O que aconteceu com os envolvidos no escândalo de impeachment de Collor?

Agora preso por outro esquema de corrupção, o então presidente Fernando Collor de Mello abriu mão de seu cargo em 29 de dezembro de 1992, dois meses após o início do seu processo de impeachment por crime de responsabilidade, como uma manobra para tentar impedir a cassação de seus direitos políticos por oito anos. Sua renúncia não evitou o processo no Congresso Nacional, que o tornou inelegível.
O trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito só começou após uma denúncia feita pelo seu próprio irmão, Pedro Collor, à revista Veja. Na entrevista, ele acusava Fernando Collor de realizar operações financeiras ilegais por meio de PC Farias, seu "testa de ferro".
Quem foram os envolvidos no impeachment?
Pedro Collor
O empresário que comandava a Organização Arnon de Mello, um dos maiores grupos de mídia do Nordeste, escreveu um livro após a denúncia para a Veja, "Passando a limpo - A trajetória de um farsante", ainda em 1992. Na obra, ele detalhava como Fernando e PC Farias criavam sociedades informais em esquemas de propinas, além de terem planejado criar um grupo de mídia paralelo que concorreria com os negócios da família.
Ele ainda conta bastidores do comportamento do irmão, como suposto consumo de álcool e drogas. Pedro Collor morreu de câncer dois anos depois. Ele teve um melanoma que se espalhou para o cérebro.
Thereza Collor
Conhecida como a "musa do impeachment", a então esposa de Pedro Collor teria sido um dos motivos da crise entre os irmãos. Na entrevista à Veja, Pedro sugere que Fernando se interessava pela cunhada e tentou aproveitar de um momento de crise no casamento dos dois em 1987 para se aproximar dela, chegando a avisar Pedro de que ela iria pedir a separação. Ele ainda afirmou que podia provar isso, já que havia registros telefônicos do palácio do governo de Alagoas com ligações do então governador Collor para Thereza, que estava em Paris.
Anos mais tarde, a ex-primeira-dama Rosane Malta (ex-Collor) afirmou à revista Marie Claire que acreditava que era Thereza quem se interessava por Collor e não o contrário. Após o impeachment e a morte de Pedro Collor, ela foi Secretária Estadual do Turismo em Alagoas, entre 1995 e 1999, além de ter se estabelecido como designer de joias. Em 2001, casou-se novamente com o empresário da construção civil Gustavo Halbreich.
Em 2018, disputou eleição para deputada federal em São Paulo pelo PSDB, mas ficou com a suplência. Ela voltou a fazer campanha ao lado de Collor em 2024, para eleger o filho Fernando Lyra Collor como vereador em Maceió. Ele não conseguiu o cargo e acabou como suplente.
Rosane Malta
A ex-mulher de Collor teve seu nome envolvido no esquema da LBA (Legião Brasileira de Assistência), entidade que comandava como primeira-dama. As cestas básicas, leite e outros recursos para famílias no Nordeste, segundo reportagem do Jornal do Brasil à época, teriam sido superfaturados e o dinheiro, desviado para favorecer familiares de Rosane.
Ela deixou a organização em 1991, e Collor passou a aparecer sem aliança em alguns eventos. Rosane foi condenada em primeira instância na Justiça por corrupção ativa e passiva no esquema da LBA em 2000, mas acabou absolvida pelo STF. O casamento com o ex-presidente se desgastaria anos depois e, em 2005, eles se separaram de forma repentina. Collor teria encaixotado os pertences de Rosane e mandado entregar a ela em uma das residências onde viveram; os dois entraram em uma disputa por pensão na Justiça por anos.
Depois do divórcio, ela escreveu um livro em que narra sua vida com Collor, "Tudo o que Vi e Vivi" (2014), e falou publicamente de supostos rituais de magia negra feitos pelo ex-presidente na Casa da Dinda, onde viviam em Brasília, além de sua crença de que o interesse de Thereza por Fernando (devido a um affair entre eles anterior ao seu casamento) tivesse sido o motivo da denúncia de Pedro. Ela ainda se candidatou a deputada estadual de Alagoas em 2018, mas não foi eleita.
PC Farias
O tesoureiro de campanha de Collor —e seu "testa de ferro" em esquemas de corrupção, segundo Pedro Collor— foi encontrado morto a tiros ao lado da namorada, Suzana Marcolino, em uma casa na praia de Guaxuma, em Maceió, em 1996. A análise do legista Badan Palhares apontou, à época, que Suzana matou PC e se suicidou em seguida e, por isso, o crime foi considerado oficialmente "passional".
No entanto, outros especialistas como o legista George Sanguineti e o perito Ricardo Molina Figueiredo consideraram que o casal teria sido assassinado, em uma possível queima de arquivo, por uma terceira pessoa, devido a possíveis discrepâncias no laudo, que ignorava a altura de Suzana. As investigações continuaram e, em 1999, o irmão de PC, o então deputado federal Augusto Farias, foi indiciado como autor intelectual do crime. O caso, porém, acabou arquivado.
Além dele, quatro PMs e ex-seguranças de PC também acabaram denunciados, mas foram considerados inocentes pelo STF em 2013. Não há resolução definitiva para o crime até hoje.
Eriberto França
O ex-motorista da secretária de Collor, Ana Acioli, ficou famoso ao depor na CPI que levou à queda do presidente, em 1992. Ele revelou que, como "faz-tudo" de Ana, pagava contas da Casa da Dinda, fazia depósitos nas contas de parentes do então presidente e pagava os gastos da primeira-dama com dinheiro enviado por PC Farias. Os montantes vinham de pagamento de propinas e desvios dos cofres públicos para contas em nome da secretária.
Foi Eriberto quem comprou o famoso Fiat Elba, carro usado por Rosane Collor, que virou prova do esquema de PC Farias. "Eu comprei, né, com o cheque", recordou à Folha de S.Paulo em 2012. "Era muita roubalheira, nunca transportei tanto dinheiro". Ele ainda chegou a afirmar que nunca contou tudo o que sabia, por medo de morrer, embora tenha ficado famoso por sua entrevista que o levou à capa da Istoé.
Após o depoimento, Eriberto pediu demissão da Radiobrás e ficou desempregado, segundo o jornal Correio Braziliense. Ele passou a vender toalhas bordadas nas ruas de Brasília, passou apertos até conseguir um emprego no Ministério dos Transportes em 1995, onde ficou até o fim do governo FHC. Teria sido sondado para ingressar na política, mas rejeitou. Segundo a revista local 61 Brasília, está aposentado.
Luís Costa Pinto
O ex-jornalista da Veja continuou cobrindo a política nacional. Atualmente, ele mantém o site e canal no Youtube Plataforma Brasília e se dedica ao podcast em série "Trapaça - A Guerra dos Collor", que detalha os bastidores do impeachment de Collor e a relação entre os irmãos Pedro e Fernando.