagem de votos por correspondência e de bases militares, que podem levar mais tempo para serem apurados.

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