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Supermercados vazios e crianças nas ruas: os rastros do apagão em Lisboa

Ruas de Belém, bairro de Lisboa, após apagão que atingiu Portugal e Espanha - Fernanda Bassi/UOL
Ruas de Belém, bairro de Lisboa, após apagão que atingiu Portugal e Espanha Imagem: Fernanda Bassi/UOL
do UOL

Fernanda Bassi

Colaboração para o UOL, em Lisboa

28/04/2025 20h32

O apagão que afetou hoje a Península Ibérica provocou em Lisboa uma corrida aos mercados, com briga por garrafas de água. A procura por cerveja e por espaços abertos de lazer, por causa do calor, também foi grande. As crianças foram levadas para brincar nos parques, enquanto os adultos tentavam, sem sucesso, receber informações sobre o motivo da queda de energia ou uma previsão de retorno do serviço.

A luz acabou no fim da manhã e começou a voltar gradativamente à noite. Em muitos bairros da cidade, o blecaute durou cerca de dez horas.

O que aconteceu

Supermercados ficaram lotados. Por volta do meio-dia, a corrida por água e alimentos esvaziou as prateleiras dos estabelecimentos. Sem sistema, supermercados foram fechando as portas no decorrer do dia.

Solução foi recorrer a mercearias de bairro. Ahmed Sayem, comerciante de Bangladesh que tem um mercadinho no bairro de Belém, na capital Lisboa, disse ao UOL que já não havia água e atum nas prateleiras por volta das 13h.

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Comércios de Lisboa venderam todo o estoque de água após apagão
Imagem: Fernanda Bassi/UOL

Apagão também alavancou venda de cervejas. Já que estavam sem energia e internet, os portugueses foram curtir o dia de sol fora de casa. O calor de 26 °C fez aumentar a procura por cervejas e outras bebidas geladas, segundo Sayem.

Crianças aproveitaram falta de luz para brincar ao ar livre. A praça da Igreja da Memória, também na região de Belém, ficou lotada. Uma cena pouco usual chamou atenção das pessoas que passaram no local: as crianças estavam jogando bola e interagindo entre si, já que a internet estava fora do ar.

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Moradores de Lisboa se reuniram em parques durante o apagão na cidade
Imagem: Fernanda Bassi/UOL

"Viu, é assim que a gente fazia antigamente." Em tom de brincadeira, a brasileira Ivi Franco, 41 anos, fez o comentário a crianças que brincavam no local.

Clima é descontraído, mas há incerteza. "Não ter informação é surreal. Acho que é a pior as sensações. "Quando você está sem luz, você sai e fala com as pessoas, mas a sensação de você não saber quando vai voltar é pior, apesar de eu ser otimista e acreditar que voltará em 10h", disse Ivi ao UOL. A brasileira recorreu a um rádio de pilha para ter mais informações sobre o apagão.

Eu me precavi, avisei a minha família que estou sem luz e que devia ficar sem internet em breve. Também fui ao mercadinho perto de casa e comprei o último fardo de água. Em um supermercado aqui próximo teve gente brigando por alimento e por água
Ivi Franco, brasileira que vive em Lisboa

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Rádio de pilha virou alternativa para portugueses terem notícias sobre o apagão
Imagem: Cedido ao UOL

Causa desconhecida e falta de informação

As autoridades de Portugal e Espanha ainda não sabem o que causou o apagão. Sem previsão para um restabelecimento total, o presidente espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que nenhuma hipótese será descartada e que esta "será uma noite longa". A expectativa em Portugal é que o fornecimento seja totalmente restabelecido pela manhã, segundo a REN (REdes Energéticas Nacionais)

Informações desencontradas circularam pelas redes sociais e aplicativos de mensagem enquanto ainda havia sinal de internet. Sem acesso às redes, o tema virou assunto nas ruas.

De suposto ataque russo a falha na rede. O português Gonçalo Albino, 52 anos, contou ao UOL que, enquanto houve rede móvel, "uns diziam que era um ataque cibernético russo". Já outros, afirmavam que se tratava de "um fenômeno eletromagnético na Espanha, que tinha causado uma sobrecarga nos cabos de alta tensão e as centrais foram desligadas para não queimarem".

Entenda o apagão

Mais de 50 milhões de pessoas foram afetadas, incluindo toda a Península Ibérica e partes da França. Em Portugal, o primeiro-ministro Luis Montenegro afirmou que a origem da falha de energia ocorreu "provavelmente na Espanha". O primeiro-ministro anunciou que esta "situação grave e inédita" deve ser normalizada no país "nas próximas horas". Em vários bairros de Lisboa, a eletricidade começou a ser restabelecida, constataram jornalistas da AFP e moradores ouvidos por telefone.

A energia caiu por volta das 12h no horário local, 7h em Brasília, e interrompeu uma série de serviços. Estações de metro na Espanha e em Portugal foram evacuadas, semáforos pararam de funcionar e o trânsito entrou em estado de caos, segundo relatou a imprensa ibérica.

Companhia aéreas relataram problemas em aeroportos.Controladores disseram que o tráfego aéreo foi afetado e aviões sumiram do monitoramento das rotas europeias após se desconectarem da rede. Passageiros foram orientados a não irem aos aeroportos.

Problemas nas telecomunicações. Redes telefônicas foram afetadas, com serviços de mensagens e ligações operando com metade da velocidade.

Os governos de Portugal e Espanha convocaram reuniões de emergência. A Comissão Europeia disse estar em contato com as autoridades e operadores para compreender a causa e o impacto do corte maciço no abastecimento elétrico na Península Ibérica.

A península tem sua energia conectada por cabos terrestres, que fornecem energia para boa parte da Europa. Em caso de interrupção em algum dos países a Oeste, a probabilidade de que o país vizinho tenha problemas é grande.

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